Por Dom Jesús Sanz Montes, ofm, arcebispo de Oviedo
Apresentamos a meditação escrita por Dom Jesús Sanz Montes, OFM, arcebispo de Oviedo, administrador apostólico de Huesca e Jaca, sobre o Evangelho deste domingo (Lucas 14,1.7-14), 22º do Tempo Comum.
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Jesus não prestava atenção somente nos lírios do campo, nos pássaros do céu, mas também era um profundo observador da conduta humana: das crianças simples e sem falsidade, das viúvas que oferecem tudo o que têm, dos pecadores que, no fundo, têm um coração aberto ao perdão e ao arrependimento… E também prestará atenção nos aparentes, nos que caminham pela vida da propaganda e da etiqueta.
Jesus foi convidado à casa de um dos fariseus num sábado. Tanto Ele como os outros, todos observavam mutuamente aquele convite. O que Jesus viu? Que as pessoas procuravam se sentar nos primeiros lugares, para sair na foto da sociedade do lugar, para estar na boca do povo e sentir-se na passarela da influência e do renome.
Jesus falará sempre da verdade, pela verdade morrerá, da verdade se autodefinirá. Jamais a partir da aparência. Porque a aparência é sempre uma mentira, mais ou menos camuflada, mais ou menos procurada e querida. Ser o que no fundo não se é, aparentar e passar a perna, usar máscaras, viver num eterno carnaval. Uma pessoa assim, que vive a vida com sua fantasia particular (pouco importa se tal fantasia é ideológica, cultural, econômica ou inclusive religiosa), é uma pessoa vendida a si mesma, às suas pretensões; uma pessoa escrava das suas próprias correntes, e por isso inábil para a liberdade e para a simplicidade.
"Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar" ( Lc 14, 8). Não só pelo mal-estar que pode supor depois o fato de o anfitrião tirá-lo do seu podium e devolver-lhe à sua crua realidade, mas porque quem tem pretensões indevidas, quem vai como "capa de revista", é difícil que compreenda sua dignidade e a dos demais, quando tão ocupado está com sua aparência.
São Francisco dirá isso com sua proverbial simplicidade: "Somos o que somos diante de Deus e não mais" (Admoestação 19). Só quem experimentou a liberdade de ser e de querer ser o que somos aos olhos de Deus, somente esse pode entender Jesus. São os olhos do Senhor que nos guiam na senda verdadeira, que nos conduzem a reempreender o caminho sempre que nos cansamos de andar, que nos desviam quando nossos passos se torcem, que se tornam luz e graça para caminhar. Os olhos de Deus não enganam nunca, não humilham jamais, iluminam sem cegar. Feliz quem vive assim, simplesmente, porque experimentará o que é viver na paz, na liberdade, sem ansiedades devoradoras, sem poses hipócritas, sem truques fictícios… Sendo quem somos diante de nós mesmos e diante dos outros, o que somos diante de Deus.
ZENIT, 27/08/2010