O apóstolo Paulo escreve a Timóteo, seu “filho na fé” (1), com o qual partilhou a sua atividade evangelizadora e a quem confiou a comunidade de Éfeso, na Turquia.
Sentindo que a morte se aproximava, Paulo encoraja Timóteo nessa sua árdua missão de guia. Com efeito, Timóteo recebeu um “precioso bem”, ou seja, o depósito da fé cristã, tal como foi transmitido pelos apóstolos, e, por sua vez, tem a responsabilidade de comunicá-lo fielmente às futuras gerações.
Para Paulo, isso significa proteger e fazer resplandecer o dom recebido, na prontidão até mesmo de dar a vida para difundir a alegre notícia que é o Evangelho.
«Guarda o precioso bem a ti confiado com a ajuda do Espírito Santo que habita em nós.».
Paulo e Timóteo receberam o Espírito Santo como luz e garantia para a sua insubstituível tarefa de pastores e evangelizadores. Por meio do testemunho deles e dos seus sucessores, o anúncio do Evangelho chegou até nós.
Do mesmo modo, todo cristão tem a sua “missão” na própria comunidade social e religiosa: construir uma família unida, educar os jovens, engajar-se na política e no trabalho, cuidar de pessoas fragilizadas, iluminar a cultura e a arte com a sabedoria do Evangelho vivido, consagrar a vida a Deus no serviço aos irmãos.
Ainda mais: pelas palavras do Papa Francisco, «[…] cada homem e mulher é uma missão […]» (2).
O mês de outubro de 2019 foi proclamado pela Igreja Católica como “Mês missionário extraordinário”. Isso pode servir também a nós como ocasião de renovar com maior consciência o empenho de testemunhar a nossa fé, com o coração aberto e dilatado pelo amor do Evangelho, que gera acolhida, encontro e diálogo (3).
«Guarda o precioso bem a ti confiado com a ajuda do Espírito Santo que habita em nós.».
Todo cristão é “templo” do Espírito Santo. É Ele que nos permite descobrir e conservar os “preciosos bens” que lhe foram confiados para fazê–los crescer e colocá-los a serviço de todos. O primeiro desses “tesouros” é a fé no Senhor Jesus. É preciso que nós cristãos despertemos novamente essa fé, alimentando-a com a oração, para depois comunicá-la mediante o testemunho da caridade.
Um sacerdote brasileiro nos conta: «Fiquei encarregado da assistência aos fiéis de uma importante igreja numa grande cidade. O ambiente social é muito difícil e muitas vezes as pessoas que encontro não têm uma identidade religiosa definida. Por isso elas participam da Missa como de outras antigas cerimônias tradicionais. Eu sei que tenho a responsabilidade de transmitir a fé cristã na fidelidade ao Evangelho, mas, por outro lado, também gostaria que todos se sentissem acolhidos paróquia. Pensei que, para valorizar as raízes culturais dessas pessoas, a celebração da Missa poderia ser mais festiva e animada por instrumentos musicais típicos de suas culturas. É um desafio difícil, mas que deixa todos felizes porque, em vez de dividir a comunidade, nos une naquilo que temos em comum: a fé no Deus que nos dá a alegria».
«Guarda o precioso bem a ti confiado com a ajuda do Espírito Santo que habita em nós.».
Um outro tesouro inestimável, que recebemos do próprio Jesus, é a sua palavra, que é palavra de Deus.
Este dom «[…] acarreta para nós uma grande responsabilidade […]. Deus nos deu a sua palavra para que nós a façamos frutificar. Ele quer ver concretizada, na nossa vida e na nossa ação no meio do mundo, aquela transformação profunda que a palavra pode produzir. […] Como poderemos, então, viver a Palavra de Vida deste mês? Amando a palavra de Deus, procurando conhecê-la sempre melhor e, sobretudo, colocando-a em prática com generosidade cada vez maior, de forma que ela se torne realmente o alimento básico da nossa vida espiritual, o nosso mestre interior, o guia da nossa consciência, o ponto de referência inabalável para todas as nossas escolhas e para todas as nossas ações. […] Existe uma grande desorientação e confusão nas consciências. Tudo tende se relativizar e a ofuscar. Vivendo a Palavra de Deus não só estaremos resguardados contra esse grave perigo, mas − segundo a significativa expressão de Jesus (cf. Mt 5,15-16) – seremos como lâmpadas acesas que, com sua luz, ajudarão também os outros a se orientarem e a reencontrarem o caminho certo» (4).
Letizia Magri
- 1Tm1, 2;
- 2) cf. Francisco, Mensagem para a Jornada Missionária Mundial de 2018; Cf. http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/messages/missions/documents/papa-francesco_20180520_giornata-missinaria2018.html.
- 3)Para maiores informações, vide http://www.october2019.va;
- 4) C. Lubich, Uma grande responsabilidade, revista Cidade Nova, outubro de 1991.