Por Dom Jesús Sanz Montes, ofm, bispo de Huesca e de Jaca
Publicamos o comentário ao Evangelho deste domingo, 33º do Tempo Comum (Marcos 13,24-32), redigido por Dom Jesús Sanz Montes, ofm, bispo de Huesca e de Jaca (Espanha).
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Lendo o Evangelho deste domingo, poderia parecer que o próprio Jesus adotou alguma vez um estilo provocador para suscitar nos seus ouvintes algo mais que uma atenção passiva e curiosa das suas palavras: de que adianta que vocês me escutem, se depois não há uma mudança real nas suas vidas? De que adianta que memorizem meus fatos e palavras, se depois sua existência de cada dia é tão pouco reflexo do que vocês escutam e contemplam?
E então pareceria útil tentá-lo pela via do susto ou pelo caminho da ameaça implacável. Não obstante, não há nada disso nas palavras do Senhor, nem tampouco é isso que a liturgia deste domingo pretende.
Não é a ameaça nem o medo que se lê neste Evangelho. O que é, então?
“Naqueles dias… Naquele tempo”: assim começam as leituras da Missa deste domingo, referindo-se a algo que está por acontecer. “Depois da grande tribulação, o sol se transformará em trevas, a lua não dará seu resplendor, as estrelas cairão do céu, os exércitos celestes tremerão…”
Esta descrição apocalíptica do Evangelho de Marcos, assustadora em si mesma, seria mais terrível ainda se tudo terminasse aqui. Então, sim, poderiam nos amedrontar as calamidades. Mas a última palavra não é do cataclismo, da barbárie, de todo tipo de injustiças que nos apresenta a crônica diária de cada pedaço da história, porque depois que tudo isso acontecer, ainda restará uma palavra para ser escutada.
O Evangelho deste domingo é uma mensagem de esperança, de convite a preparar já este final esperançado. Porque, após todas as trevas e tribulações, depois de todos os horrores e os erros do nosso caminho humano, virá o Filho do Homem para nos dizer sua palavra eterna, a que fez tudo e a única que não passará; para devolver-nos com força e com ternura a verdade da nossa vida.
Não se trata de temer este último dia como quem teme um final sem piedade, mas de viver esse final atrevendo-nos a ir escutando já, a cada dia, essa palavra que escutaremos dos lábios de Jesus Cristo. Não será que o nosso mundo tem necessidade de testemunhas que escutem essa palavra, que dêem exemplo dela em cada situação e circunstância?
Nós, cristãos, somos chamados a antecipar essa hora última, quando em nós se pode escutar outra palavra capaz de recriar todas as coisas, de torná-las novas outra vez, e não fugazmente, mas já para sempre, cada dia. Este é o tempo cristão, é o tempo de Deus.
ZENIT, 13/11/2009