Por Dom Jesús Sanz Montes, ofm
Apresentamos o comentário ao Evangelho do domingo 2 de maio, quinto de Páscoa (João 13, 31-35), escrito por Dom Jesús Sanz Montes, ofm, arcebispo de Oviedo, administrador apostólico de Huesca y Jaca (Espanha).
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O texto que o Evangelho deste domingo nos apresenta é quase um prolongamento do que escutávamos no domingo passado. Porque a consequência de nos sabermos pastoreados por Jesus, Bom Pastor de nossas vidas, é justamente não sermos lobos para ninguém. E a consequência de estar nesse redil que são as mãos do Pai, onde somos conhecidos por nosso nome, é precisamente não ser estranhos para ninguém.
Este texto está tomado do Testamento de Jesus, de sua Oração Sacerdotal. Tudo a ponto de cumprir-se, como quem escrupulosamente se esmera em viver o que dele Outro esperava, mas não como se fosse um roteiro artificial e sem entranhas, mas como quem realiza até o fundo e até o fim um projeto, um plano de amor. E toda essa vida nascida para curar, para iluminar e para salvar está a ponto de ser sacrificada, em cuja entrega se dará glória a Deus. Pode parecer até inclusive mórbida essa visão de morte, ou como sempre sucede, para uns será escândalo e para outros, loucura (cf. 1Cor 1,18), riso e frivolidade para quem jamais intuiu que o amor não consiste em dar muitas coisas, mas basta uma só: doar-se a si mesmo, de uma vez e para sempre.
Neste contexto de dramatismo doce, de tensão serena, Jesus deixa um mandato novo aos seus: amar-se reciprocamente como Ele amou. Por que Jesus amou de outra maneira, como nunca antes e nunca depois. Essa era a novidade radical e escandalosa: amar até o fim, cada pessoa, nos momentos sublimes, assim como nos banais e cotidianos.
O apaixonante de ser cristão, de seguir Jesus, é que aquilo que sucedeu há 2 mil anos volta a acontecer… quando por nós e por nossa forma de amar e de nos amar, reconhecem que somos de Cristo. Mais ainda: que somos Cristo, Ele em nós. É o acontecimento que continua. Quem ama assim, deixa então que Outro ame nele, e o mundo vai-se preenchendo daquilo que esse Outro – Jesus – foi e é: luz, bondade, paz, graça, perdão, alegria… Esta é nossa senha, nosso uniforme, nossa revolução: amar como Ele, e ser por isso reconhecidos como pertencentes a Jesus e aos de Jesus: sua Igreja.
ZENIT, 30/04/2010