1ª Leitura: At 9,26-31
2ª Leitura: 1Jo 3,18-24
Evangelho: Jo 15,1-8
CRISTO A VIDEIRA, NÓS OS RAMOS
Na liturgia dos domingos depois da Páscoa aprofundamos o mistério do Senhor Jesus glorioso, no qual transparece o amor do Pai, fonte do seu amor por nós e de nosso amor aos irmãos e irmãs. Isso fica claro de modo especial hoje, na parábola da “videira” (evangelho).
No Antigo Testamento, a vinha de Deus era o povo de Israel. Diz o profeta Isaías que Deus esperava dessa vinha frutos de justiça, mas só produziu fruto ruim (Is 5). Jesus mesmo contou uma parábola acusando, não a vinha, mas os administradores, porque não queriam entregar ao “Senhor” (= Deus) a parte combinada e quiseram apropriar-se da vinha (= o povo), matando o “Filho” (= Jesus) (Mc 12,1-12). No evangelho de João, Jesus modifica um pouco essa imagem. Não fala numa plantação inteira, mas num pé de uva, uma videira. Ele mesmo é essa videira. O Pai é o agricultor que espera bons frutos, e nós somos os ramos que devemos produzir esses frutos no fato de nos amarmos uns aos outros como Jesus nos amou. Pois Jesus recebeu esse amor do Pai, e o fruto que o Pai espera é que partilhemos esse amor com os irmãos.
A vinha é também símbolo da comunidade unida a Cristo, fecunda no amor e comunhão. O critério para saber se há comunhão entre ramos (cristãos) e Cristo é a presença dos frutos. A palavra permanecer aparece 7 vezes no texto. Permanecer unido a Cristo para receber a seiva e dar frutos.
“A vinha verdadeira sou eu”- Jesus, unido aos seus em união vital. Essa união consiste em que permaneçamos ligados a ele, atentos e obedientes à sua palavra, ao seu mandamento de amor fraterno. E também, unidos entre nós, pois todos os ramos da videira recebem sua seiva do mesmo tronco, que é Jesus. A 2ª leitura de hoje explica isso melhor: fala do amor eficaz, o amor que produz fruto, não só “em palavras”, mas “em ações e em verdade” (1Jo 3,18-24). O critério para saber se somos de Deus e se o amor de Deus está em nós, consiste em, como Cristo, darmos a vida pelos irmãos; amarmos com fatos e na verdade. Nossa prática cotidiana demonstra se estamos em Deus e Deus em nós. Tal amor eficaz faz com que tenhamos certeza de sermos “da verdade”. Por isso podemos ter paz no coração, pois sabemos que Deus se alegra com os nossos “frutos” e vence o medo e a incerteza de nosso coração (= consciência), mesmo se este se inquieta por nossas imperfeições (3, 20-23).
Esse modo de falar nos faz ver a Igreja de outra maneira. Ela já não aparece como um poder, como uma “organização”, mas como um “organismo vivo” de amor fraterno. Na Igreja, Jesus e nós somos uma realidade só. Vivemos a mesma vida. Ele é o tronco, nós os ramos, mas é o mesmo pé de uva. Somos os produtores dos frutos de Jesus no mundo de hoje. Para não comprometermos essa produtividade, devemos cuidar de nossa ligação ao tronco, nossa vida íntima de união com Jesus, nossa mística cristã – na oração, na celebração e na prática da vida. Produzir os frutos da justiça e do amor fraterno e unirmo-nos a Cristo na oração e na celebração são os dois lados inseparáveis da mesma moeda. Não existe oposição entre a mística e a prática. Importa “permanecer em Cristo”. A Igreja ama Jesus, que ama os seres humanos até o fim, e por isso ela produz o mesmo fruto de amor. A Igreja vive do amor que ela tem ao amor de Jesus para o mundo.
Por isso nos perguntemos: Estamos produzindo os frutos abundantes desejados pelo Pai: justiça, direito, solidariedade, fraternidade, alegria, liberdade e amor, como comprovação de estarmos unidos a Jesus e fiéis ao seu projeto?
Hoje também damos graças pelo batismo que nos inseriu em Cristo como ramos na videira, pela palavra que nos purifica e pelo sofrimento que poda todo o mal. O vinho, fruto da videira é sinal expressivo dessas realidades, e sacramento da nova aliança no sangue de Jesus.
Pe Osmar Debatin