No final de semana passado completou um ano da catástrofe ambiental que se abateu sobre Blumenau e região. As mais drásticas conseqüências foram as pessoas que perderam a vida, soterradas pelos deslizamentos ou tomadas pela violência das águas. Oficialmente, fala-se em 137 mortos.
Uma missa na Catedral São Paulo Apóstolo, em Blumenau, Centro, presidida pelo Pe. João Bachmann, Cura da Catedral e Vigário Geral da Diocese, no dia 23 de novembro, às 19h, recordou e homenageou todos os vitimados pela tragédia, das mais violentas que já se teve notícia na história de Santa Catarina e do território nacional.
Constitui-se, sem dúvida, em dever de solidariedade, verdadeira caridade, orar pelos mortos. Mas os vivos necessitam igualmente do conforto, da esperança que vem da fé, do apoio dos irmãos e irmãs. Vêm à mente as famílias que, de repente, atingidas pela violência da catástrofe, perderam entes queridos. Diz-se que somente quem passa por semelhante situação sabe quanta dor isso traz. Por isso, a Palavra de Jesus, proclamada na liturgia, torna-se alimento necessário para nossa fome de consolo; torna-se luz para nossas angústias e provações; coragem para prosseguir na caminhada.
Comove ainda o coração ver muitos irmãos irmãs em desconfortáveis e precários abrigos. Muitos ainda estão abrigados em casas de parentes. Outros ainda, ignorando a situação de risco, voltaram para suas casas. A comunidade cristã, confiante no poder da prece ao Pai, por Jesus Cristo, assume também a situação de cada uma dessas pessoas e famílias.
Ainda, num momento de tanto sofrimento, os cidadãos necessitam de seus governantes, da sua sensibilidade, solidariedade, sabedoria, agilidade na solução de suas carências mais básicas, como moradia, segurança,água, alimento, saúde… Ao mesmo tempo, é dever das nossas lideranças comunitárias buscar análises científicas de fenômenos naturais desse tipo para, quanto possível, minorar seus prejuízos, prevenir sua ocorrência. A colaboração de todos, nesse sentido, seja acentuada devidamente, é imprescindível para que, apropriadas atitudes ecológicas, sociais, políticas, educacionais, gerem confiança no futuro; e a vida de todos e todas possa prosseguir em paz e segurança.
Pe. Bachmnn, ao final da sua homilia, muito apropriadamente, lembrou a cruz de vegetação baixa que, no Zendron, bairro Grande Garcia, na noite das enxurradas, foi nitidamente formada na encosta de um morro.
Certamente não podemos atribuir semelhante fato somente ao acaso das chuvas torrenciais. Jesus ensinou-nos com sua Palavra e sua vida que Deus é Pai Providente. Mesmo na hora da cruz e da morte do seu Filho Primogênito, ele o sustentou e o amparou. Jamais um pai e uma mãe estão alheios, ausentes do sofrimento de seus filhos e filhas. Pelo contrário, nessas horas, sua presença e cuidados são mais constantes e atenciosos.
Com certeza a Cruz do Zendron é sinal do amor deste Pai Providente. Naquele momento de dor e incerteza, de morte e medo, através daquela cruz, ele tornou presente, visível num eloqüente sinal, a sua imensa compaixão pelos atingidos. Vitorioso amor, aquele que ressuscitou o Crucificado.
Esta esperança de ressurreição refere-se tanto para os que morreram, quanto pelos que ficamos. Para os que morreram, diz a Palavra do Senhor: “Ainda que estejam mortos, viverão”. Para os que ficamos, temos consciência de que aqui estamos porque Deus confia-nos, ainda, muito empenho na realização de seus planos de vida plena e felicidade para todos os seus filhos e filhas, começando pelos mais desassistidos.
Ainda , a cruz/ressurreição de Jesus abrange igualmente toda a criação. Pelo seu poder, o homem e a mulher são capazes de construir um mundo novo, estruturas de vida nova. Prontos à vida nova da graça e do amor, são capazes de transformar os desertos, os perigos, os desafios, as ameaças, em “novos céus e nova terra”, como, em nome de Deus, prenuncia o profeta Isaías.
Texto e fotos: Pe. Raul Kestring