Ao pensarmos no Natal, de imediato nos vem à mente a imagem do presépio, cenário que reconta o nascimento de Jesus. Onde cada figura, cada elemento posicionado ao redor da manjedoura, carrega um significado profundo, histórias e simbolismos que muitas vezes passam despercebidos.
Nos tempos de São Francisco (1181-1226) a maioria das pessoas não sabiam ler ou escrever, e os recursos visuais quase não existiam, não devia ser nada fácil para os religiosos transformar as narrativas bíblicas em histórias com apelo popular. E foi assim, que São Francisco fez a primeira montagem de um presépio (o nome presépio não foi uma invenção de São Francisco, mas sim uma apropriação posterior de uma palavra que já existia, em italiano presepe, e em latim praesepium, que significa cercado onde se guardam animais), para a celebração do Natal de 1223.
Tudo começou com uma viagem empreendida até a Terra Santa. São Francisco voltou de lá muito impactado com o que viu e com as visitas aos locais onde Jesus teria vivido. Achou que Greccio, pequena cidade a 70 km de Assis, era muito semelhante a Belém e decidiu recriar ali o relato bíblico do Natal.
Zeloso, primeiro pediu autorização ao Papa Honório 3º (1148-1227) que concedeu o aval.
“Preparam-se o presépio, traz-se a palha, conduzem-se o boi e o burro. Honra-se ali a simplicidade, exalta-se a pobreza, elogia-se a humildade, e Greccio transforma-se quase em uma nova Belém”, escreveu Tomás de Celano (1200-1265), frade que conviveu com Francisco e é considerado seu primeiro biógrafo. Na obra ‘Prima Vita’, ele descreveu essa montagem.
Havia antecedentes. No período medieval, algumas representações cênicas de textos sagrados podiam ser utilizadas como parte das liturgias, de forma a passar melhor a mensagem aos fiéis.
“Na realidade, os monges beneditinos já tinham em seus mosteiros a tradição do presépio, mas não era uma devoção pública ao povo de Deus. São Francisco foi o primeiro a montar publicamente o presépio fazendo com que todos os cristãos possam viver o Natal em suas casas.” Franciscano Rafael Normando, frade da Basílica de São Francisco, em Assis.
São Francisco queria ver com seus próprios olhos como teria sido o nascimento de Jesus. Ele queria tentar reviver essa experiência, e não somente imaginar.
Jesus nasceu num local onde os animais ficavam (curral, aprisco, cerca, cercado, cerrado, estábulo, estrebaria, redil).
A Virgem Maria “deu à luz o seu filho primogénito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura […]” Lc 1:7
Maria, com sua resposta “sim” incondicional à vontade de Deus, serve como modelo supremo de fé e obediência. José, o protetor silencioso, representa a virtude masculina, a coragem e a fidelidade. Juntos, eles formam um modelo de cuidado e amor, ensinando-nos sobre responsabilidade e compromisso.
O Menino Jesus é o centro de toda a cena, e seu simbolismo é o mais profundo. Ele representa Deus feito homem, a palavra viva entre nós. Sua
presença humilde no presépio é um convite para reconhecermos a presença de Deus nas partes mais simples e humildes de nossas vidas.
Os pastores foram os primeiros a receber a notícia do nascimento de Jesus. Sua inclusão no presépio simboliza a humildade e também a importância do anúncio do evangelho a todos, independentemente de seu status social. Eles nos lembram que a mensagem de salvação é acessível a todos que estão dispostos a ouvir e crer.
Os anjos, mensageiros de Deus, representam o louvor celestial e a glória divina. Eles anunciam a boa nova do nascimento de
Cristo, convidando todos a adorar o recém-nascido Rei. Seu canto de “Glória a Deus nas alturas” ressoa como um convite para que também elevemos nossos corações em louvor.
Os Três Reis Magos, também conhecidos como os Magos ou os Sábios do Oriente, são figuras emblemáticas na história do Natal. Tradicionalmente chamados de Melchior, Gaspar e Baltazar, eles
seguiram uma estrela brilhante que os guiou até Belém para adorar o recém-nascido Rei dos Judeus. Cada um trouxe um presente simbólico:
Ouro, representando a realeza de Jesus e seu status como Rei. Incenso, simbolizando a divindade de Jesus e sua natureza como Deus encarnado. Mirra, um bálsamo de embalsamamento, prenunciando a futura morte e ressurreição de Jesus, destacando sua humanidade e sofrimento.
A visita dos Magos é significativa por representar a adoração de Jesus por pessoas de todas as nações e origens, simbolizando a universalidade da mensagem de Cristo. Além disso, seus presentes proféticos revelam a identidade e missão de Jesus como o Messias. A jornada dos Magos reflete nossa própria jornada espiritual, uma busca guiada pela fé para encontrar e adorar a verdade divina.
O presépio é um convite à introspecção e ao questionamento. Como os elementos do presépio se relacionam com as questões sociais e espirituais contemporâneas? Em um mundo repleto de desafios e incertezas, o que podemos aprender com a simplicidade e a humildade do presépio? Essas reflexões não são apenas exercícios intelectuais, elas têm implicações práticas significativas para nossa vida diária.
Os símbolos do presépio não são apenas objetos de contemplação, são guias para viver uma vida mais plena e significativa:
O estreito estábulo nos ensina a valorizar a humildade. Em um mundo onde muitas vezes somos julgados pelo que temos, o presépio nos lembra de que nosso valor verdadeiro está no que somos. Podemos praticar essa humildade ao nos voluntariar, ao demonstrar empatia e ao escolher palavras que elevem os outros em vez de nos exaltarmos.
Assim como a manjedoura ofereceu sustento ao Menino Jesus, somos chamados a nutrir os que estão ao nosso redor. Isso pode ser tão simples quanto compartilhar uma refeição, oferecer um ombro amigo ou até mesmo doar tempo e recursos para aqueles em necessidade. Cada ato de generosidade é um eco do amor que a manjedoura simboliza.
Maria e José nos mostram a importância da fé, confiança e apoio mútuo em nossos relacionamentos. Seja em família, amizades ou parcerias, podemos espelhar essas qualidades ao priorizar a comunicação aberta, ao oferecer compreensão e ao trabalhar juntos para superar desafios.
O Menino Jesus no presépio nos convida a buscar a presença de Deus em todos os aspectos de nossas vidas. Podemos encontrar Deus nas pequenas alegrias, nos momentos de silêncio, e até nos desafios, lembrando-nos de que cada situação oferece uma oportunidade para crescimento e reflexão.
Os pastores não guardaram a notícia do nascimento de Jesus para si, a compartilharam com todos que encontraram. De maneira semelhante, somos chamados a compartilhar as boas novas de nossa fé, seja através de palavras, ações ou simples gestos de bondade que refletem o amor de Deus.
Os anjos no presépio representam um constante estado de louvor e adoração. Podemos incorporar essa atitude em nossa vida ao expressar gratidão diária, ao nos envolver em comunidades de fé, e ao procurar maneiras de espalhar alegria e esperança a quem está ao nosso redor.
Os Três Reis Magos não apenas nos ensinam sobre a adoração e o reconhecimento de Jesus como o Messias, mas também oferecem lições práticas para a vida cotidiana. Seus presentes e jornada simbolizam valores e ações que podemos incorporar em nosso próprio caminho.