Por Dom Jesús Sanz Montes, of
Publicamos o comentário ao Evangelho do próximo domingo, 14 de novembro, XXXIII do tempo comum (Lucas 21,5-19), redigido por Dom Jesús Sanz Montes, ofm, arcebispo de Oviedo (Espanha).
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O Evangelho deste domingo nos deixa uma sensação agridoce, com um certo desconcerto. As diversas respostas de Jesus indicavam a seus ouvintes que tudo estava inacabado, inseguro. Até a beleza do Templo era frágil e sua solidez ameaçava: “não ficará pedra sobre pedra”. Surgirão profetas falsos uma vez mais, virão guerras, catástrofes, espantos. E aos discípulos, dirá: vos perseguirão, entregando-vos aos tribunais e ao cárcere, e vos farão comparecer perante governadores por causa de meu nome. Até os mais próximos, como pais, irmãos, parentes e amigos, vos odiarão, trairão e inclusive matarão por causa de seu nome.
Muitas vezes surgiu a tentação de fazer do Cristianismo uma espécie de vergel, de tranquilo paraíso onde se evadir de um mundo corrupto e caduco que se empenha em não viver “como Deus manda”. Mas o Cristianismo não foi presenteado por Deus como uma “bolha de paz”. De fato, os melhores filhos da Igreja tiveram de sofrer perseguição, incompreensão e martírio de tantos modos, “por causa do meu nome” (Lc 21,12). Viver em seu Nome, dizendo seu Nome, sendo seu Nome.
Jesus e o Cristianismo não são um sedativo para nossas moléstias sociais, nem um hipnótico para perpetuar privilégios. Não provocam alucinações, mas compromissos. Os cristãos somos chamados a pertencer à história d’Aquele que foi anunciado como “sinal de contradição”, e que veio para trazer o fogo e a espada, quer dizer, portador da Luz e porta-voz da Verdade, em um mundo que com muita frequência compactua com a obscuridade e a mentira.
Mas este Evangelho, ainda que duro, não é de tirar a esperança. Diz-nos Jesus: “não tenham medo”. Ele prometeu nos dar palavras e sabedoria para fazer frente a qualquer adversário. O que importa é que essa Presença e essa Palavra por Ele prometidas ressoem e reflitam-se na vida da comunidade cristã e na de cada cristão particular.
O Cristianismo não é uma aventura para fugir do mundo, mas uma urgência para transformá-lo segundo o projeto de Deus, em Nome do Senhor. Os cristãos não são os do eterno poderio ou os da eterna oposição, mas os eternos discípulos do único Mestre. Pondo o melhor de nós mesmos para que em cada rincão da história possa seguir escutando a Boa Nova de Jesus e fazendo realidade o dom imerecido de seu Reino, que a Igreja em cada época não deixa de anunciar.
ZENIT, 12/11/2010