Ter, 13 de Julho de 2010 13:28 cnbb
Vamos combinar uma coisa. Ninguém de nós vai ficar nervoso sem necessidade. O assunto a ser abordado poderia causar transtornos circulatórios. O ar, a água e a terra são bens inestimáveis que nos vem do Criador, e devem estar ao alcance de todos. “Não havia entre eles necessitados” (At 3, 34). O que dizer se no alto de uma escada houvesse dez copos de água para dez sedentos? Se o mais saudável conseguir se antecipar aos outros, e sorver sete copos, e deixar para os outros nove apenas três copos, isso se pode considerar solução fraterna? É o que pode acontecer com a posse da terra no Brasil. Calma. A conversa não é contra os legítimos proprietários de terra, que nela trabalham, e arrancam farta alimentação para a população. Sabemos que 2% da população detém 60% das terras. E não são eles os principais produtores que alimentam a nação. Quem produz imensamente mais são os pequenos e médios proprietários. Estes não são objeto de reajustamento. O que se quer é forçar os que são possuidores de verdadeiras sesmarias, a abrirem mão do seu excesso. É bom saber que a terra não é mais a única fonte de riqueza, mas hoje vale muito o conhecimento. Por que o povo simples, que tem vocação agrícola, não pode ter o seu chão para trabalhar, uma vez que este é a fonte de dignidade de sua vida e de sua riqueza?
Fala-se agora em fazer um plebiscito para estabelecer o tamanho máximo de uma propriedade rural. O limite máximo se estabeleceu na maioria dos países modernos. Comenta-se que aqui seriam 35 módulos fiscais, o que varia de Estado para Estado. Em alguns seriam 40 hectares, em outros 150… A querida CNBB sempre foi a favor da justa reforma agrária, mas não foi ela que estabeleceu tal limite (que eu considero muito pequeno). Isso foi promovido pelo Fórum Nacional de Reforma Agrária, e recebeu o apoio das Pastorais Sociais da CNBB. Embora a última Assembléia episcopal tenha debatido “Igreja e Questão Agrária no Início do Século XXI”, não houve palavra definitiva dos Bispos sobre tal plebiscito. Não se discutiu o tamanho do módulo, nem a quem pertenceria o território que ultrapassasse tal área. Em suma, sem querer contrariar os notáveis da República, considero que seria muito bom discutir melhor assunto tão melindroso, e de grande importância. Queremos “paz na terra”.
Dom Aloísio Roque Oppermann, SCJ – Arcebispo de Uberaba, MG