Em Cartagena, o Presidente colombiano Santos e o líder das FARC Timochenko – REUTERS
27/09/2016 09:33
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Cartagena (RV) – Depois de mais de cinquenta anos de conflito armado entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), um acordo de paz foi selado nesta segunda-feira (26/09). Para ser definitivamente colocado em prática, no entanto, o texto do pacto ainda deverá ser aprovado em um referendo nacional do próximo domingo. Os 52 anos de conflito deixaram cerca de 260 mil vítimas fatais, 45 mil desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados.
O que diz o acordo?
As Farc se comprometeram a entregar todas as suas armas às Nações Unidas; a não se envolver em crimes como sequestro, extorsão ou recrutamento de crianças; romper ligações com o tráfico de drogas; e cessar ataques contra as forças de segurança e civis.
O texto assinado inclui um plano para o desenvolvimento agrícola integral, dando aos ex-guerrilheiros acesso à terra e a serviços, além de criar uma estratégia para a substituição sustentável de cultivos ilícitos.
Com esse documento, será criado um sistema de justiça para punir os responsáveis por crimes no qual as vítimas terão algum tipo de reparação. As punições incluem restrição de liberdade e, no caso de o autor não reconhecer o crime, pode ir para a cadeia comum por até 20 anos.
Fim das plantações de coca
O governo colombiano também deverá desenvolver um plano de investimentos para o desenvolvimento do campo para dar aos agricultores oportunidades de ter renda e qualidade de vida de maneira lícita, sem o cultivo e produção de drogas.
As Farc ainda se comprometeram a romper os laços com o mercado de drogas, além de apoiar os esforços do governo para combater o narcotráfico. Os movimentos sociais que estão na base das Farc receberão garantias de que poderão fazer política sem armas.
A cerimônia de assinatura
Cerca de 2,5 mil pessoas vestidas de branco, entre elas 250 vítimas, estiveram presentes para escutar o anúncio que, por décadas, parecia uma realidade impossível: o fim da violência entre guerrilheiros, paramilitares e agentes do Estado.
Na cerimônia, compareceram 15 chefes de Estado, incluindo o presidente cubano Raúl Castro, anfitrião das conversações de paz intermediadas também por Noruega, Venezuela e Chile. Também participaram do evento histórico o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, o rei emérito da Espanha, Juan Carlos, e vários representantes de organizações internacionais.
O acordo, um documento de 297 páginas que procura trocar “balas por votos”, promovendo o desarmamento da guerrilha e sua transição para a vida política legal, foi assinado com um “balígrafo”: uma caneta feita com restos de balas usadas em metralhadoras e fuzis. Os líderes estrangeiros que vieram para a cerimônia foram presenteados com réplicas da criação, que leva a frase “as balas escreveram nosso passado, a educação, o nosso futuro” inscrita em sua extensão.
A presença da Santa Sé com o cardeal Parolin
Pouco antes do ato oficial, na igreja de San Pedro Claver, o Cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano e enviado do Papa Francisco para a cerimônia, presidiu uma oração pela reconciliação dos colombianos, que se repetiu em vários centros de culto por todo o país.
O Cardeal Parolin, assegurou aos presentes que que o Papa Francisco acompanhou de perto o processo e lhe pediu que transmitisse a “sua proximidade ao povo colombiano e suas autoridades”.
“O Santo Padre tem seguido com grande atenção os esforços dos últimos anos na busca de harmonia e reconciliação” no país sul-americano.
Participaram da cerimônia o núncio apostólico, Dom Ettore Balestrero, e o Presidente da Conferência Episcopal da Colômbia, Dom Luis Augusto Castro de Tunja.
(CM-agências)
Fonte: Site Rádio Vaticano