Ginetta Calliari – 1918 (Itália) – 2001 (Brasil) – Luminoso exemplo de fé e coragem – Uma italiana com coração brasileiro
Co-fundadora do Movimento dos Focolares no Brasil
No próximo dia 8 de março de 2013, Dia Internacional da Mulher
abre-se uma nova fase no processo de beatificação: do Brasil ao Vaticano
Dom Ercílio Turco, bispo de Osasco, a quem se deve a introdução da causa de beatificação de Ginetta Calliari (8/3/2007) assim apresenta o significado e a sua atualidade:
“Ginetta encontrou no Evangelho uma luz para a sua vida. Foi alguém cuja presença e ação foi significativa para os cristãos e também para além dos horizontes da Igreja”.
“Ela serve de exemplo para toda a sociedade. Ginetta foi leiga. Sua vida mostra a todos os leigos e leigas que é possível amar, é possível viver a fé hoje! Mostra que um caminho de santidade suscita transformações, cria novas perspectivas, promove a fé, a paz, a unidade. Precisamos dessa unidade, quando, por toda parte, existem tantas divisões.
Neste ano da fé Ginetta é para nós um modelo de fé em Deus, de adesão à sua Palavra e de confiança plena em sua vontade. Toda a sua vida evangeliza, através de sua ação em vista da construção do Reino de Deus, para que haja vida e todos sejam um”.
Ginetta conheceu profundamente o espírito dos brasileiros. Identificou-se plenamente com os anseios, os sofrimentos e as exigências deste povo, do qual ela se sentia parte, desde os turbulentos anos sessenta. Contribuiu admiravelmente, com sua vida, para o progresso espiritual e social do nosso país. Certamente por isso, foram tantas as homenagens e reconhecimentos dirigidos à sua pessoa. Em sua memória foi celebrada uma sessão solene na Câmara dos Deputados em Brasília, nas Assembléias legislativas de 10 Estados e nas Câmaras municipais de várias cidades em diferentes regiões do País. A Câmara municipal da cidade de São Paulo concedeu-lhe a cidadania honorária. Personalidades judaicas, muçulmanas e budistas, reconhecem nela um exemplo de vida. A Igreja está aprofundando a sua vida para propô-la como modelo de vida cristã, através da causa de beatificação que está em andamento. Também Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, atualmente difundido em âmbito mundial, reconheceu em Ginetta a co-fundadora da sua Obra no Brasil, “alguém que encarnou com radicalidade o carisma da unidade”, típico do Movimento.
A cerimônia de encerramento será às 20 horas de sexta-feira, 8 de março próximo. Após uma missa solene, presidida por Dom Ercílio Turco, na Catedral de Osasco, se procederá aos atos públicos na presença dos membros do Tribunal da Causa de Beatificação, dos teólogos, peritos históricos, postuladores da causa, como também personalidades políticas e religiosas.
Assessoria de Imprensa Focolares – Darlene Bomfim -Rua Rosário Gaspar – Mariápolis Ginetta – Vargem Grande Paulista (SP) Cel. 9393.2948 – E-mail: [email protected] – blog: www.ginettacalliari.blogspot.com – www.focolares.org.br – site internacional: www.focolare.org/pt
Quem era Ginetta Calliari?
Luigia Calliari (Ginetta), nasceu em uma pequena cidade, Lavis, nas proximidades de Trento, no norte da Itália, numa família de origem humilde, profundamente cristã. Era o ano de 1918, que marcava o fim da Primeira Guerra Mundial.
Em família todos a chamavam de “filha do pós-guerra” por causa de seu caráter forte, rebelde e inquieto. Inquietação que a acompanhou durante os anos de sua juventude, como ela mesma conta: “Eu procurava a felicidade na literatura, na arte, na filosofia, nas ciências, no domínio sobre os outros”. Mas encontrava o vazio, a solidão, o sofrimento, pelas contradições que percebia em si mesma, pois sentia-se ao mesmo tempo profundamente atraída por Deus, pela beleza. Sofria com as injustiças, tanto que, apesar da promessa de receber uma grande herança, foge da “gaiola dourada” de um rico conde para quem trabalhava, assim que tomou conhecimento das injustiças que eram praticadas com seus empregados. Volta, então, à sua cidade: não pode deixar de compartilhar os dramas da guerra.
A notícia que na sua cidade algumas jovens colocam em comum roupas, sapatos, casacos, para distribuí-los aos mais pobres, mesmo sofrendo também elas as condições de indigência causadas pela guerra, abrirá o caminho para uma transformação radical em sua vida. Deseja conhecer aquelas jovens. Encontra Chiara Lubich. “Na escuridão – dirá – vi resplandecer uma luz que tomou posse do meu ser, e entendi que aquela luz era Deus”. Então ela o escolheu como “o tudo” da sua vida.
