Dois meses se passaram desde a eleição de Francisco e seu jeito peculiar de se relacionar com o público está surpreendendo o mundo, seja por suas palavras, seja pelos seus gestos. A radicalização com que prega a necessidade de se viver o evangelho impressiona tanto a grandes como a pequenos. Antes do início das cerimônias na Santa Sé, observa-se o manifesto desejo do Papa de abraçar a todos os que vão ao Vaticano, tanto aqueles que desejam satisfazer a curiosidade de conhecer o pontífice, quanto os que desejam ser confirmados na sua fé pelo sucessor de Pedro. Esses episódios levam Francisco a dedicar muito tempo a distribuir abraços, carinho e sorrisos, sobretudo às crianças.
As atitudes e gestos do Sumo Pontífice demonstram que ele não sente medo de se comunicar com o povo cristão. Francisco não teme que a imagem sacralizada do Papa venha a ser prejudicada, ao demonstrar sua sensibilidade para com os sofredores e manifestar a ternura e o amor de Deus Pai para com a humanidade, com os aflitos, os excluídos e os mais humildes.
Atento aos sinais dos tempos, o Papa quer que a Igreja se despoje para se colocar no nível dos mais fracos. Como Bento XVI lembrava, não é de triunfalismos que a Igreja precisa hoje, mas de autenticidade. Para nos indicar que essa é a meta, isto é, demonstrar o nosso testemunho, Francisco usa termos fortes, quando, por exemplo, fala do valor da vida, condenando as chagas sociais, como abusos sexuais contra indefesos, e a realidade socioeconômica cruel, onde se verifica a má distribuição de bens e rendas, enriquecendo alguns, em detrimento de parte da humanidade.
Em um tempo em que há dificuldade para reconhecer um líder verdadeiro, o Francisco chega para preencher este vazio. Impressiona ver como ele agrada mesmo a parte da sociedade mais laica, sem muito contato com questões religiosas. Francisco nos surpreende, outra vez, quando incita o povo que o aplaude a não dizer “Francisco”, mas a gritar forte: “Jesus, Jesus”.
DOM JOSÉ NEGRI|Bispo de Blumenau