A subida até o local da celebração eucarística do Dia de Finados e o calor daquela tarde não foram em vão, na sensibilidade pastoral do Bispo de Blumenau, Dom José Negri. Na capela improvisada, junto ao Memorial Ecumênico São Francisco de Assis, na missa que presidia, logo, no rito de Acolhida, o Bispo convidou todos os presentes a oferecerem os desconfortos do cansaço e do calor como sacrifícios pelos mortos, liturgicamente recordados naquele dia.
Auxiliado por dois diáconos e por ministros extraodinários da Comunhão, Dom Negri, nem ele se deixou abalar pelo forte sol da meia-tarde primaveril. Com vigor e decisão ia conduzindo a assembléia reunida naquele momento de solidária oração e atenta escuta da Palavra.
A passagem evangélica dos discípulos de Emaús, ele evocou-a no inicio da homilia. Talvez seja a mais bela cena que representa a nossa vida humana como caminhada com Jesus, que assume nossas tristezas e dores; e nos encoraja para a perseverança em seu o projeto de vida e salvação.
"Nós também – continuou o pregador – corremos o risco de, neste mundo, especialmente em nossos dias, vermos só mortes, injustiças, doenças, separações, fracassos, violência. Não podemos negá-las. Infelizmente, estão aí e, de fato, exacerbadas pelos meios de comunicação. No entanto, jamais podemos esquecer que Jesus ressuscitado está conosco. Com sua luz, diminuem, desaparecem as trevas do coração e, como aqueles dois discípulos, voltamos à luta pela vida, pelo amor, pela paz.
O Bispo também evidenciou com muita, clareza e insistência o sentido da morte e do julgamento que lhe segue. Citou a certeza de Jó:”Depois que tiverem arrancado esta minha pele, sem minha carne, verei a Deus. Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão, e não a um estranho” (Jó 19,25-27).
“ Jesus também nos confrma que, após a morte, nos encontraremos com Deus e por ele seremos julgados”, acentuou Dom José. “Parece que vivemos esquecidos desta verdade revelada” – completou. Sua reflexão, mais do que reflexão: verdadeira exortação, prosseguiu frisando o apelo do Evangelho do dia:”Tive fome, tive sede, era peregrino, prisioneiro… e me socorrestes”. "É o relacionamento com o outro na misericórdia que nos levará a ver a Deus. Inadvertidamente, vivemos julgando os irmãos, fechados em nossos preconceitos, quando não odiando, na divisão, no desamor. Costurar cada dia um ato de amor, de misericórdia – propôs o Bispo – para que a morte nos encontre preparados, pois ninguém sabe o dia e nem a hora desse momento do julgamento”.
“Vale a pena viver brigando com todo mundo, ‘azedos’, só acumulando bens materiais, quando Jesus é muito claro ao nos dizer que a única coisa que vale é o amor?” – foi a pergunta de um segundo momento da homilia. “No paraíso, viveremos no e do amor de Deus. Até mesmo nossos relacionamentos familiares desaparecerão, superados infinitamente pela luz do amor divino, que veremos plenamente" – explicou o sucessor dos apóstolos.
Sob um silêncio profundo de todos os seus ouvintes, Dom Negri finalizou suas ricas palavras com um testemunho pessoal. Falou ele que, na sua carteira, carrega um pensamento espiritual de Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares: ”Eu morrerei como tu quiseres. Eu morrerei quando tu quiseres. Mas me dê uma graça nesta terra: que eu me santifique, porque a minha santificação é a tua vontade”.
E a todos os presentes ele propôs:”Se nos santificarmos, estaremos preparados para sermos acolhidos pelo Pai”.
Terminada a santa missa, Dom José dirigiu-se para a grande sacada do edifico do memorial. Acompanhado de todas as pessoas reunidas, dos diáconos e ministros, dali, abençoou o cemitério, que guarda os restos mortais de cerca de dois mil falecidos, entre eles inúmeros frades, sacerdotes, religiosos, religiosas, estes, todos, somando mais de uma centena.
(Fotos e texto: Pe. Raul Kestring)
Blumenau, 03 de novembro de 2009