Encontro entre Kirill e Francisco em Havana estreitou relações fraternas entre as duas Confissões – AP
04/10/2016 14:57
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Moscou (RV) – Uma ampla colaboração entre ortodoxos e católicos para que sejam “forças de paz” e “pontos de referência moral” em um mundo marcado por conflitos armados, terrorismo, perseguições, consumismo, materialismo. Este é o augúrio do Secretário para as Relações entre os Cristãos, do Departamento para as Relações Eclesiásticas Externas do Patriarcado de Moscou , o hieromonge Stefan (Igumnov).
Na entrevista concedida à Asianews, o religioso explica o valor do acordo assinado em Chieti (Itália) sobre primado e colegialidade, assim como das dificuldades encontradas dentro da ortodoxia. O encontro entre o Papa Francisco e o Patriarca Kirill em Cuba, foi o acontecimento que catalizou o incremento das relações fraternas entre Moscou e Roma.
Documento de Chieti
Ao referir-se ao documento assinado recentemente pelas duas Confissões em Chieti, Stefan explicou que ele toca em temas que dizem respeito aos princípios da colegialidade e do primado, no tempo do cristãos do primeiro milênio da nossa era. Ele chamou a atenção para o fato, de que naquele tempo, a postura em relação a esta questão entre Ocidente e Oriente “era um pouco diferente, mas esta diferença não aboliu a unidade fundamental dos cristãos”. Neste sentido, “a experiência do primeiro milênio é o nosso patrimônio comum e o documento firmado coloca uma base sólida para o desenvolvimento ulterior do diálogo ortodoxo-católico”.
“A Igreja Ortodoxa – reiterou – é um dos participantes mais ativos deste diálogo e sempre foi a força que promoveu tal processo, não obstante as dificuldades nascidas em seus interior, que às vezes pareciam ser intransponíveis”. A provação do documento somente agora – constata – foi possível pois o texto atual “baseia-se na tradição, para nós comum, da Igreja indivisa e sobre fontes que são reconhecidas por ambas as partes”.
Crescimento nas relações
O hieromonge observa que as relações entre católicos e ortodoxos está crescendo, não somente pelo fato do fortalecimento do diálogo teológico, mas também na colaboração no campo acadêmico, cultural e humanitário, e “na questão da defesa dos valores tradicionais na sociedade e do apoio aos nossos irmãos que vivem em perigo, em diversas situações do mundo”.
Encontro em Havana é referência
Os último dois temas, de fato – recordou – estiveram ao centro do histórico encontro entre Kirill e Francisco em Havana, em fevereiro deste ano. E o documento assinado, “representa o quadro de referência para uma colaboração mais ampla entre os líderes religiosos de todo o mundo”. O líderes das Igrejas do Oriente Médio – exemplificou – sublinharam que “o encontro de Cuba foi um sinal de esperança e impulsionou uma maior cooperação entre eles”.
Sínodo Pan-Ortodoxo de Creta
Stefan explica que o mundo ortodoxo está revivendo mecanismos da realização do princípio de conciliaridade em uma nova fase, com condições diferentes em relação ao séculos em que foram convocados os últimos Sínodos Pan-Ortodoxos, num caminho em que existem dificuldades. “Infelizmente – afirma – em Creta não houve um Sínodo Pan-Ortodoxo. Todavia – completa – o processo pré-conciliar não parou e continuará, até que as Igrejas Ortodoxas possam resolver as controvérsias existentes entre elas e dar uma resposta aos desafios de hoje que a humanidade deve enfrentar”.
Trabalho conjunto para enfrentar os atuais desafios da humanidade
A proliferação dos conflitos armados que ameaçam degerenar em um conflito global entre as grandes potências; a difusão do fenômeno do terrorismo; a exacerbação das divisões sociais; o problema da fome e das doenças, a ameaça de uma catástrofe ambiental são alguns dos fatores citados pelo hieromonge que ameaçam diversos aspectos de nossa vida.
Para ele, um dos motivos principais destes problemas é a disseminação na sociedade do culto ao consumismo, “a oposição entre bem-estar material e espiritual”. Nestas circunstâncias, “os cristãos são chamados a testemunhar ao mundo os valores verdadeiros, desempenhar seu papel de forças de paz e a serem ‘sal da terra”. Infelizmente – reconhece – seguidamente vemos que os próprios cristãos perdem a bússola espiritual, são influenciados pelo espírito pernicioso dos tempos, como por exemplo acontece com as doutrinas de algumas Igrejas protestantes, que corroeram o conceito de moral cristã”.
Para o religioso russo, “a Igreja Ortodoxa e a Católica, permanecem como a fortaleza da moral tradicional e sentem a sua responsabilidade pelo futuro da civilização. Mantiveram o seu potencial de forças de paz e representam um ponto de referência para aqueles que não querem sufocar a voz da consciência no próprio coração e querem mudar para melhor o nosso mundo”.
“Neste sentido – conclui – nunca como agora é pedida uma cooperação entre ortodoxos e católicos sobre as questões mais difíceis da contemporaneidade”.
Hieromonge (em grego: Ἱερομόναχος )é um monge que também é um padre na Igreja Ortodoxa e na Igreja Católica Oriental. No cristianismo ocidental, um padre que também é um monge é chamado de “padre religioso” ou “clero regular”, ou seja, vivendo sob uma regra monástica (em latim: regula).
(je/asianews)
Fonte: Site Rádio Vaticano