O Evangelho de Mateus abre o relato da pregação de Jesus com o surpreendente anúncio das bem-aventuranças.
Nelas, Jesus proclama “felizes”, ou seja, plenamente afortunados e realizados, todos aqueles que, aos olhos do mundo, são considerados perdedores ou sem sorte: os humildes, os que choram, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os puros no coração, os que promovem a paz.
A eles Deus faz grandes promessas: serão saciados e consolados por Ele mesmo, serão herdeiros da terra e do Seu reino.
Portanto, é uma verdadeira revolução cultural, que subverte a nossa visão, muitas vezes fechada e míope, que vê as pessoas dessa categoria como figuras marginais e insignificantes na luta pelo poder e pelo sucesso.
“Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.”
Na visão da Bíblia, a paz é fruto da salvação que Deus realiza. É, portanto, antes de mais nada um dom de Deus. É uma característica do próprio Deus, que ama a humanidade e toda a criação com um coração de Pai e tem para todos um projeto de concórdia e de harmonia. Por isso, quem labuta pela paz demonstra uma certa “semelhança” com Ele, como um filho.
Chiara Lubich escreve: Somente quem tem a paz dentro de si pode levá-la aos outros. É preciso levar a paz, antes de tudo, através dos próprios atos de cada momento, vivendo em pleno acordo com Deus e com sua vontade. (…) “… serão chamados filhos de Deus”. Receber um nome significa tornar-se o que esse nome exprime. Paulo chamava Deus de “o Deus da paz”. E quando saudava os cristãos dizia: “o Deus da paz esteja com todos vós”. Os que promovem paz manifestam seu parentesco com Deus, agem como filhos de Deus, dão testemunho de Deus que (…) imprimiu na sociedade humana a ordem, cujo fruto é a paz.
Viver em paz não é simplesmente viver sem conflito; também não é ter uma vida tranquila, fazendo certas concessões no que se refere aos valores, a fim de ser aceito sempre e de qualquer maneira. Pelo contrário: é um estilo de vida refinadamente conforme ao Evangelho, que exige a coragem de assumir escolhas contracorrente.
“Promover a paz” é sobretudo criar ocasiões de reconciliação na própria vida e na vida dos outros, em todos os níveis: em primeiro lugar com Deus e depois com aquele que está ao nosso lado na família, no trabalho, na escola, na paróquia e nas associações, nas relações sociais e internacionais. É, portanto, uma forma de amor ao próximo decisiva, uma grande obra de misericórdia que revigora todos os relacionamentos.
Foi isso que Jorge, um adolescente da Venezuela, decidiu fazer na sua escola: “Um dia, depois das aulas, percebi que meus colegas estavam se organizando para uma manifestação de protesto, durante a qual estavam decididos a usar a violência, incendiando carros e jogando pedras. Pensei logo que aquela atitude não estaria em sintonia com o meu estilo de vida. Propus então aos colegas que escrevêssemos uma carta à diretoria da escola. Assim poderíamos requisitar de um modo diferente as mesmas coisas que eles pensavam conseguir com a violência. Junto com alguns deles redigimos a carta e a entregamos ao diretor”.
“Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.”
Nestes tempos vem em relevo de modo particular a urgência de promover o diálogo e o encontro entre pessoas e grupos com história, tradições culturais, pontos de vista extremamente diferentes, demonstrando que se valoriza e se aceita essa variedade e riqueza.
Como disse recentemente o Papa Francisco: “A paz constrói-se no coro das diferenças. (…) E a partir destas diferenças aprendemos do outro, como irmãos (…). O nosso Pai é Uno, nós somos irmãos. Amemo-nos como irmãos. E se discutirmos entre nós, que seja como irmãos, que se reconciliam imediatamente, que voltam a ser sempre irmãos” .
Também podemos nos empenhar em conhecer as sementes de paz e fraternidade que já tornam nossas cidades mais abertas e humanas. É importante ocupar-se delas e fazê-las crescer. Assim estaremos contribuindo para remediar as fraturas e os conflitos que as atravessam.
Letizia Magri
Source: Site Internacional