Foi o encontro luminoso com Deus que se faz presente na comunhão, “onde existe a caridade e o amor”, onde “dois ou mais” estão unidos em seu nome. Foi a imersão no carisma da unidade, dom do Espírito Santo para responder aos desafios do nosso tempo, uma antecipação do espírito do Concílio Vaticano II, daquela espiritualidade de comunhão que o Papa João Paulo II propôs a todos os cristãos no início do novo milênio.
Aquela Luz iluminava, fazia “ver”: “Entendi que nunca tinha amado Deus, porque nunca O tinha amado no próximo. Acendeu-se em mim a fé. Conhecia bem os meus limites… viver a Palavra me ajudava a libertar-me de mim mesma… tem um fascínio que transforma”. No ano seguinte deixa a sua família para partilhar com Chiara e outras jovens as conquistas, as incompreensões e as provações que marcaram o início de um Movimento, o Movimento dos Focolares, atualmente difundido no mundo inteiro, para levar a todos a fraternidade e a unidade.
Em 1959 Ginetta chega ao Brasil na cidade de Recife, com outros sete jovens, entre os primeiros que seguiram Chiara. A respeito do povo desta terra, que se tornará a sua, ela dirá: “Aprendi muito dos brasileiros. São pessoas abertas, hospitaleiras, generosas, dinâmicas e também consequentes. Você apresenta um grande ideal e imediatamente eles se lançam”. De Recife aquela nova vida se difundirá para todo o país.
Assim que chegou, o primeiro impacto foi um choque ao deparar-se com a pobreza vista pelas ruas. Ela gostaria de poder bater nas casas dos ricos para que ajudassem os pobres. Mas entendeu que primeiro era necessário mover os corações, para que depois se movessem os bens. “É preciso mudar o homem: precisamos de homens novos, que gerem estruturas novas, cidades novas, povos novos. E isso somente Deus, somente a força do Evangelho pode fazer”, come já haviam bem experimentado. Depois de anos esse sonho começou a se tornar realidade.
Embora tivesse sempre fugido da dor, agora o seu único esposo é Jesus no cume da dor, quando, sobre a cruz, grita o abandono do Pai. “Não te dou um crucifixo de madeira, mas um Crucifixo vivo”, foi a entrega que Chiara lhe fez no momento da partida para o Brasil. “O Crucifixo estava ali, vivo nos irmãos”. Ao longo de toda a sua vida, Ginetta teve sempre a fé inabalável de que “quem crê Nele, ainda que morto viverá”. Uma nova vida floresce e cresce sempre mais. Entre os mais pobres, na comunidade que nascia, junto ao pão, ela semeia a Palavra.
Um bairro de Recife, em condições de vida degradantes, verá a mudança de seu nome e de seu semblante: de “Ilha do Inferno” passará a chamar-se “Ilha Santa Terezinha”. Chiara propõe a construção de um Centro em Recife para a formação de “homens novos”. Ela não tem dinheiro algum. Eram necessários 50.000 cruzeiros. Ela responde: “Faremos”. “Aquilo que é impossível aos homens é possível a Deus”. Pela sua fé Deus intervém abrindo as mãos de muitos, que colocam em comum os próprios bens.
Foi fundamental o seu estímulo – que custou “sangue da alma”, como ela mesma afirma – para as primeiras concretizações da Economia de Comunhão, um projeto econômico inovador, que teve a sua gênese em 1991, na Mariápolis Araceli (como era chamada naquele tempo a atual Mariápolis Ginetta), durante uma histórica visita de Chiara Lubich. Um projeto que surge como resposta aos desequilíbrios
sociais que atingem não apenas o povo brasileiro, mas muitos outros países. Mesmo entre dificuldades, que não são poucas, surge um Polo Empresarial que atrai a atenção não apenas de empresários, economistas e estudantes, mas também de políticos. Nasce o Movimento Político pela Unidade, uma política animada pela fraternidade. Ginetta vê o despontar dos primeiros passos neste caminho enquanto estava hospitalizada.
A vida de Ginetta se concluiu no dia 8 de março de 2001. Uma vida permeada de cumes e abismos, de não poucas provações físicas e espirituais, sempre transformadas em fonte de vida que transbordava sobre os outros. Seus livros, seus escritos, suas reflexões que agora fazem parte do material de estudo sobre sua vida e sua santitade, são um estímulo potente para todos aqueles que sonham e se empenham por um mundo novo.
Centro Ginetta Calliari, 25 de Fevereiro de 2013