BELÉM, segunda-feira, 30 de abril de 2012 (ZENIT.org) – Publicamos a seguir mais um artigo de espiritualidade enviado hoje para os leitores de ZENIT por Dom Alberto Taveira Corrêa, Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará, no Brasil.
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A Igreja cresceu através do testemunho apostólico dado pelos pioneiros da fé, regado pelo sangue dos mártires e consolidado no correr dos séculos pela vida das comunidades cristãs. Os passos iniciais foram marcados pela coragem dos apóstolos, conduzidos pelo Espírito Santo que os animava. A comunidade de Jerusalém, unida àqueles que tinham testemunhado a Ressurreição do Senhor e a anunciavam, mesmo com o medo suscitado pela sua presença em Jerusalém, quando apresentado por Barnabé, teve a grata surpresa de acolher o que entes era perseguidor implacável, Saulo, que veio a se chamar Paulo, convertido pelo Senhor, que lhe apareceu no caminho para Damasco, (Cf. At 9,26-31). Ele mesmo nos conta seu encontro com o Senhor (1 Cor 15,8-10): “Por último, apareceu também a mim, como a um abortivo. Pois eu sou o menor dos apóstolos e nem mereço o nome de apóstolo, pois eu persegui a Igreja de Deus. É pela graça de Deus que sou o que sou. E a graça que ele reservou para mim não foi estéril; a prova é que tenho trabalhado mais que todos eles, não propriamente eu, mas a graça de Deus comigo”. Os frutos de sua pregação foram notáveis, com o crescimento da Igreja, “que se consolidava e progredia no temor do Senhor e crescia em número com a ajuda do Espírito Santo” (At 9,31).
De lá para cá, a Igreja atravessou as vicissitudes da história com sempre e mais crescente confiança no Senhor. Como é santa pelo banho da regeneração que vem do próprio Cristo, ela sabe que pode superar as eventuais dificuldades, dentre as quais os pecados de seus membros, superando, com o auxílio da graça, os escândalos e falhas. A todos, pastores e fiéis, chega sempre o convite à conversão e mudança sincera de vida, a fim de corresponderem ao que receberam por puro presente do Senhor, já que “todo ramo que não dá fruto em mim, ele corta; e todo ramo que dá fruto, ele limpa, para que dê mais fruto ainda” (Jo 15, 2). Assim, é possível acreditar que sempre se consolida a obra do Evangelho em todas as partes do mundo.
Somos chamados a uma crescente fidelidade ao Senhor, reconhecendo nossas faltas e recomeçando sempre. A receita diária para saber se somos da verdade é oferecida pela Primeira Carta de João (3,18-29): “Não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade! Aí está o critério para saber que somos da verdade; e com isto tranquilizaremos na presença dele o nosso coração”.
No dia vinte e dois de abril, Deus chamou à sua presença o Padre Ange Alain Loba, natural da Costa do Marfim, Vigário Paroquial da Paróquia de Nossa Senhora das Vitórias, em Marituba, ordenado por mim no mês de janeiro do presente ano, incardinado em nossa Arquidiocese de Belém e membro da Comunidade Católica Obra de Maria. Dos mais de cento e cinquenta sacerdotes que ordenei, em quase vinte e um anos de episcopado, foi o primeiro chamado ao seio do Pai. Ele foi vítima de um ataque cardíaco fulminante. Tive a alegria, com o rosto molhado em lágrimas, de levar seu corpo ao seu país de origem, para sepultá-lo juntos dos seus, com a acolhida bem africana que ali encontrei. Padre Ange foi dos primeiros frutos vocacionais do apostolado da Comunidade Católica Obra de Maria naquele país, ao qual desejava voltar no futuro. Esta benemérita Comunidade Católica já está presente, numa incansável atuação missionária, em quatorze países, dentre eles seis no continente africano, evangelizando com alegria (Cf. Sl 99, 2)!
Ao presidir às suas exéquias em Marituba, vi os frutos lá deixados no meio dos paroquianos. O grupo de acólitos, por ele formado na prática da liturgia, expressava a comoção gerada pelo exemplo deixado. Morreu com um imenso sorriso, entregando a uma coroinha seus paramentos, pois se preparava para iniciar a Santa Missa de domingo. Os seminaristas residentes na Casa de Formação existente na Paróquia, falavam de sua capacidade de formar e corrigir de um modo profundo e mariano, com delicadeza, firmeza e coerência. Na presença do povo de Deus, dos sacerdotes, de membros de Comunidades religiosas e de muitas Comunidades de Vida e Aliança de nossa Arquidiocese, era claro o testemunho deixado de um sacerdote com perfil espiritual profundo e consistente. Como para Deus um dia é como mil anos e mil anos como um dia (Sl 89), o tempo curto de seu ministério entre nós adquire um valor de eternidade!
Este é apenas um dos frutos de nossa Igreja plantados no Céu. Por isso, confiantes da palavra do Senhor – “Se permanecerdes em mim, e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será dado.” (Jo 15,7) – pedimos que venham frutos de vida e santidade para nossa Igreja. Os muitos e quem sabe, escondidos, sacrifícios e ofertas feitos por tantas pessoas, frutifiquem em anúncio do Evangelho e conversão, em nosso processo de Evangelização no Projeto “Igreja de Belém em Missão”, e os que creem no Cristo tenham a liberdade verdadeira e a herança eterna, para testemunharem o amor de Deus e o mundo creia.