Na próxima semana estaremos iniciando mais um ciclo de 12 passos dentro da Pastoral da Sobriedade. Neste contexto, iniciaremos também aqui dentro do site da Diocese um movimento de reflexão que pretenderá conduzir o segmento dos encontros semanais de grupos. Temos como objetivo expandir os encontros e tentar fazer com que as pessoas sintam-se convidadas a participar dos grupos de auto-ajuda.
Tanto no programa de rádio, quanto nestes textos enviados ao site, estaremos acompanhando os passos da sobriedade tal como acontecem nas reuniões. O que vai diferenciar é que as pessoas que os acompanham não poderão participar na íntegra, como por exemplo, das perguntas de partilha, onde cada um tem a possibilidade de contribuir com as suas experiências e auxiliar na construção de outros que ainda não se sentem em condições de lidar com a questão da dependência química e outras drogas de abuso dentro da família.
O método dos doze passos surgiu há cinquenta anos atrás no estado de Minnesota/EUA, que consiste num modelo psicoterapêutico de origem humanista, cujo objetivo é a abstinência total de substâncias capazes de provocar oscilações artificiais do estado de humor ou de comportamento de uma pessoa. A partir de então este modelo foi implantado em vários países em função da sua eficácia e altas taxas de recuperação que consegue atingir. Desde então, as instituições procuram adequar os doze passos à sua própria realidade e ideologia. Basicamente, combinam a filosofia do movimento de auto-ajuda com a psicoterapia humanista e o suporte espiritual que comprovadamente é imensamente necessário à recuperação.
O exercício da espiritualidade é um aspecto importante que paradoxalmente vem revelar-se como oportunidade aos indivíduos quando estes estão acumulados de experiências geradoras de sofrimento e de carência afetiva. Os princípios espirituais compõem dentro dos doze passos a admissão da doença, a necessidade de confiar e o compromisso em manter um contato consciente com Deus para que possa dar conta dessa realidade confessa, optativa e produzida por novos desafios.
A nível científico torna-se difícil definir o conceito da espiritualidade. Todavia, observa-se nos indivíduos que buscam o nosso atendimento, baixo nível de bem-estar espiritual, ausência de práticas religiosas e pouco investimento familiar na construção da educação religiosa. Nessa perspectiva, procura-se trabalhar a resiliência, a motivação para a mudança e o compromisso, pautados no amor e no exercício cristão.
Enquanto se fala dessa experiência na teoria, a formulação tem um sentido muito complexo e de pouca assimilação, pois esse encontro com Deus é muito pessoal e não há como defini-lo. Apenas a própria pessoa consegue sentir o que ela vivencia e também só vivenciará se estiver aberto a esta possibilidade. No caso das pessoas que aderem não só ao tratamento da dependência química, mas os demais (familiares, amigos, colegas de trabalho, vizinhos…) que passam a se comprometer com este tratamento terminam por encontrar em si novas buscas por mudanças, já que estas se percebem vivendo suas próprias experiências.
Por fim, o convite à participação dos grupos de auto-ajuda vem a ser para qualquer pessoa que entenda a necessidade de maior auto-conhecimento e que supostos vícios, muitas vezes endossados pela sociedade, como é o caso dos excessos de consumo, estão instaurados e só vamos nos dar conta quando o sofrimento já assumiu uma condição grave, de doença.
Malena Andrade – Psicóloga assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau