(Rádio Vaticano, 20/06/2013) – O cristianismo não é uma "casuística" de preceitos: esta concepção impede de compreender e viver que Deus é alegria e magnanimidade, reiterou o Papa Francisco na Missa celebrada na manhã da quarta-feira 19 de Junho, na Casa S. Marta. No altar juntamente com o Papa estavam o Cardeal Marc Ouellet e o Arcebispo Lorenzo Baldisseri, respectivamente Prefeito e Secretário da Congregação para os Bispos, acompanhados por um grupo de colaboradores; e o presidente e secretário do Conselho Pontifício para a Família, o Arcebispo Vincenzo Paglia e Jean Laffitte, também eles acompanhados pelo pessoal do dicastério.
Os hipócritas que "levam o povo de Deus a uma estrada sem saída": são eles os protagonistas do Evangelho de hoje e da homilia do Papa Francisco. O Papa faz a sua reflexão sobre a famosa passagem de S. Mateus que apresenta o contraste entre o comportamento dos escribas e fariseus – que se exibem em público, quando fazem a esmola, a oração e o jejum – e aquilo que, pelo contrário, Jesus indica aos discípulos como a atitude certa a tomar nas mesmas circunstâncias, ou seja, o "segredo", a discrição apreciada e recompensada por Deus. Em particular, para além da vaidade dos escribas e fariseus, o Papa Francisco estigmatiza o hábito que têm de impor aos fiéis "muitos preceitos". E os define "hipócritas da casuística", "intelectuais sem talento", que "não têm a inteligência para encontrar Deus, e explicar Deus com inteligência", e fazendo assim impedem a si próprios e aos outros de entrar no Reino de Deus:
"Jesus o diz: "Nem entrais vós e nem deixais que os outros entrem”. São moralistas sem bondade, não sabem o que é a bondade. Mas sim, são especialistas em ética, hein? "Deve-se fazer isto, e isto, e aquilo …' Enchem-te de preceitos, mas sem bondade. E aqueles dos filactérios que vestem tantos tecidos, tantas coisas, para fingirem um pouco de "ser majestosos, perfeitos, não têm o sentido da beleza. Eles não têm o sentido da beleza. Chegam apenas a uma beleza para o museu. Intelectuais sem talento, moralistas sem bondade, portadores de beleza para museu. Estes são os hipócritas, aos quais Jesus repreende muito".
"Mas isso não termina aqui", continua o Papa Francisco. "No Evangelho de hoje – observa ele – o Senhor fala de uma outra classe de hipócritas, aqueles que vão para o sagrado":
"O Senhor fala do jejum, da oração, da esmola: os três pilares da piedade cristã, da conversão interior, que a Igreja propõe a todos nós durante a Quaresma. Também nesta estrada estão os hipócritas, que se ostentam quando fazem jejum, dão esmola, e rezam. Eu penso que quando a hipocrisia chega a esse ponto no relacionamento com Deus, estamos bastante perto do pecado contra o Espírito Santo. Estes não sabem da beleza, não sabem do amor, não sabem da verdade: são pequenos, mesquinhos".
"Pensemos na hipocrisia dentro da Igreja: quanto mal nos faz a todos”, reconhece com franqueza o Papa Francisco que, pelo contrário, indica como "ícone" para imitar um personagem descrito numa outra passagem do Evangelho. Trata-se do publicano que com humilde simplicidade reza dizendo: "tem piedade de mim, Senhor, que sou pecador". "Esta – disse o Papa – é a oração que todos devemos fazer todos os dias, sabendo que somos pecadores", mas "com pecados concretos, não teóricos". E é esta oração, conclui o Papa, que nos ajudará a percorrer a "estrada contrária" à hipocrisia, uma tentação – nos lembra o Papa Francisco – que "todos nós temos":
"Mas todos nós temos também a graça, a graça que vem de Jesus Cristo: a graça da alegria; a graça da magnanimidade, da generosidade. O hipócrita não sabe o que é a alegria, não sabe o que é a generosidade, não sabe o que é a magnanimidade".