4 January 2011
A chegada das férias é uma oportunidade para viver de forma diferente do resto do ano. À luz do que supôs o V Encontro Mundial das Famílias, podemos propor-nos o período das férias como a ocasião para praticar o descanso em família. Encontramo-nos frente a um tempo para experimentar a alegria de viver uns com os outros, de dedicar-nos tempo, de prolongar os passeios, as refeições ou as conversas, desfrutando intensamente do encontro pessoal.
Para viver o descanso em família, é imprescindível gozar de paz interior, de paz pessoal e de paz familiar. Em muitas ocasiões, nossa sociedade incita a mobilizar as paixões das pessoas para conseguir tiranias de consumo que roubam o equilíbrio e a paz. São excessivas as mensagens que convidam a pensar somente em nós mesmos, a acumular cada vez mais, a buscar com desenfreio o luxo e a comodidade. As imprudências ao volante são um açoite de soberba e egolatria que semeiam a dor em centenas de famílias. Peço a todos uma especial precaução na grave responsabilidade que supões dirigir e da qual podem depender as vidas da nossa própria família. O Catecismo nos ensina que por trás de cada excesso esconde-se o que a Igreja chama de «pecados capitais»: a soberba, a avareza, a luxúria, a ira, a gula, a inveja e a preguiça. Detectar estas dinâmicas negativas da personalidade ajuda a começar a superá-las.
O anúncio do Evangelho buscou uma nova paz para os homens e mulheres dos dois últimos milênios. Todos nós podemos desfrutar do equilíbrio e da paz interior se estamos dispostos a aceitar a misericórdia de Deus e a praticar com os outros essa mesma misericórdia. Bento XVI anunciou com firmeza o papel insubstituível que a acolhida da misericórdia de Deus tem para conseguir a verdadeira paz em nosso mundo.
O ócio em família adquire uma dimensão nova se a acolhida da misericórdia de Deus for cultivada, e se for expressada na relação com os outros. Dias de sossego permitem considerar o mistério de amor que existe por trás de cada pessoa, de cada família. O Deus que se revelou em Jesus Cristo é Uno e Trino, é uma comunidade de vida e de amor, é um torrencial de misericórdia para todos nós, os seres humanos, seus filhos. A paixão, morte e ressurreição de Jesus, sua presença na Eucaristia, renovam o amor incondicional de Deus pelos homens e mulheres. Seu amor nos salva antes de nos julgar. O amor de Deus nos aceita em nossa debilidade e nos transforma, tornando-nos capazes de amar cada vez melhor.
Dias de maior tranqüilidade permitem aos pais comunicar aos seus filhos o mistério de amor que precede suas pessoas e sua família. Transmissão da vida e transmissão da fé caminham de mãos dadas quando sabemos reconhecer em nossas vidas a iniciativa amorosa de Deus, que deixa sua pegada em cada pessoa. Deus amou cada ser humano como ele é, desde toda a eternidade.
Muitas famílias têm de combinar suas férias com o cuidado dos seus avós ou de seus membros doentes. Outras famílias têm de apoiar seus filhos que devem estudar no verão. Outras experimentam penúrias econômicas e pouca possibilidade de gastar em viagens. Outras têm uma dor muito recente pela perda de um ente querido. Outras ainda têm a dura prova de um familiar cumprindo uma condenação. Todas estas circunstâncias difíceis adquirem uma nova luz quando são vistas sob o resplendor da misericórdia de Deus. São oportunidades para crescer pessoalmente, para sair da egolatria e desfrutar também com a companhia daquele que sofre.
No dia 17 de agosto de 2002, João Paulo II, na Polônia, consagrou o mundo à Misericórdia Divina. Desde o começo de seu pontificado, ele estava certo de que sua mensagem como Papa se concentrava em convencer os homens de nosso tempo de que sua liberdade, sua inteligência e sua capacidade de amar chegam à sua plenitude quando evitam toda soberba e se reconhecem à luz do amor de Deus. O V Encontro Mundial das Famílias foi um testemunho fervente desta realidade.
Queridas famílias: que possam desfrutar assim do seu descanso nas férias!
Com minha bênção e meu afeto,
+ Agustín (Dom Agustín García-Gasco, arcebispo de Valência e anfitrião do recente Encontro Mundial das Famílias).
Fonte: ZENIT