Por Dom Jesús Sanz Montes, ofm, bispo de Huesca e de Jaca
Publicamos o comentário ao Evangelho deste domingo, 29º do Tempo Comum (Mc 10,35-45), redigido por Dom Jesús Sanz Montes, ofm, bispo de Huesca e de Jaca, Espanha..
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O Evangelho deste domingo volta a ter esse tom assustador, frente a um Jesus que diz qual é a meta à qual se dirige: a entrega, o juízo, a morte. E ao mesmo tempo, aqueles dos quais poderíamos esperar um maior entendimento daquilo que o Mestre anunciava, são vistos ocupados em algo tão banal como andar julgando os cargos de poder, as influências fáceis.
Existe uma diferença abismal entre o drama de Jesus e a frivolidade dos discípulos. Parece igual, mas não é a mesma coisa o cargo e a carga, o ministro e o servidor. Talvez o uso e o abuso destas palavras, etimologicamente iguais, façam que, na prática, sejam algo tão diferente, inclusive tão oposto. Os filhos de Zebedeu falavam de cargos e de ministérios. Jesus falava da carga doce e humilde do serviço.
Depois virá o escândalo dos demais discípulos, quando ficaram sabendo das maquinações de João e Tiago. Mas tampouco eles demonstrarão ter compreendido mais do que esses dois, de forma que Jesus está sozinho diante do seu próprio drama de amor excessivo por aqueles que não entendem nada.
Esta não será a última incompreensão daqueles que seguiram Jesus mais de perto. Ninguém menos que Pedro tentará persuadir o Mestre para que não suba a Jerusalém, se a viagem parece tão arriscada. Por que não permanecer ali, já que as coisas estão tão bem, já que há muitos elogios, aplausos e reconhecimento por parte das pessoas que são curadas, instruídas, alimentadas? E a resposta de Jesus a Pedro, como aos filhos de Zebedeu do Evangelho deste domingo, vai ser a mesma: eu não vim para seguir uma carreira, mas para servir, e servir significa dar a vida, no concreto e até o final.
A tentação é a de sempre: a prepotência incontestável, o prestígio suntuoso, a influência grandiloquente. A palavra de Jesus, avalizada pela sua vida até o final, segue outro caminho. E os grandes santos, como os grandes profetas de sempre, ofereceram-nos, em suas palavras e ações, o melhor comentário a este Evangelho do domingo: não fazer como os grandes deste mundo, os enganosos, que vivem de aparência e de passarela, mas ser concretos em nossa forma de servir, de dar a vida em cada pedaço do caminho, em cada gesto e situação: acolher, escutar, oferecer, perdoar, compartilhar, animar, vendar feridas interiores ou exteriores, anunciar a Boa Notícia do bom Deus.
A que serviço concreto, salvador, misericordioso Deus está convidando cada um de nós?
Zenit, 16 de outubro de 2009
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