Papa Francisco toma chimarrão – AFP
14/03/2015 09:00
Cidade do Vaticano (RV) – O mundo católico, cristão e não cristão festejou ontem o segundo ano da eleição à cátedra de Pedro de Jorge Mario Bergoglio, o homem que “veio do fim do mundo”. A “festa” foi espiritual e não mundana: o mundo parou para rezar por este homem, parou para rezar por Francisco.
O gesto inesperado, humilde e cheio de responsabilidade de Bento XVI proporcionou a eleição de Bergoglio como Bispo de Roma. Dias atrás visitando uma paróquia romana uma menina perguntou-lhe se era feliz como Papa. Respondeu que ele era feliz como bispo da diocese precedente (Buenos Aires), “daí – disse – mandaram-me para outra diocese, e agora estou muito feliz na nova diocese”. Resposta simples para dizer que aceitou totalmente a missão que os cardeais reunidos em Conclave, lhe confiaram, mas acima de tudo que Deus lhe confiou.
Pensar nestes dois anos de pontificado de Francisco é pensar em um “tsunami” de fé, que envolveu a Igreja em todas as partes do mundo. Sim, foi uma tempestade de otimismo que investiu o mundo católico e chegou a fazer com que muitos fiéis, distantes da Igreja, retornassem à sua fé e à sua Igreja.
O carisma de Francisco deu vida à publicação de livros, artigos, comentários, tentando explicar e fazer conhecer a vida desse homem que conquistou multidões com o seu jeito simples de ser.
O seu jeito de “pároco do mundo”, os seus gestos, tocaram os corações de pequenos e grandes, de fiéis fervorosos e de mornos peregrinos nesta vida. Mas todos são concordes em afirmar que algo de novo está acontecendo, e que algo tocou seus corações. Francisco diz sempre que não é ele o centro, mas Cristo, ele não toca ninguém, é Cristo quem toca, que chama, converte.
Os gestos de Francisco, desde a carícia a uma criança, a um enfermo, a um idoso, até as expressões corporais com o positivo, dedo para cima, o tomar chimarrão em plena Praça São Pedro, aproximaram ainda mais o Papa, o Pastor, de suas ovelhas. Sim porque o povo vê nestes gestos simples, a fórmula de um amor que se transforma em serviço, sem barreiras, sem distâncias. É o Papa que está conosco, dizem, que fala comigo, que tira fotos comigo, que me abençoa.
Uma nova imagem de Papa escreveu certa vez alguém, acompanhada pelo novo modo de ser, pela sua simplicidade como indicado no nome que escolheu, Francisco, pelo seu modo de falar e conquistar.
Os dois anos de pontificado de Bergoglio estão condensados em um documento pragmático publicado em forma de Exortação Apostólica, “Evangelii gaudium”, que dá o tom de ação de uma Igreja tão desejada por ele, “uma igreja pobre, para os pobres e no meio dos pobres”. Um texto que abrange várias temáticas, da economia à ética, da inclusão social à conversão.
Neste pouco tempo de pontificado uma das características desenvolvidas por Francisco foi a “teologia do encontro” do “diálogo”; um novo modo e falar chegando a criar novas expressões, um pouco italianas, um pouco espanholas como “mafiarsi”, referindo-se à máfia. Mas também cunhou expressões que hoje fazem parte do nosso vocabulário de cristãos: globalização da indiferença, globalização do descarte etc… Estamos falando o “bergogliês”.
E como dissemos antes, a comunicação de Francisco não é uma comunicação só de palavras. Basta pensar nas primeiras decisões e gestos que Francisco fez. Foi viver na Casa Santa Marta, junto com os hóspedes que ali passam frequentemente, abandonando os apartamentos pontifícios, aonde vai somente para trabalhar, para as audiências.
Outro gesto que deixou colaboradores e fiéis sem palavras foi o uso do telefone… sim, pegar o telefone, ação tão comum e normal para nós… mas talvez não para o Papa. Mas Francisco não se esqueceu de onde veio, pois também na sua Buenos Aires utilizava o telefone para saber como estavam os seus fiéis, como estavam seus amigos. O mesmo continuou fazendo no Vaticano, com a diferença de que muitos desses telefonemas foram para pessoas desconhecidas que precisavam naquele momento de uma palavra de conforto, de estímulo. O telefone toca: “Sou o Papa Francisco”, diz uma voz de um dos lados da linha. Imaginem a surpresa de quem recebe a chamada na outra ponta da linha.
Passaram-se somente dois anos, mas foram dois anos de muita intensidade, de sulcos profundos que marcaram a vida da Igreja e de milhões de pessoas. Certamente no futuro não faltarão surpresas inspiradas pelo Espírito que Francisco irá propor após muito discernimento e oração.
Não existe uma revolução papal mas sim a continuação de uma apostolado feito de amor e serviço. Se existe uma revolução é a revolução do “joelho”, sim dos joelhos dobrados, em oração. Francisco nos ensinou a dobrar os joelhos e dialogar com o Pai.
Uma missão que Francisco desempenha sem meias palavras apresentando a misericórdia e a ternura de Deus. Centro de tudo, o Evangelho, lido, rezado, meditado, proclamado e comentado de modo simples por um “homem simples” que com as suas homilias na Casa Santa Marta, sacode o pó das nossas vidas adormecidas.
Gestos e palavras que tocam corações, despertam conversões e fazem repensar a fé: o mundo ganhou nova esperança com Francisco. (Silvonei José)