Por Dom Jesús Sanz Montes, ofm, bispo de Huesca e de Jaca
Publicamos o comentário ao Evangelho deste domingo, 32º do Tempo Comum (Mc 12,38-44), preparado por Dom Jesús Sanz Montes, ofm, bispo de Huesca e de Jaca.
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O texto deste domingo nos traz a deliciosa cena de um Jesus que observa o que está ocorrendo nas imediações do templo de Jerusalém e faz de sua observação um belíssimo ensinamento.
Diante dos seus olhos, aparecem os letrados e fariseus, essa gente importante, pessoas reconhecidas, autorizadíssimas por suas próprias leis, que iam e vinham ao templo dando-se uma importância arrogante.
Jesus sinaliza não somente o uso pertinaz que estes personagens tinham, mas também o abuso injusto que eles praticavam, aproveitando-se das camadas mais baixas daquela sociedade, como no caso das viúvas.
E junto a esse grupo que assim usa e abusa, o Senhor observa precisamente uma viúva que chega ao templo sem alarde nem presunção e lá, no lugar das oferendas, ela contrastava com outras pessoas ricas e importantes que faziam doações em abundância. Aquela pobre mulher não: ela só doou duas moedas.
Ao contrário da viúva de Sarepta – dela nos fala a 1ª leitura (1Rs 17,10-16) –, cuja pobre doação foi abençoada por Deus, que fez um milagre de abundância onde só havia escassez, a viúva do Evangelho não será chamada por Jesus para receber um prêmio, de certa forma evidenciando diante dos demais seu gesto generoso.
Não há dúvida de que esta boa mulher teria recebido o cêntuplo em seu encontro com Deus, mas por enquanto nem sequer esse reconhecimento nossa protagonista recebeu.
No entanto, Jesus a viu e a elogiou, até o ponto de colocá-la como exemplo. Da mesma forma como viu os letrados e os mostrou como maus exemplos. Nada foge do olhar de Deus.
O que foi que Jesus viu nessa viúva? O fato de ela ter dado tudo. Por pouco que fosse, isso era tudo o que ela tinha. O prêmio da mulher estava na paz e na falta total de agonia asfixiante, porque ela vivia na liberdade de quem nada tem para defender, porque já entregou tudo. Curiosamente, os que vivem assim têm essa felicidade impossível de alcançar pelos que se resistem a dar tudo.
E aqui se destaca o paradoxo evangélico: quem entrega, tem; quem retém, ficará sem nada. Com certeza, já experimentamos isso muitas vezes a propósito do perdão: quem se resiste a perdoar, quem quer continuar sendo rico das suas razões, acaba frequentemente na solidão, no ressentimento e na amargura, enquanto quem, ainda tendo razões, sabe “perdê-las”, acaba encontrando uma alegria inusitada, uma paz inesperada.
Dar tudo, gratuitamente, como gratuitamente recebemos, e assim também nós experimentaremos que as promessas de Jesus não são vazias. Somos o que somos diante de Deus e nada mais.
ZENIT, 06/11/2009