Cidade do Vaticano (Rádio Vaticano, 29/12/2012) – Um ano vivido intensa e corajosamente. Em 2012, Bento XVI realizou duas viagens internacionais: a primeira, ao México e Cuba, e a segunda, ao Líbano. Fez quatro visitas à Itália, entre as quais às vítimas do terremoto da região da Emilia Romagna.
Participou do Encontro Mundial da Família, realizado em Milão, abriu o Ano da Fé e presidiu o Sínodo dos Bispos dedicado à nova evangelização. Ademais, o Papa aderiu ao Twitter e publicou o terceiro e último volume sobre a figura de Jesus de Nazaré.
Fé, família e paz foram alguns dos temas comumente mais presentes em seu Magistério neste ano que viu também um forte compromisso seu em favor da transparência no Vaticano.
Pastor manso, firme e corajoso. Em 2012, um ano particularmente intenso também em nível pessoal, Bento XVI enfrentou com decisão os desafios apresentados para a vida da Igreja, ad intra e ad extra.
A começar por suas viagens internacionais, que dão novamente esperança às populações encontradas. Em março, o Pontífice voltou ao subcontinente latino-americano, visitando o México e Cuba.
Em terra mexicana – com tons que recordam o apelo de João Paulo II contra a máfia, em Agrigento, sul da Itália – denunciou a violência, a corrupção e o narcotráfico. Em terra cubana, ao invés, pediu coragem às autoridades de Havana e da comunidade internacional:
"Cuba e o mundo precisam de mudanças, mas elas existirão" somente se cada um se interrogar sobre a verdade e "se decidir a tomar o caminho do amor, semeando reconciliação e fraternidade."
E justamente no signo da reconciliação deu-se a histórica viagem apostólica ao Líbano, em setembro. Numa região dilacerada pela violência, com a Síria martirizada com a guerra civil, o Santo Padre fez-se peregrino de paz. Foi marcante o encontro de Bento XVI com os jovens sírios, cristãos e muçulmanos, aos quais dedicou palavras de coragem e esperança:
"É preciso que todo o Oriente Médio, olhando para vocês, compreenda que os muçulmanos e os cristãos, o Islã e o Cristianismo, podem viver juntos sem ódio, no respeito pelo credo de cada um, para construir juntos uma sociedade livre e humana."
A visita ao Líbano abraçou idealmente toda a região. De fato, o motivo da visita foi a entrega da Exortação apostólica pós-sinodal "Ecclesia in Medio Oriente", fruto do Sínodo dos Bispos médio-orientais realizado no Vaticano em outubro de 2010.
Este ano, ao invés, foi a vez da XIII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, cuja edição foi dedicada à nova evangelização. Trata-se de um tema particularmente importante para Bento XVI que, para enfrentar esse desafio pastoral imperioso para a Igreja, criou um dicastério ad hoc.
O Papa reiterou com veemência que a Igreja "existe para evangelizar" e que todos os batizados são chamados ao compromisso da evangelização:
"Todos os homens têm o direito de conhecer Jesus Cristo e o seu Evangelho; e a isso corresponde o dever dos cristãos, de todos os cristãos – sacerdotes, religiosos e leigos –, de anunciar a Boa Notícia." (Missa de encerramento do Sínodo, 28 de outubro de 2012)
O Ano da Fé – convocado por Bento XVI no quinquagésimo aniversário de abertura do Concílio Vaticano II e no vigésimo aniversário de promulgação do Catecismo da Igreja Católica – está ligado ao tema da nova evangelização.
E na visita ao Santuário de Loreto, nas pegadas de João XXIII, o Papa confiou este Ano da Fé a Maria. "Se hoje a Igreja propõe um Ano da Fé e a nova evangelização, não é para honrar uma data, mas porque é necessário fazê-lo, mais ainda do que 50 anos atrás!", afirmou o Pontífice.
