Homilia na Novena de Nossa Senhora Aparecida
11.10.2010
MARIA, OLHAR QUE PROTEGE
Excelentíssimo Senhor Dom Raimundo Damasceno Assis, Arcebispo de Aparecida,
Caros Irmãos no Episcopado,
Caro Padre Darci, Reitor do Santuário,
Missionários redentoristas,
Presbíteros, consagrados/as, seminaristas,
Autoridades,
Irmãos e Irmãs
“Levanto os olhos para os montes: de onde me virá o auxílio?
Meu auxílio vem do Senhor.” [Sal 121]
Essa frase do salmo que acabamos de rezar expressa bem a necessidade de quem reza para encontrar um amparo e um refúgio diante das circunstâncias da vida. A atitude do salmista, de levantar o olhar, é a atitude do humilde que ousa olhar para cima, que sabe que a sua salvação não pode vir das coisas terrenas, mas somente do céu. A pessoa desprotegida, depois de ter procurado encontrar soluções para os seus problemas aqui na terra, sente que o único recurso, a única solução pode ser encontrada em outro nível, em outro plano, que é o plano espiritual. De outro lado, isso não poderia ser diferente, já que o próprio apóstolo Paulo havia falado na sua carta aos Colossenses: “Buscai as coisas do alto, cuidai das coisas do alto, não do que é da terra”. [Col 3,1-2]
Quando o papa Pio XI, oitenta anos atrás, pensou em declarar Nossa Senhora Aparecida a Padroeira do Brasil, com certeza tinha como intenção ajudar o povo brasileiro a sentir Maria como uma Mãe que se preocupa com seus filhos, e a de “promover o bem espiritual dos fiéis e aumentar cada vez mais a devoção à Imaculada Mãe de Deus”.
Diante das palavras de Jesus a Maria: “Mulher, eis o teu filho”, que correspondem às palavras de Jesus ao discípulo: “Eis a tua mãe”, o dever da mãe é o de se preocupar com os próprios filhos, e o dever do filho é o de acolher a mãe e torná-la parte integrante de seu próprio mundo. A maternidade determina sempre um relacionamento único entre duas pessoas: a mãe sente, em relação a cada filho, um amor particular que não se repete, mesmo que ela tenha mais filhos. Isaias expressou bem essa realidade, quando disse: “Acaso uma mulher esquece o seu neném, ou o amor ao filho de suas entranhas? Mesmo que alguma se esqueça, eu de ti jamais me esquecerei”. [Is 49,15]
Maria teve uma missão única na história da salvação, concebendo, educando e acompanhando seu Filho até o sacrifício definitivo. Pensemos, por exemplo, como Maria e José tiveram de fugir de Herodes, para proteger o menino Jesus: “O anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse: ‘Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito! Fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino, para matá-lo’.” [Mt 2,14] Imaginemos também a angústia de Maria, a quem foi confiado o Filho de Deus, quando pensou que havia “perdido” o menino Jesus: “Filho, porque agiste assim conosco? Olha, teu pai e eu estávamos, angustiados, à tua procura!” [Lc 2,48] A Maria, portanto, foi confiado o cuidado de todos os filhos. Assim como Ela teve todos os cuidados para proteger o seu próprio Filho, agora tomará também conta de todos nós, como uma verdadeira mãe.
Continua o salmo 21: “O Senhor te preservará de todo o mal, preservará a tua vida”.
Jesus, no momento da cruz, quando estava fazendo a entrega de sua mãe à humanidade, chamou-a “Mulher”. Essa palavra nos remete a outra referência do Apocalipse, em que se encontra uma “mulher” que luta contra o dragão, contra o mal. Em ambos os contextos podemos definir que essa mulher é, claramente, Maria. O significado do Apocalipse tende a dizer que a vida do homem, na terra, é um caminho que se realiza, constantemente, por meio da tensão da luta entre o dragão e a mulher, entre o bem e o mal. Essa é a situação da história humana: é como uma viagem num mar freqüentemente borrascoso. Maria se torna, assim, o refúgio dos pecadores; ela nos protege contra o mal, reza por nós, pecadores, e, sobretudo, nos orienta para o bem, seu Filho Jesus, "Sol nascido acima das trevas da história" (cf. Spe salvi, 49), além de conceder-nos a esperança do que temos necessidade: a esperança de que podemos vencer o mal. O Mal não poderá prevalecer, porque Deus venceu, e nós não sucumbiremos definitivamente: Deus, através a intercessão de Maria, ajudar-nos-á e guiar-nos-á. Essa é a esperança: a presença do Senhor em nós se torna visível em Maria.
Maria protege as famílias
Apesar da natureza única do matrimônio virginal de Maria e José, e da fecundidade puramente divina que tomou corpo no seio de Maria, a Sagrada Família foi, na sua vida cotidiana exterior, como todas as outras famílias.
Para nós, que acreditamos, a família, reflexo da comunhão trinitária, tem como modelo a de Nazaré, em cujo âmbito teve lugar a vivência humana do Redentor e de seus pais. Pensemos nas dificuldades que Maria e José tiveram de enfrentar, por ocasião do nascimento de Jesus, e, depois, no exílio no Egito, para fugir da perseguição de Herodes, como já foi lembrado.
Olhando hoje para Maria, inserida na Sagrada Família, pensemos naquelas numerosas famílias que, nestes nossos tempos, se encontram em situações difíceis. Algumas são marcadas por extrema pobreza, outras encontram, no seu próprio interior, sérios problemas, devido à rápida mudança cultural e social que vivenciamos, e que por vezes as desorienta. E que dizer de tantos atentados à instituição da família? Maria protege todas aquelas que a ela se consagram. Ela nos ajuda a redescobrir o valor da família, Ela nos ajuda a transformar a nossa família em ambiente vital, no qual cada criança que vem ao mundo é acolhida, desde a sua concepção, com ternura e gratidão; lugar onde se respira um clima sereno, que permite a todos os seus membros um harmonioso desenvolvimento humano e espiritual.
Maria protege os seus filhos desamparados
Acredito, porém, que, mais que tudo, Maria oferece uma proteção especial para todos os que perderam uma mãe, que se sentem desamparados, desprotegidos. Maria sente um carinho particular por todos os que se encontram desanimados e decepcionados com a vida, com os que perderam a esperança de cura física e espiritual. Essas pessoas nunca deixaram de ser filhos e filhas da Nossa Mãe. As pessoas que perderam a fé, que perderam Deus, estão com certeza no coração de Maria, que aguarda com paciência e esperança um retorno.
Quando você encontrar tropeços na sua caminhada, quando você sentir saudade da mãe, quando você sentir a solidão, não se esqueça de olhar para o céu. Com certeza os seus olhos cruzarão com um olhar conhecido: são os olhos da Mãe, olhos carinhosos, olhos que inspiram confiança e segurança, olhos que amparam, que protegem, que nos dão a garantia de que a nossa prece chegou ao coração de Deus. Não esqueça: olhe para o céu!
Finalizando, quero rezar com todos os romeiros, peregrinos que aqui se encontram e com aqueles que nos acompanham através dos meios de comunicação, uma oração que expressa bem o olhar protetor de Maria: “À vossa proteção recorremos, santa mãe de Deus; não desprezais as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e Bendita.”
Amém.
Clique AQUI e assista ao vídeo