Comentário sobre a liturgia do Pe. Antonio Rivero, L.C., Doutor em Teologia Espiritual, professor e diretor espiritual no seminário diocesano Maria Mater Ecclesiae de São Paulo (Brasil).
Por Pe. Antonio Rivero, L.C.
SãO PAULO, 11 de Novembro de 2014 (Zenit.org) – Ciclo A
Textos: Prov 31, 10-13.19-20.30-31; 1 Tess 5, 1-6; Mateus 25, 14-30
Ideia principal: Deus dá a cada um uns talentos segundo a nossa capacidade: a um, cinco; a um segundo, dois; e ao terceiro, um. Talentos materiais e naturais, talentos humanos e talentos espirituais.
Síntese da mensagem: diante desses talentos cabem duas posturas: ou fazê-los render com responsabilidade e empenho, ou gastá-los mal pela frivolidade e infantilismo, ou escondê-los por preguiça e negligência. Mas Cristo ao final dos tempos nos pedirá contas da administração desses talentos, destinados a produzir, em uns o cem por cento; em outros, o cinquenta ou o vinte por cento. Nisto entra em jogo aqui a santidade e depois lá a salvação eterna.
Pontos da ideia principal:
Em primeiro lugar, comentemos o que são os talentos. Se formos à ilha de Creta, no mar Egeu, e visitarmos o palácio vermelho do rei Mino poderemos encontrar no museu os talentos: uns bloques mais planos, mais ou menos quadrados ou lobulados, de uns 45 centímetros de lado e peso de 26 a 36 quilos. Não são moedas de bolso, mas pesos de pagamento e que, segundo tempos e culturas, foram de ouro, prata e bronze. Um talento era um peso. Equivalia a 21.000 gramas de prata. Para entender isto, se um denario equivalia a 4 gramas de prata, então um talento equivalia a 6.000 denarios. Um trabalhador que quisesse ganhar somente um talento, teria que trabalhar 6.000 dias, ou melhor dito, quase 20 anos! Se fizermos os cálculos corretos, poderemos entender que o servo que recebeu cinco talentos, na realidade, recebeu um salario de 100 anos, o que recebeu dois recebeu o equivalente a um salario de 40 anos e que recebeu só um talento estava recebendo o salario de 20 anos de trabalho.
Em segundo lugar, o que temos que fazer com esses talentos espirituais, intelectuais, profissionais, esportivos, culturais… que Deus generosamente nos deu gratuitamente? No evangelho está a clave: negociar. Isto é, colocar o dinheiro no banco, fazer préstimos com juros, investi-lo em valores. O dono elogiou os dois criados que fizeram isto, e mandou para fora o que não fez. Agora o que aconteceria com o que desperdiçasse a torto e a direito o talento, ou roubasse o talento por negligencia? Não quero nem pensar nessa situação, pois já fico arrepiado. Este evangelho advoga pelo sistema “capitalismo-cuidado aqui!-espiritual”. O senhor da parábola é o Filho de Deus que, antes de partir para o seu destino estrangeiro, que é o céu, nos deixou uma fortuna- a vida e uma pátria, a família, a inteligência, a vontade, a afetividade, a sexualidade, os amigos, a saúde, a fé, as virtudes teologais e cardeais, os sacramentos, o perdão, o amor, a justiça, o matrimonio, o sacerdócio ou a vida religiosa, etc. E agora, vamos negociar! E, se não, aprendamos da parábola que outros farão o que nós deixarmos de fazer e se cumprirá o evangelho: passará a fortuna para outros para que eles negociem e, o que não quis negociar, que se responsabilize das consequências da sua preguiça, do seu esbanjo e da sua inconsciência e superficialidade.
Finalmente, uma coisa é o talento, a letra do evangelho e outra a música, que é o talante. Jesus estava falando para os seus discípulos, mas estavam escutando os fariseus. O fariseu era bem cumpridor: tinha 613 mandamentos e cumpria todos, claro que cumpria! Ao pé da letra. Para talante imobilista, tinha o seu. Mas Cristo pedia talante investidor, criativo, esforçado. E aqui vem a parte que nos pede Cristo diante desses talentos: o nosso engenho para investir honestamente no banco da vontade esses talentos que Ele nos deu gratuitamente e com tanto amor e esperança. Negociar, empreender, comprometer-se. Arriscando tudo. Sem medo do medo de colocar em jogo a salvação, que só se arrisca quando, como condena Jesus no evangelho, a gente se anota como conservador, prudente e seguro, vago e covarde. E assim, de um evangelho, que no primeiro golpe de vista, parece capitalista, resulta que é um evangelho, não de talentos somente, mas também de talantes.
Para refletir: Estou fazendo render os talentos naturais e espirituais que Cristo me deu? Vou ter que escutar Dele: “Servo mau e preguiçoso”? Ou escutarei, ao contrario: “Parabéns, servo bom e fiel”?
Para rezar: Senhor, obrigado pelos talentos que me destes, sem que eu os merecesse. Perdoai-me se até hoje desperdicei, gastei mal ou enterrei algum destes talentos. Dai-me vontade, engenho e responsabilidade para de agora em adiante possa investir neles para vossa Glória, para o bem da humanidade e para minha própria santificação.