Bispos exortam católicos a não responder às provocações
ROMA, terça-feira, 31 de janeiro de 2012 (ZENIT.org) – Os bispos da Nigéria pediram que os cidadãos renovem o país unidos a Deus, permanecendo firmes na fé, no amor e na paz, apesar das provocações. É a resposta da Igreja católica aos atentados contra igrejas, centros e indivíduos católicos, perpetrados pela seita fundamentalista muçulmana Boko Haram, que deixaram centenas de mortos e feridos.
O apelo foi feito em várias mensagens pastorais do arcebispo John Onaiyekan, de Abuja, e dos bispos Martin Uzoukwu, de Minna, Hilary Okeke, de Nnewi, e Mathew Hassan Kukah, de Sokoto, que falam sobre a insegurança provocada no país pelas bombas que o temido grupo fundamentalista islâmico já explodiu em diversos lugares.
Na mensagem pastoral Senhor, dai-nos a paz, dirigida aos fiéis da arquidiocese de Abuja, o arcebispo John Onaiyekan comenta: "Vivemos uma grande angústia por causa das tensões e das dores do nosso povo. Rezamos para que Deus possa libertar a nossa nação" (Serviço Católico Nacional de Notícias, 27 de janeiro).
Ao enumerar as diversas causas de preocupação quanto às ameaças contra a vida e contra a propriedade do povo inocente, o arcebispo exortou os nigerianos a não deixarem ninguém desorientá-los nem desorganizá-los mediante o medo e as ameaças.
E continuou: "Temos que nos armar de coragem para não ceder às provocações, permanecer de pé e de cabeça erguida (Lucas 21,18), confiando no Deus que salva". Onaiyekan instou os fiéis a ficarem atentos e preocupados com a segurança, enquanto os membros "com experiência e capacidade em matéria de segurança continuarão fazendo o seu serviço de bom grado, a fim de garantir uma proteção apropriada e eficaz para a Igreja".
O prelado de Abuja afirmou ainda que “as pessoas que querem jogar os cristãos contra os muçulmanos, e que tentam atiçar a guerra entre os dois grupos, estão fazendo um grande mal para a nação. Temos que resistir a todas as tentativas de nos transformarem uns em inimigos dos outros”. Por isso, aconselha: “É hora de promover e manter boas relações com os nossos amigos, vizinhos e concidadãos muçulmanos”.
Ao falar da explosão de uma bomba na véspera de Natal na igreja de Santa Teresa em Madalla, no estado de Níger, o bispo da diocese, Dom Martin Uzoukwu, afirmou: "Denuncio este ato de terrorismo contra o meu povo, que foi à igreja celebrar o dia santo de Natal, um dia em que os cristãos do mundo intero comemoram a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, a Divina Misericórdia encarnada, o príncipe da paz e do amor".
E prosseguiu: "Vamos a arrancar pela raiz o mal que está surgindo entre nós. Todos nós temos que pôr as mãos na massa e tomar as medidas mais proativas para o bem do nosso povo e da nossa nação. Temos que conter o nosso povo diante dos atos de violência contra outros grupos nas nossas comunidades".
Ao agradecer a todos que se solidarizaram com a igreja e com a diocese pela morte de mais de 30 membros da paróquia de Santa Teresa, além dos muitos feridos nesse ato covarde, o bispo pediu que o governo federal revise os sistemas de segurança do país para promover uma adequada proteção das vidas e dos bens de todos.
Aos católicos, ele exortou também: "Permaneçam firmes na oração. Mantenham a calma e fiquem atentos. Sempre de pé e anunciando Jesus Cristo, que é amor e paz. Nas palavras do pai-nosso, nós somos chamados a perdoar àqueles que pecaram contra nós. Então nós vamos perdoar, mas orem pela paz na nossa Nigéria".
Em sua mensagem Carta ao Povo de Deus, Dom Hilario Okeke, bispo de Nnewi, enfatizou que a Nigéria e os nigerianos desejam a paz diante da contínua ruptura no país. O bispo menciona os bombardeios incessantes em várias regiões, os sequestros, os conflitos étnicos que deixam muitos mortos e a impopular eliminação do subsídio ao petróleo, que paralisou as atividades econômicas durante quase uma semana. "Diante de todas estas perigosas situações de insegurança, pobreza e empobrecimento, violência e dificuldades, os bispos da província eclesiástica de Onitsha se dirigem a Deus pedindo ajuda em nome do Senhor, que fez o céu e a terra".
O episcopado está promovendo sessões especiais de oração pelo país entre 20 de janeiro e 20 de fevereiro.
O bispo de Nnewi continua: "Os desafios à paz na Nigéria são muitos, mas a vontade unida dos nigerianos pela paz triunfará sobre as forças da escuridão e da violência. Quando a nação se voltar para Deus e para a retidão, experimentará a paz que flui como um rio. A violência não é solução. A vingança é pior ainda. A vontade de transformar a Nigéria num país pacífico e próspero tem de começar pela conversão pessoal, pela conversão da cobiça, do egoísmo e da insensibilidade às necessidades dos outros, especialmente dos pobres e desfavorecidos da população".
No texto Basta: saibam que sou Deus! (Sal 46, 10) – um chamado a todos os nigerianos, o bispo Mathew Hassan Kukah, de Sokoto, comenta: "Ninguém pode pretender uma compreensão completa da situação em que nos encontramos. Mas mesmo sem entender os problemas do momento, a nossa fé nos obriga a entender que a mão de Deus está conosco. O desafio é termos a paciência para deixar que se faça a vontade dele".
Dom Kukah pediu que os nigerianos não se desesperem: "É claro que são tempos muito difíceis para o nosso país. Mas também são tempos muito promissores. No meio desses restos de ódio, de ira e frustração, temos algumas dimensões interessantes. A Nigéria está mudando. Os nigerianos estão recuperando o seu país das garras dos malfeitores. Estas histórias são o começo do nosso canto de liberdade. Os cristãos estão cruzando agora publicamente as linhas artificiais traçadas pela mentira e pela intolerância. Nesta semana, unidos em solidariedade, cristãos e muçulmanos estão protestando contra a má gestão do governo e contra a corrupção, além da manipulação da religião. Depois de se libertar das garras dessas forças escuras, a religião poderá desempenhar o seu papel como uma força de harmonia, de verdade e de bem comum".
O bispo de Sokoto convida o povo a orar com fervor a Deus e a ser solidário, enquanto "os líderes de todas as religiões devem se levantar juntos e enfrentar o desafio dos tempos, com uma liderança baseada em nossa humanidade e no bem comum, em vez dos temas insignificantes que nos dividem".
E concluiu: "Apesar de que a liberdade e o crescimento prometido pela democracia não chegaram ainda, nós temos que nos lembrar de que um amanhã melhor é possível, de que uma Nigéria mais unida e pacífica é possível. Os desafios dos últimos dias demonstraram a capacidade de resistência do nosso povo e o seu compromisso com a democracia e com uma vida melhor. Acreditamos que isto é possível. O governo deve se esforçar para ganhar a confiança do nosso povo. Todas as partes têm que tirar lições do que aconteceu e decidir construir uma nação melhor e mais forte".