Avançamos esta semana mais um passo da nossa sobriedade. Cada um desses passos exige de nós um desafio que vai se tornando cada vez maior. Cada um deles requer um desafio diferente, e recordando o primeiro passo, que foi ADMITIR, podemos perceber o quanto ele é importante para nossa caminhada. Sem ele não temos como chegar a nenhum outro. É com o passo admitir que nos propomos a reconhecer o quanto precisamos mudar a nossa maneira de ser. E quando a gente se dá conta de que essa mudança é necessária, vamos alcançando mais um passo que é o CONFIAR. Nesse momento é preciso acreditar que a mudança é possível, confiar na proposta que o Senhor tem para nos dar, basta que a gente abrace esse novo projeto. E aceite que Deus nos molde, que sejamos a Sua obra.
Muitas vezes falar parece fácil, mas na hora de praticar torna-se difícil e é por isso que a gente deve caminhar mais um passo, que é o da ENTREGA. Neste passo devemos colocar nas mãos do Senhor todos os nossos anseios e dores, nossas dificuldades, nossas dúvidas, sempre confiantes que Ele nos apontará uma solução, se estivermos atentos ao que procuramos verdadeiramente: a SOBRIEDADE dos nossos vícios e pecados. Nada poderá ser alcançado se também não estivermos fazendo a nossa parte.
Nessa proposta de mudança é que vamos reconhecendo o quanto erramos, o quanto deixamos de fazer por nós mesmos, o quanto deixamos de amar, o quanto repetimos nossas falhas, o quanto apontamos os erros dos outros, o quanto julgamos sem medida. É o momento de ARREPENDER-SE, para que possamos fazer parte do reino. Devo lembrar que o arrependimento deve ser profundo e de coração. Se continuarmos a repetir os mesmos erros é porque o passo arrepender-se não foi bem elaborado em nosso coração. É preciso avaliar o que nos impede de sermos verdadeiros. E nesta luta, neste desafio, nos lançamos a mais um passo que é o CONFESSAR. O passo confessar nos chama a um desafio ainda maior, que é romper com a máscara do que queremos nos apresentar para viver o que realmente somos.
Criamos um abismo que nós mesmos produzimos que são: orgulho, humilhações, violências, cobiças, mentiras, hipocrisia, imundices, superficialidades, embriaguez de todo tipo (pode-se estar ébrio não só de álcool ou de drogas, mas também da própria beleza, da própria arrogância, cheios de si mesmo, que é a pior embriaguez!). Chega um momento em que todos sentem a necessidade de abrir o coração e admitir-se pecador, pois já não suporta passar pelo próprio julgo. Mas, teme cair num julgamento ainda mais pesaroso, por não se dar conta que a forma como Deus nos interpreta é completamente diferente da forma como nós julgamos. Nós temos a capacidade não só de fazermos julgamentos de nós mesmos. Nós temos grande habilidade em julgar os outros. Deus não nos avalia pelos nossos pecados, mas nos reconhece e perdoa pelo tamanho do nosso arrependimento. Quanto mais intenso e sincero for o nosso arrependimento, maior é o nosso perdão.
Confessar significa mostrar o quanto o nosso coração está dilacerado. Confessar significa dizer que fomos nós mesmos que dilaceramos o nosso coração. Fomos nós que agimos contra o nosso próprio ser. Fomos nós que denegrimos a nós mesmos e falar sobre isso é muito vergonhoso, pois que ser que se ama faria isso a si mesmo?
Por natureza o ser humano tem dificuldade de enfrentar seus erros. Ninguém gosta de se sentir culpado. O problema do ser humano é sempre o mesmo. Ninguém gosta de ser flagrado. Ninguém gosta de ser responsabilizado. E para isso usa todos os meios possíveis para escapar. Um deles é a droga. A droga permite que as pessoas fujam de si mesmas e se localizem num lugar aonde não venham se sentir atiçadas pelo coração, pela urgência de fazer algo por si para que possa se livrar de tamanha dor.
Aquele que consome qualquer tipo de droga se dá conta que ela o leva a um estado de ausência de si mesmo e nessa ausência não precisa enfrentar quem realmente é e o que precisa fazer para sair da condição de “sem valor”, pois é assim que se sente, desvalorizado. A droga se instala na vida de uma pessoa por duas principais razões: primeiro porque ela se rejeita e acredita que o mundo ao seu redor a rejeita também e segundo porque ela encontrou um meio de fugir de toda essa dor sem muito esforço. Contudo, sempre retorna à realidade e daí a razão da reincidência do consumo, não importando as consequências.
As pessoas que se drogam não sentem o peso do pecado. É como se ao carregar um balde de água sentisse o seu peso, mas quando se mergulha em uma piscina cheia de água já não sente mais a dimensão. Assim é aquele que vive mergulhado no pecado, já não o sente mais. Nós dependentes, pecadores, viciados em tornar a repetir os mesmo erros, precisamos de alguém que nos acolha, que nos escute e nos dê um sentido, um rumo certo para nossas vidas, mostrando Jesus, o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.
A nossa verdade não é aquela que muitas vezes apresentamos aos outros, mas aquela de que fala o nosso coração. Muitas vezes o nosso coração está cheio, transbordando até, e não colocamos pra fora. Hoje em dia muitas pessoas afirmam que não praticam a confissão porque se o perdão vem de Deus, não precisam se confessar. Apenas em oração isso fica resolvido. Quem já não ouviu essa fala? Mas tenham cuidado com esse discurso, pois aquele que assim se coloca, também está dizendo que Deus sabe de si e sabe que ele não se arrependeu. Assim não precisa reparar nenhum mal.
Quando nos confessamos, precisamos abrir a nossa boca e dizer com todas as letras o mal que cometemos. E quando a gente fala a gente se ouve e quando fazemos isso estamos acusando a nós mesmos, apontando em nós nossos erros. Por isso que é tão difícil. Quando a gente faz da confissão uma prática constante é como se fôssemos um vaso tampado com cera e fosse muito difícil colocar para fora tudo aquilo que temos dentro de nós, mas, uma vez arrancado esse tampão, colocar para fora o que nosso coração está cheio se torna uma prática mais simples, mais suave, menos difícil.
Podemos compreender o papel do sacerdote como o espelho. Ele é apenas um instrumento para auxiliar no nosso propósito de trabalharmos em nós mesmos sobre a necessidade de termos que nos colocar diante de Deus como somos realmente. Deus será então aquele que nos olha diretamente nos olhos, ou melhor, ele atravessará nossos olhos e alcançará o nosso coração.
À medida que nos esvaziamos, vamos sentindo o nosso coração mais leve. E se ainda não ficou leve o suficiente é porque o nosso arrependimento foi parcial. Precisamos retomar e rever as verdades do nosso coração. Essa prática requer esforço e coragem, mas uma vez sentindo nossos pecados perdoados, duas mudanças radicais se darão em nós: ao nos sentirmos mais leves, vamos buscar pedir perdão ou perdoar pela culpa, agora já dissolvida em nosso coração. E a outra, é que dificilmente cairemos novamente nesse mesmo deslize.
A confissão é um sacramento de cura, de libertação. Quando abrimos o nosso coração para Deus, quando reconhecemos nossos pecados, quando nos apresentamos verdadeiramente arrependidos, Deus em sua infinita misericórdia já esqueceu, fazendo de nós uma pessoa purificada daqueles erros. Não somos perfeitos, mas todas as vezes que nos confessamos, buscamos aperfeiçoar o nosso caminho para estarmos mais próximos ao Pai. E essa busca nos leva à cura dos nossos males.
Texto:Malena Andrade, psicóloga assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau
Imagens: Pe. Raul Kestring