Hoje a Igreja celebra : S. Benedito, o Negro, confessor, +1589
Ver comentário abaixo:
Orígenes : Cristo, Bom Samaritano
Livro de Jonas 1,1-17.2,1.11:
A palavra do Senhor foi dirigida a Jonas, filho de Amitai, nestes termos: «Levanta-te, vai a Nínive, a grande cidade, e anuncia-lhe que a sua maldade subiu até à minha presença.» Jonas pôs-se a caminho, mas na direção de Társis, fugindo da presença do Senhor. Desceu a Jafa, onde encontrou um navio que partia para Társis; pagou a sua passagem e embarcou nele para ir com os outros passageiros a Társis, longe da presença do Senhor. Porém, o Senhor fez vir sobre o mar um vento impetuoso, e levantou no mar uma tão grande tempestade que a embarcação ameaçava despedaçar-se. Cheios de medo, os marinheiros puseram-se a invocar cada um o seu deus e alijaram ao mar toda a carga do navio para, assim, o aliviar. Entretanto Jonas tinha descido ao porão do navio e, deitando-se ali, dormia profundamente. O capitão do navio foi ter com ele e disse-lhe: «Dormes? Que fazes aqui? Levanta-te, invoca o teu Deus, a ver se porventura se lembra de nós e nos livra da morte.» Em seguida disseram uns para os outros: «Vinde e deitemos sortes, para sabermos quem é a causa deste mal.» Lançaram sortes, e a sorte caiu sobre Jonas. Disseram-lhe então: «Diz-nos porque nos aconteceu este mal. Qual é a tua profissão? Donde vens? Qual a tua terra e a que povo pertences?» Ele respondeu-lhes: «Sou hebreu e adoro o Senhor, Deus do céu, que fez os mares e a terra.» Então, aqueles homens ficaram possuídos de grande medo, e disseram-lhe: «Porque fizeste isto?» Com efeito, compreenderam, ao ouvir a confissão de Jonas, que ele fugia do Senhor. Disseram-lhe: «Que te havemos de fazer para que o mar se nos acalme?» De fato, o mar estava cada vez mais embravecido. Ele respondeu-lhes: «Pegai em mim e lançai-me ao mar, e o mar se acalmará, porque por minha causa é que vos sobreveio esta grande tempestade.» Os homens remavam para ver se conseguiam ganhar a terra, mas em vão, porque o mar cada vez se embravecia mais contra eles. Então clamaram ao Senhor, dizendo: «Senhor, não nos faças perecer por causa da vida deste homem, nem nos tornes responsáveis do sangue inocente, porque tu, ó Senhor, fizeste como foi do teu agrado.» Depois pegaram em Jonas e lançaram-no ao mar; e a fúria do mar acalmou-se. Então, estes homens temeram o Senhor; ofereceram um sacrifício ao Senhor e fizeram-lhe votos. O Senhor fez com que ali aparecesse um grande peixe para engolir Jonas; e Jonas esteve três dias e três noites no ventre do peixe. Então, o Senhor ordenou ao peixe e este vomitou Jonas em terra firme.
Jonas 2,2.3.4.5.8:
Jonas fez esta oração ao Senhor, seu Deus, do ventre do peixe,
dizendo: «Na minha aflição invoquei o Senhor, e ele ouviu-me. Clamei a ti do meio da morada dos mortos, e tu ouviste a minha voz.
Lançaste-me ao abismo, ao seio dos mares, e as correntes das águas envolveram-me. Todas as tuas vagas e todas as tuas ondas passaram por cima de mim.
E eu já dizia:
Quando desfalecia a minha alma, lembrei-me do Senhor; a minha oração chegou junto de ti, até ao teu santo templo.
Evangelho segundo S. Lucas 10,25-37:
Levantou-se, então, um doutor da Lei e perguntou-lhe, para o experimentar: «Mestre, que hei-de fazer para possuir a vida eterna?» Disse-lhe Jesus: «Que está escrito na Lei? Como lês?» O outro respondeu: «Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.» Disse-lhe Jesus: «Respondeste bem; faz isso e viverás.» Mas ele, querendo justificar a pergunta feita, disse a Jesus: «E quem é o meu próximo?» Tomando a palavra, Jesus respondeu: «Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos dos salteadores que, depois de o despojarem e encherem de pancadas, o abandonaram, deixando-o meio morto. Por coincidência, descia por aquele caminho um sacerdote que, ao vê-lo, passou ao largo. Do mesmo modo, também um levita passou por aquele lugar e, ao vê-lo, passou adiante. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirando dois denários, deu-os ao estalajadeiro, dizendo: ‘Trata bem dele e, o que gastares a mais, pagar-to-ei quando voltar.’ Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?» Respondeu: «O que usou de misericórdia para com ele.» Jesus retorquiu: «Vai e faz tu também o mesmo.»
Comentário ao Evangelho do dia feito por:
Orígenes (c. 185-253), presbítero e teólogo
Homilias sobre o Evangelho de Lucas, 34, 3.7-9; GCS 9, 201-202.204-205 (a partir de trad. Delhougne, Les Péres commentent, pp. 419-420)
De acordo com um ancião que quis interpretar a parábola do Bom Samaritano, o homem que descia de Jerusalém em direção a Jericó representa Adão, Jerusalém o paraíso, Jericó o mundo, os salteadores as forças malignas, o sacerdote a Lei, o levita os profetas, o samaritano Cristo. As feridas simbolizam a desobediência, a montada o Corpo do Senhor. […] E a promessa de voltar, feita pelo samaritano, prefigura, de acordo com este intérprete, o segundo advento do Senhor. […]
Este Samaritano carrega os nossos pecados (cf. Mt 8,17) e sofre por nós. Pega no moribundo e condu-lo à estalagem, ou seja, à Igreja. A Igreja está aberta a todos, não recusa o seu socorro a ninguém e todos são convidados por Jesus: «Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos que eu hei de aliviar-vos» (Mt 11,28). Após ter conduzido o ferido, o Samaritano não parte de imediato, mas fica todo o dia na hospedaria junto do moribundo. Trata-lhe das feridas não apenas durante o dia, mas também de noite, abraçando-o com dedicada solicitude. Verdadeiramente este guardião de almas mostrou-se mais próximo dos homens que a Lei e os profetas «dando prova de bondade» para com aquele «que tinha caído nas mãos dos salteadores» e «mostrou ser o seu próximo» mais pelos atos do que pelas palavras
Segundo a palavra: «Sede meus imitadores como eu o sou de Cristo» (1Cor 11,1), é possível imitar Cristo e ter piedade dos que «caem nas mãos dos salteadores», aproximando-nos deles, ligando-lhes as feridas, vertendo óleo e vinho sobre elas, carregando-os sobre a nossa própria montada e transportando-lhes os fardos. É por isso que, para nos estimular, o Filho de Deus diz, dirigindo-se a todos nós, mais ainda que ao doutor da lei: «Vai, e faz o mesmo».