Por Dom Jesús Sanz Montes, ofm, arcebispo de Oviedo
Apresentamos a meditação escrita por Dom Jesús Sanz Montes, OFM, arcebispo de Oviedo, administrador apostólico de Huesca e Jaca, sobre o Evangelho deste domingo (Lucas 20,27-38), 32º do Tempo Comum.
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Na companhia de São Lucas, o ano litúrgico vai chegando ao seu fim, e com ele também seu relato da viagem de Jesus a Jerusalém, término da sua vida terrena. Por isso, o tema que nos acompanhará nestes três últimos domingos do nosso ano cristão será o da passagem à vida nova.
É possível que algumas pregações sobre os "novíssimos" (morte, juízo, eternidade) tenham sido inadequadas, gerando mais um pânico temeroso que uma esperança serena. A Igreja, fiel à herança do seu Senhor, não pretende acurralar a liberdade do homem entre medos e ameaças. Porém, não é por isso que vai se calar sobre o destino feliz ou infeliz que nos aguarda na terra definitiva, nesse lar do Pai Deus no qual Jesus nos preparou uma morada.
Mas não é a mesma coisa acreditar na vida eterna e acreditar na vida longa, e hoje se pratica um frenético culto à vida longa, com toda uma ascética, quase religiosa: academia, dietas, tratamentos… Tudo isso, certamente, é bom, mas deixa de sê-lo quando esmaga o horizonte existencial do homem, quando reduz a estima e a paixão pela vida a uma questão de estética ou de cosmética. Confundir a felicidade com uma fórmula antirrugas ou com uma dieta emagrecedora é trocar a eternidade pela longevidade, a casa de Deus pela academia, a adesão à vida inteira pelo apego à juventude.
Haverá um momento de grande verdade para todos, um momento no qual se veri-ficará (fazer a verdade) nossa vida: o momento da morte. Então, despidos de posses e de interesses criados, poderemos veri-ficar aquilo que São Francisco dizia: "Somos o que somos diante de Deus, nem mais, nem menos" (Admoestação 19).
A eternidade já começou para nós com a vida. Somos imortais. Viver tendo presente esse momento significa viver com a vontade de não querer improvisá-lo como quem se resiste frente a um encontro indesejado, mas inevitável. O importante é viver no cotidiano sendo o que somos na mente e no coração de Deus, isto é, realizando seu projeto, seu desígnio sobre nós, seu plano sobre todos e cada um.
Nosso coração exige de nós que as coisas mais belas, as mais amadas – começando pela própria vida e pelo próprio amor – não tenham ocaso. Este é nosso destino feliz, bem-aventurado e abençoado, que já começou, ainda que não tenha chegado à sua plena manifestação.
ZENIT, 05/10/2011