Dom Rafael Biernaski
Bispo de Blumenau(SC)
Tempo de renovação para a Igreja, para as comunidades e para cada um dos fiéis, a Quaresma é sobretudo um “tempo favorável” de graça (2Cor 6,2). Tempo de abertura ao mistério da dor e da morte, da cruz, do Crucificado, vencedor da morte. Graças à escuta da Palavra de Deus, percorremos um itinerário que nos deixa intuir a vida cristã na liberdade e na verdade de sermos filhos e filhas de Deus. “Nós amamos, porque Ele nos amou primeiro” (1Jo 4,19). Ele não nos olha com indiferença; pelo contrário, conhece-nos pelo nome, cuida de nós e vai à nossa procura, quando O deixamos.
A Igreja nos recorda que esse caminho de vida nova em Cristo e com Cristo pede jejum, oração e esmola. O jejum ajuda a esvaziar-se, abrir- -se ao outro. No jejum somos reintegrados! A oração, diálogo de amor, de amizade, é aproximação, nova relação, ocasião em que somos tocados pelo amor de Deus. Quantas manifestações de fé encontraremos nestes dias quaresmais em nossas amadas comunidades. As caminhadas penitenciais, as celebrações ao amanhecer, a via-sacra na Igreja e pelas ruas de nossos bairros, enfim, um ritmo penitencial que vai, aos poucos, deixando impregnar- -se da misericórdia de Deus e promovendo uma verdadeira transformação pessoal, comunitária e social.
Esmola é partilha de vida, cuidado amoroso, liberdade de entrega. A esmola é encontro com o próximo, é exercício de compromisso com o dom da vida. Podemos levar ajuda, com gestos de caridade, tanto a quem vive próximo de nós como a quem está longe. O sofrimento do próximo constitui um apelo à conversão, porque a necessidade do irmão recorda- me a fragilidade da minha vida, a minha dependência de Deus e dos irmãos.
Para superar a indiferença, gostaria de pedir a todos para viverem este tempo de Quaresma como um percurso de formação do coração. A Campanha da Fraternidade com o tema “Fraternidade e vida: dom e compromisso” e a inspiração bíblica do Bom samaritano: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34), inspire nossa oração e nossa ação. Quem quer ser misericordioso precisa de um coração forte, firme, fechado ao tentador, mas aberto a Deus; um coração que se deixe impregnar pelo Espírito e levar pelos caminhos do amor que conduzem aos irmãos e irmãs.
Nesta Quaresma rezemos: “Jesus manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso”. Jesus é o verdadeiro bom samaritano que se aproxima dos homens e das mulheres que sofrem e, por compaixão, lhes restitui a dignidade perdida.