E ressaltou que a Igreja é chamada a fazer regredir o processo de "desertificação espiritual":
"Eis então como podemos representar este Ano da Fé: uma peregrinação nos desertos do mundo contemporâneo, no qual carregar consigo somente aquilo que é essencial: nem bastão, nem alforje, nem pão, nem dinheiro; tampouco tenhais duas túnicas – como diz o Senhor aos Apóstolos enviando-os em missão (cfr Lc 9,3) –, mas o Evangelho e a fé da Igreja, dos quais os documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II são expressão luminosa." (Missa de abertura do Ano da Fé, 11 de outubro de 2012)
O 2012 de Bento XVI foi também fortemente marcado pelo empenho em favor da valorização da família, sempre mais ameaçada como recordou, inclusive, no discurso natalino dirigido à Cúria Romana.
Em maio, em Milão, celebrou-se o VII Encontro Mundial das Famílias. A eles, pais e filhos, o Papa confiou uma tarefa extraordinária: vocês, afirmou, são "a única força que verdadeiramente pode transformar o mundo".
O grande encontro permanece memorável também nas palavras que o Pontífice dirigiu, com amor paterno, aos casais separados:
"Parece-me uma grande tarefa de uma paróquia, de uma comunidade católica, fazer realmente o possível a fim de que tais casais sintam-se amados, aceitos, sintam que não estão 'fora', embora não possam receber a absolvição e a Eucaristia; devem ver que mesmo assim vivem plenamente na Igreja." (Festa dos testemunhos, 2 de junho de 2012).
Em Milão a dimensão da visita foi mais internacional que italiana, por outro lado, o Santo Padre fez outras três visitas na Itália: a Loreto, como recordado no contexto do Ano da Fé e do 50º aniversário do Concílio; a Arezzo e San Sepolcro e, sobretudo, às vítimas do terremoto na Emilia Romagna e da Lombardia. Em Rovereto di Novi, um dos centros mais atingidos pelo abalo sísmico, o Papa comovido assegurou a proximidade espiritual e concreta da Igreja:
"A Igreja faz-se próxima a vocês e o será com a oração e com a ajuda concreta das suas organizações, em particular da Caritas, que se empenhará também na reconstrução do tecido comunitário das paróquias." (Visita a Rovereto di Novi, 26 de junho de 2012)
Neste ano, o Papa publicou também um Motu proprio sobre o serviço da caridade e outro que instituiu a Pontifícia Academia de Latinidade. Elevou à honra dos altares sete novos Santos e proclamou "Doutores da Igreja" São João d'Ávila e Santa Ildegarda de Bingen.
Ademais, criou 28 cardeais, em dois consistórios: um em fevereiro, e o outro em novembro. Entre as nomeações importantes destaca-se a de Dom Gerhard Ludwig Müller a prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
Foi um ano também de sofrimento para o Papa, que se viu traído em sua própria casa. Em maio foi detido seu mordomo por apropriar-se de documentos pessoais depois difundidos na mídia. Foi o cume do chamado "Vatileaks" que registrou um processo e uma condenação a Paulo Gabriele, ao qual Bento XVI concedeu a graça poucos dias antes do Natal. No auge do doloroso episódio, o Santo Padre confiou aos fiéis os seus sentimentos. É grande a amargura, mas não prevalece:
"Os eventos ocorridos nestes dias acerca da Cúria e meus colaboradores trouxeram tristeza ao meu coração, mas jamais foi ofuscada a firme certeza de que apesar da fraqueza do homem, as dificuldades e as provações, a Igreja é conduzida pelo Espírito Santo e o Senhor jamais deixará faltar-lhe o seu auxílio para sustentá-la em seu caminho." (Audiência geral, 30 de maio de 2012)
Bento XVI pediu transparência também na administração do Ior (Instituto para Obras de Religião). Tratou-se de um processo que levou a resultados significativos. De fato, em julho, a autoridade europeia "Moneywal" julgou positivamente as medidas tomadas no Vaticano para a prevenção à lavagem de dinheiro.
Ao longo do ano, o sétimo de seu Pontificado, Bento XVI não poupou energias para anunciar o Evangelho ao maior número possível de pessoas. E o fez nas celebrações, nas audiências e nos encontros, visitando paróquias, cárceres e institutos caritativos.
Por fim, teve bom êxito também a publicação do livro "A infância de Jesus", com o qual o Papa concluiu a sua trilogia sobre Jesus de Nazaré. Um presente para todos aqueles, fiéis e não somente, que se encontram em busca da verdade. (RL)