Publicamos o comentário sobre o Evangelho deste domingo, 23º do Tempo Comum (Mc 7, 31-37), escrito por Dom Santiago Agrelo OFM, arcebispo de Tánger (Marrocos).
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Naquele tempo, Jesus saiu de novo da região de Tiro, passou por Sidônia e continuou até o mar da Galileia, atravessando a região da Decápole.
Trouxeram então um homem surdo, que falava com dificuldade, e pediram que Jesus lhe impusesse a mão. Jesus afastou-se com o homem, para fora da multidão; em seguida, colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou a língua dele. Olhando para o céu, suspirou e disse: “Efatá!”, que quer dizer: “Abre-te!”
Imediatamente seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade. Jesus recomendou com insistência que não contassem a ninguém. Mas, quanto mais ele recomendava, mais eles divulgavam. Muito impressionados, diziam: “Ele tem feito bem todas as coisas: Aos surdos faz ouvir e aos mudos falar”.
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Efatá é o nome de uma escola em Tánger, de educação especial para crianças surdas e mudas. Efatá foi a palavra que Jesus pronunciou antes que o surdo experimentasse que “seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade”. E este é o nome que recebe na celebração do Batismo cristão um rito que recorda e atualiza o que Jesus fez quando curou aquele surdo que gaguejava. Naquele dia, o celebrante, tocando com o dedo polegar seus ouvidos e sua boca, disse: “O Senhor Jesus, que fez os surdos ouvirem e os mudos falarem, lhe conceda que possa logo ouvir sua Palavra e professar a fé para louvor e glória de Deus Pai.”
Efatá é uma palavra chave na liturgia deste domingo; palavra que o Senhor pronuncia hoje para todos e que tem, para cada um de nós, uma ressonância pessoal.
Você pode intuir que esta Efatá, foi a palavra dita pelo Senhor quando o mar se abriu para a passagem dos escravos rumo à liberdade.
Vossa voz, ó Deus, ressoou no deserto: “Efatá!”, para que o céu desse seu pão e a rocha desse sua água. “Efatá!”, dissestes, e abristes, como com uma faca, as águas do Jordão, que se tornaram porta pela qual entraram vossos filhos à terra das vossas promessas.
“Efatá!”, disse Deus, e se abriram os céus sobre o batismo de Jesus e sobre a humildade do seu batismo; e se abriu o paraíso sobre a cruz de Jesus, e o paraíso ficou à mercê dos ladrões; e se abriram os sepulcros, e os vencidos fugiram da morte.
Não diga “Abrir-se-ão os olhos do cego e os ouvidos do surdo”, porque a palavra se cumpriu, a profecia já é evangelho, a promessa se tornou realidade e agora, com Cristo, o Senhor, em comunhão com Cristo ressuscitado, você, que estava morto, vê e escuta e entra com Ele pelas portas abertas de Deus.
“Louva, alma minha, o Senhor!”
Por Dom Santiago Agrelo, arcebispo de Tánger (Marrocos), 04.09.2009 (Fonte: Zenit)