“Eu mesmo O verei, meus olhos O contemplarão, e não os olhos de outros.” (Jó 19,27)
Celebramos na Liturgia de hoje, a Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos. Tal celebração nos coloca diante do mistério da morte, onde a Igreja nos convida a rezar e a oferecer orações aos fiéis defuntos do Purgatório. Mas, também, é uma reflexão das três dimensões que vivenciamos: “Memória que vemos à nossa frente [os irmãos falecidos], a esperança que celebramos agora na fé, e as luzes para nos guiar no caminho que são as Bem-aventuranças[Evangelho da Solenidade de Todos os Santos].” (Papa Francisco – 2018).
A morte é um mistério profundo ao homem, afinal todos nós somos iguais perante a morte, é um futuro certo que todos irão passar, alguns experimentarão após uma longínqua vida, outros de maneira precoce. Todos estamos fadados, porém para o cristão a morte não é o fim, o ponto final, mas sim “a morte do cristão segue as pegadas da morte de Cristo: um cálice amargo, porque fruto do pecado, a beber até o fim, porque é a vontade do Pai, que nos espera de braços abertos do outro lado do limiar; morte que é uma vitória com aparência de derrota; morte que é essencialmente não-morte: vida, glória e ressurreição” (cf. Missal Dominical – Missal da Assembleia Cristã).
E é através da fé que confiamos que o “doce, cálido beijo da morte” é que nos permitirá em testemunhar as palavras de Jó: “Eu sei que o meu redentor está vivo e que, por último, se levantará sobre o pó; e depois que tiverem destruído esta minha pele, na minha carne, verei a Deus. Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão, e não os olhos de outros” (cf. Jó 19,25-27). Ora, a nossa alma suspira este encontro definitivo à contemplação da face de Deus, tendo fim a todas as tristezas, saciada todas as sedes e as lágrimas serão todas enxugadas, afinal, “felicidade e todo bem hão de seguir-me, por toda a minha vida; e, na casa do Senhor, habitarei pelos tempos infinitos” (cf. Sl 22(23),6).
Ter fé e acreditar em tudo isto, após todas as tribulações, se resume a um homem que nos mostrou o caminho e confiar em Deus: Jesus Cristo. Sua Paixão, Morte e Ressurreição se resume a um plano maior de salvação a todos àqueles que aspiram para o encontro do amor pleno e na alegria infinita. “Na realidade, Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram. Com efeito, por um homem veio a morte e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos. Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão” (cf. 1Cor 15,20-22) […] tudo isto, “para que Deus seja tudo em todos” (cf. 1Cor 15,28c).
E tudo isto irá se cumprir. Contudo, não sabemos o momento exato em que iremos partir desta vida, por isto, Cristo nos exorta em estarmos preparados, “porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que menos o esperardes” (cf. Lc 12,40b). “A morte vos espera em toda a parte; se fordes prudentes, esperai vós por ela em todo o lugar” (São Bernardo).
Celebrar a Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, é vivenciar esta dualidade: rezar e orar por aqueles que já partiram desta vida e estão em estado de Purgatório, a fim de purificar-se completamente para o encontro definitivo com Deus; e nós que estamos neste mundo para que, através do testemunho do nosso Batismo, vivenciemos todos os dias de nossa vida a aspiração da plenitude da alegria eterna!
Saudações em Cristo!
Dom Eurico dos Santos Veloso, Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)
– Artigo publicado no dia 30 de novembro de 2020