O cardeal Lajolo: «Também as fofocas matam»
Giacomo Galeazzi
Cidade do Vaticano
“Sinceramente nunca aconteceu uma coisa semelhante”. Não esconde o próprio espanto o cardeal Giovanni Lajolo, ex-governador e ministro do exterior vaticano. “É a primeira vez que acontece: nunca um Papa havia exposto para nós, membros da cúria, uma lista de patologias sobre as quais nos examinarmos”. Uma chicotada inédita. Desde sempre, de fato, “a troca de felicitações natalinas entre o Papa e a cúria romana é uma ocasião protocolar” para “fazer o ponto do ano” e “segue um esquema costumeiro”, observa o purpurado e diplomata que por muitos anos desempenhou alguns dos mais importantes ofícios da Santa Sé. “A conversão dos corações vem antes da reforma das instituições”, faz questão de precisar.
O que se esperava do discurso de Francisco? Qual a diferença?
“Nesta ocasião geralmente os seus predecessores se limitavam a relembrar os fatos mais relevantes do ano, a acentuar os principais acontecimentos para a Igreja universal e os pontos-chave da sua atividade apostólica. Por isso, se esperava que Francisco falasse das viagens realizadas na Terra Santa e na Turquia; ao invés, nem mesmo uma palavra a esse respeito. Talvez fará referência àquelas viagens aos embaixadores do Vaticano.
À luz disso, como acolhe a chamada de atenção do Pontífice?
“Como exigência de um exame de consciência, de uma confissão de fim de ano. Pela primeira vez um Papa pede à Cúria de examinar-se a si mesma sobre uma pluralidade de pontos problemáticos. Por exemplo, em base à minha experiência com a máquina da Curia, estou convicto de que uma simplificação dos procedimentos diminuiria os escândalos”.
Porque o Papa chama a atenção dos cardeais e bispos da Cúria?
“Os sete vícios capitais estão dentro de cada um de nós. Também o Papa se define frequentemente como pecador e pede continuamente orações para si. E se ele é pecador, identificamo-nos nós também assim. Os escândalos continuarão a existir até o fim do mundo. É o evangelho que o diz: é necessário que os escândalos aconteçam; ai porém daqueles pelos quais os escândalos acontecem. Para nós é uma indubitável palavra de Cristo. ”
Então não é possível evitar os escândalos na Igreja?
“É dever dos superiores da Cúria proceder de tal modo que estas coisas não aconteçam. E como maior responsável, o Papa é o primeiro a dever se ocupar disso. A reforma das instituições é necessária, mas é necessária também da conversão dos corações. A Igreja deve ser sempre reformada, principalmente a Cúria, na qual confluem tensões e questões de todas as Igrejas locais do planeta.
É suficiente a reforma em preparação?
“É útil que as estruturas eclesiásticas se tornem mais simples, mas dentro estão os homens cujo coração é notoriamente confuso. Vejo mais do que nunca atual a pergunta do históriador romano Tacito: “ para que servem boas leis se não existem bons costumes? As condutas honestas não se estabelecem com as leis. Francisco exorta a refletir atentamente sobre os nossos comportamentos e sobre as fraquezas, pensando no mal que se faz. Começando pelas fofocas, que matam, envenenam o ambiente”.
Fonte: http://vaticaninsider.lastampa.it/inchieste-ed-interviste/dettaglio-articolo/articolo/lajolo-38226/
Tradução do italiano: Pe. Raul Kestring