UM RECADO AOS PAIS, AMIGOS E FAMILIARES: A DROGA ENTRA NA VIDA DE UM USUÁRIO PORQUE ALGO LHES FALTA. ONDE TUDO ISSO COMEÇA?
Trabalhar a recuperação de um dependente requer aceitar o fato de que essa problemática alcança não só as fronteiras sociais, mas exige um movimento muito intenso daqueles que estão envolvidos diretamente com os usuários. Podemos traçar o perfil de um dependente, tomando como base as diversas fases ou níveis de consumo. Quando se começa a utilizar uma droga, esse uso está voltado ao nível de limite moral e educacional, obviamente instituído pela família e posteriormente pelo meio. O usuário vai começar a corromper a lei por uma droga em que ele pode dar conta e ter acesso com menos dificuldade. Por exemplo, se uma família não tem hábitos de beber e fumar, provavelmente o jovem vai infringir primeiro essa lei. Só depois que se sentir à vontade – quando for reconhecido no meio e isso se tornar algo permissivo – é que irá buscar outras opções. Esta é uma das razões pela qual geralmente o consumidor inicia seu consumo ilegal pela maconha.
Geralmente essa vivência acontece na adolescência, onde naturalmente os jovens estão propícios ao desafio, estão impulsionados aos experimentos e passam por mudanças, para eles, estranhas, inclusive de corpo. Estão transitando por diversos grupos, onde serão aceitos com naturalidade (por amigos de infância, da mesma rua em que cresceram juntos); ou terão que se esforçar para participar (alunos de escola que tiram boas notas); ou ainda terão que se sacrificar para se sentir incluído (colegas que a princípio costumam ser diferentes no jeito de pensar e agir da grande maioria).
Para estarmos em um grupo precisamos nos adequar a ele. Se fizermos parte de um grupo de coral, por exemplo, precisamos nos definir neste grupo. Depois de nos identificarmos com ele, precisaremos ficar atentos às regras, ou seja, dia e horário de ensaios, exercício vocal, maneira de vestir para apresentação, e o principal: ser reconhecido dentro e fora do grupo como um componente do mesmo. Não é assim que funciona?
Dessa forma, o jovem se engaja em seus diversos grupos, adequando-se às suas regras. Na medida em que vai adentrando em grupos que tendenciam ao uso de substâncias psicoativas, consequentemente os outros grupos do qual faz parte – familiares ou amigos de escola – percebendo sua mudança, vão questionar, pois uma vez que se aproximam mais de um grupo, evidentemente se distanciam de outros. A partir de então ele fará escolhas, pois os grupos têm idéias e maneiras de pensar e agir diferentes. Precisará abraçar a uns e romper com outros. Essa decisão dependerá de outras questões.
Este é um lado da situação, o lado que se apresenta na prática do dia-a-dia, onde começa a história de um consumidor de álcool, de cigarros, de maconha e de outras drogas ilegais. O outro lado é o que vai permitir que ele tome a decisão acertada sobre quais grupos deve fazer-se participante. O que vai pesar em sua decisão é a maneira como foi envolvido nos demais grupos anteriores, como foi acolhido nas dificuldades, como foi traçado o limite em respeitar as leis do grupo, como foi responsabilizado pelos atos inadequados, como foi reconhecido pelas boas ações e o que lhe foi ensinado a respeito de dever e compromisso, ou seja, sobre o seu papel dentro do grupo.
Quando uma pessoa se sente parte de grupo, mesmo que transite por outros, ela terá o seu grupo de referência, onde buscará reforço nas dificuldades, conselho para as dúvidas, aconchego para a solidão e conforto para a desilusão. Esse pequeno grupo é a base de todo ser humano. Mesmo que não tenha uma estrutura fortalecida no amor, nunca é tarde para exercitá-lo. É possível que o uso das drogas seja um pedido gritante de socorro daqueles que talvez não conheçam outra forma de chamar a nossa atenção.
Muitos imprevistos e dificuldades acontecem em nosso dia-a-dia, e é mais fácil deixarmos de lado o que temos que fazer, colocando as nossas dificuldades sobre a responsabilidade de outros, do que tomarmos as rédeas da situação. Contudo, é preciso acontecer uma renovação e não há como exigir que pessoas mudem, se a mudança não começar por nós mesmos. É preciso mudar o modo de pensar. Perdoar e pedir perdão. É preciso ter coragem, reconhecer falhas, abrir mão do conforto dos braços cruzados. É preciso dobrar as mangas, erguer o fardo, suar. É preciso chorar, se redimir, se renovar. É preciso ensinar o caminho. Mas, para isso, é fundamental aprendermos o caminho.