Meditação de Dom Jesús Sanz Montes, ofm, bispo de Huesca e de Jaca
Publicamos o comentário do Evangelho deste domingo (Mc 8,27-35), 24º do Tempo Comum, redigido por Dom Jesús Sanz Montes, ofm, bispo de Huesca e de Jaca (Espanha).
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Tudo caminhava muito bem naquela comunidade que ia se forjando em torno desse Mestre especial nazareno. Mas de repente, Jesus quer fazer uma espécie de sondagem, uma "prova de setembro": "Quem dizem os homens que eu sou?". E então os discípulos foram compondo o mapa estatístico: João Batista, Elias, um dos profetas. Eram os comentários adivinhadores do que as pessoas pensavam de Jesus.
Mas a estatística que mais importava a Jesus era o que seus discípulos pensavam sobre Ele. Então, Pedro fará uma memorável confissão: "Tu és o Messias". Mas Jesus, talvez um pouco perplexo por uma resposta tão clara e tão justa, proíbe que divulguem esta verdade que Pedro acaba de pronunciar: não era conveniente que se soubesse, por enquanto, que Jesus era o Messias, talvez pelas conotações políticas que havia na época sobre o messianismo, e era preciso purificá-lo de falsas expectativas, pois, do contrário, poderiam esperar do Messias Jesus o que ele não tinha vindo dar nem oferecer.
Se por acaso não tivessem compreendido, Jesus começou a instruir seus discípulos para explicar-lhes o alcance verdadeiro de sua identidade messiânica: "o Filho do Homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei; devia ser morto, e ressuscitar depois de três dias". Foi como um balde de água fria. Qual era o propósito desse comentário infeliz, sobre condenação, execuções e uma incompreensível ressurreição que ninguém entendia?
Pedro, talvez animado pelo seu recente êxito, teve um "gesto" com seu Mestre: repreendendo Jesus, queria salvar seu Salvador. Mas Jesus lhe responderá: "Vai para longe de mim, Satanás! Tu não pensas como Deus, e sim como os homens". É uma mudança de cena de um dramatismo tremendo. Pedro passa de ser, quase ao mesmo tempo, alguém através de quem o Pai fala e alguém através de quem Satanás grita, capaz do melhor e do pior… Nessa agridoce e claro-escura posição nos encontramos todos, sendo tantas vezes testemunhas da luz e da verdade e, se mudam as circunstâncias, negociantes das trevas e da mentira… depende da proposta da concorrência.
Jesus termina com um convite sem rodeios: sua verdade e missão não nascem de pesquisas de opinião nem dependem de um momento melhor ou pior dos seus discípulos. A questão decisiva é poder responder quem é Jesus, em comunhão com a Igreja e todas as testemunhas santas. Para esta resposta, não vale o que os outros dizem, nem uma retórica teórica, mas a que se torna seguimento, companhia do Senhor no concreto da vida à qual cada um foi chamado.
Fonte: ZENIT, 11 de setembro de 2009