Brasília, 28 de agosto de 2010.
Nos últimos dias, o serviço policial tem sido foco de críticas em torno de problemas como corrupção, violência policial, despreparo das forças policiais, entre outros pontos negativos. A verdade é que a crítica não deveria ser dirigida apenas aos policiais, mas sim ao modelo de Segurança Pública que temos atualmente em nosso país. A Sociedade Brasileira, principalmente em ano eleitoral, está farta de discursos em que as autoridades mostram um Brasil fictício, cheio de números e estatísticas, tentando convencer a população que tudo está bem.
O Conselho Nacional de Segurança Pública (CONASP), do qual o CONIC é integrante, dentro de suas prerrogativas, deveria se debruçar sobre os temas que realmente afligem a Sociedade Brasileira, procurando ouvir as vozes dos milhões de brasileiros marginalizados e vitimizados, ou pela ausência do Estado, ou pela ação dos criminosos, ou ainda pelo despreparo e corrupção de vários elementos das forças policiais deste país. Como Sociedade, não podemos nos calar diante da violência dos criminosos e, principalmente, diante do envolvimento de policiais e ex-policiais que deturpam suas funções, passando do lado de herói e defensor da lei, para o lado de bandidos, corruptos e inescrupulosos.
A omissão do Estado Brasileiro e de seus governantes, diante da violência e do despreparo na qualificação dos policiais, muitas vezes agravada pela não adequada remuneração dos que estão envolvidos na Segurança Pública, leva aos tristes episódios que têm ocupado as manchetes dos jornais, manchando de sangue a história da Segurança Pública do Brasil.
A falta de investimento e de valorização do policial profissional e atuante e demais atores da Segurança Pública serve apenas para fomentar o descaso e a corrupção. Imaginar que um policial, um agente penitenciário, ou outro profissional da Segurança Pública permanecerá íntegro, recebendo o que recebe de formação e remuneração para colocar a sua vida em risco, é uma utopia. O policial deve ter meios para ascender socialmente, enfim, deve ser valorizado como ser humano e capacitado para o execício da cidadania e uma competente atividade profissional. Apenas com qualificação adequada e investimento real na área de Segurança Pública poderemos mudar o atual quadro caótico de violência e insegurança que temos no Brasil hoje.
Ademais, como cristãos, sabemos que pecado e justiça não se misturam, não podem fazer as pazes, continuam em luta um com o outro na própria pessoa. E, no entanto, cremos que somos "simultaneamente" justos e pecadores. Isso previne uma série de tragédias. Não permite a arrogante divisão das pessoas em boas e más. É-nos, por conseguinte, proibida a mera condenação dos "fariseus", como Jesus ensinou no Evangelho de Lucas 18.9ss.
Expressamos nossa profunda solidariedade às vítimas e unimos a nossa voz às palavras de indignação, pois refletem o anseio de milhões de pessoas, cidadãos e cidadãs das mais diferentes regiões desta nação, que já não agüentam mais ver a história se repetir, acompanhada de promessas de dias melhores, promessas estas nunca cumpridas por quem as profere. Chegou a hora de soluções definitivas, que transcendam o universo dos discursos e cultivem uma cultura de paz, da não-violência e de um país no qual crianças, jovens e adultos convivam em harmonia e tenham sua dignidade respeitada e valorizada.
O CONIC, como representante de Igrejas cristãs irmãs, que milita também na causa dos Direitos Humanos, vem pedir que algo seja feito, sob a pena de continuarmos trilhar um futuro cheio de rastros de sangue e inocentes vidas ceifadas pelo despreparo e pelo descaso do Estado.
Na paz de Cristo,
P. Sin. Carlos Augusto Möller
Presidente do CONIC
Rev. Luiz Alberto Barbosa
Secretário Geral do CONIC
Obs.:
O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil desenvolve vários programas e ações na área da defesa dos Direitos Humanos e na promoção de uma cultura da Paz no Brasil. O Rev. Luiz Alberto Barbosa é Conselheiro Titular no Conselho Nacional de Segurança Pública (CONASP) do Ministério da Justiça e o P. Sin. Carlos Augusto Möller ocupa a função de Conselheiro Suplente no mesmo Conselho.
O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil vem expressar sua preocupação com a contínua violência em que os vários segmentos da sociedade brasileira têm estado submetidos. Além disso, vem expressar o sentimento de impotência e indignação ao ver que, nos recentes crimes de repercussão nacional, sempre estão envolvidos elementos das forças policiais.