Na próxima quinta-feira, dia 3 de junho, a Igreja celebra a solenidade de Corpus Christi. Esta expressão, Corpus Christi, em português se diz “Corpo de Cristo”. Denomina-se também “Corpo de Deus”. De uma forma ou de outra, refere-se ao Sacramento da Eucaristia, através do qual adoramos a presença real de Jesus Cristo, Senhor e Salvador da humanidade.
Os evangelistas destacam a Quinta-feira Santa como o dia da instituição do “grande sacramento”, expressão de São Tomás de Aquino. A liturgia solenizou e soleniza a data com belos e condizentes ritos. Porém, numa dimensão mais interna ao templo.
No século 13, através de uma freira agostiniana da Bélgica, Juliana de Liège (1193-1258), teve origem outra festa em honra do Santíssimo Sacramento. Em 1209 ela começou a ter revelações que solicitavam a nova comemoração litúrgica. Confidenciou-as ao arcediago de Liége, espécie de dignitário eclesiástico que recebe do bispo certos poderes junto dos párocos, curas, abades etc. de uma diocese. Este prestigiado clérigo seria, mais tarde o Papa Urbano V que, reconhecendo a grande importância da proposta da freira agostiniana, instituiu oficialmente, a solenidade de Corpus Christi, situando-a na quinta feira seguinte ao Domingo da Santíssima Trindade!
O Concilio de Trento, no início do século XVI, prescreveu a procissão externa ao templo como elemento indispensável dessa comemoração. O Vaticano II, na década de 1960, preservou a norma, aliás, tornando-a a única procissão recomendada pelos cânones eclesiais.
Lembro-me muito vivamente dos meus tempos de infância, na Capela São João Batista, localidade de Pinhalzinho, hoje município de Mirim Doce, SC, quando se celebrava Corpus Christi. Ao final da santa missa, fazia-se longa procissão percorrendo os arredores da igreja. O dourado ostensório, conduzido pelo pároco, o zeloso e inesquecível Pe. Eduardo Summermatter (in memoriam), primeiro sacerdote que conheci, paramentado condignamente, caminhava lentamente pelos caprichados, coloridos, tapetes confeccionados pela comunidade. O povo, monitorado pelos membros da diretoria, seguia em duas filas, uma de cada lado do tapete. Ladeavam as duas filas as palmeiras buscadas dos matos e, como em extenso varal, tremulavam bandeirinhas de diversificadas matizes.
Aprendi a amar a Eucaristia a partir dessa fé fervorosa da Comunidade São João Batista. Aquele aparato litúrgico, com destaque para o aspecto externo da celebração e pelo protagonismo, forte testemunho popular, plantou em mim um grande amor à presença eucarística de Jesus. E levou-me a consagrar a vida no seguimento de Cristo como sacerdote.
Nessa semana, quinta-feira próxima, então, transcorre a celebração dessa festa eucarística de 2021. Em algumas comunidades, especialmente em comunidades paroquiais mais extensas, transfere-se a festa de Corpo de Deus para o domingo posterior.
Ainda em situação de pandemia, exige-se que a celebração seja mais restrita em termos de aglomeração de fiéis. Mas a oportunidade privilegiada de honrarmos e adorarmos o Salvador, verdadeiramente presente no pão consagrado, pode ser aproveitada de muitas formas. Se não em participação presencial, os diversos meios de comunicação podem ser instrumentos de conexão com essa importantíssima ocasião de louvor, ação de graças a esse mistério de fé e vida!
Pe. Raul Kestring