Por Dom Jesús Sanz Montes, ofm, arcebispo de Oviedo
Apresentamos a meditação escrita por Dom Jesús Sanz Montes, OFM, arcebispo de Oviedo, administrador apostólico de Huesca e Jaca, sobre o Evangelho deste 4º domingo da Páscoa (Jo 10,27-30).
O Bom Pastor era uma imagem próxima para aqueles ouvintes de Jesus, tão acostumados ao pastoreio, tanto em sua vida nômade como na assentada. Mas aquela parábola era quase uma crônica autobiográfica de Jesus em relação àquelas pessoas: não ser estranho nem estranhar-se, dar vida e dar-se na vida, até dar a alma antes que alguém possa tirá-las das suas mãos. Aqui se desenhava o estupor diante de Jesus, experimentado por aqueles que ouviam sua voz e já não deixariam de reconhecê-la, permanecendo junto a Ele.
Nessa convivência com Jesus, rapidamente se entendia seu "segredo". E consistia em que esse Mestre não estava órfão: tinha um Pai, em cujas mãos Jesus cuidava das suas ovelhas; e delas ninguém poderia arrebatá-las. Jesus, o Pai, nós. O Pastor, o rebanho, as ovelhas. Como na metáfora do Evangelho e como na vida de cada dia.
Em nosso mundo, existem tantas vozes de pessoas que se oferecem para "cuidar" de nós e velar pelas nossas mil "seguranças"… Mas a pessoa acaba suspeitando de tanto favor "desinteressado", quando no fundo acaba ficando à intempérie, carregada de avisos, de normas, de recortes, de interesses e controles, de ameaças… E esses "cuidadores", com pouco coração, buscam talvez somente que compremos sua marca, votemos em seu partido, apoiemos seu negócio. O bom Pastor não tinha nenhum desses preços, porque para Ele, dar a vida é algo que se faz gratuitamente, por amor.
Não obstante, aquele Bom Pastor não ficou lá, há dois mil anos. Ele prometeu sua presença e proximidade até o final dos tempos. Seremos "ovelhas" desse tão Bom Pastor se também nós ouvirmos a sua voz, palparmos sua vida de doação e as mãos do Pai, das quais ninguém poderá nos tirar.
Na medida em que permanecemos nesse Bom Pastor, nosso coração cresce e se vê rodeado de uma paz que não engana, de uma esperança sem traição. Temos necessidade de pastores que nos recordem as atitudes do Bom Pastor, e devemos pedir ao Senhor que nos abençoe com muitos e santos sacerdotes, segundo o coração de Deus.
Mas cada um, a partir da vocação que tiver recebido, deve testemunhar o que supõe a companhia de tão Bom Pastor: deixar-se pastorear é deixar-se conduzir rumo ao destino feliz para o qual fomos criados, para que aquilo que Ele nos prometeu continue se cumprindo, e isso encha de alegria nosso coração, dessa alegria da Páscoa, que, como as ovelhas de Jesus, nas mãos do Pai, ninguém poderá nos roubar.
ZENIT, 22/04/2010