(Pe. Carlos Evangelista e Ir. Carmelita Tenfen, organizadores)
As primeiras comunidades cristãs partilhavam a Palavra nas casas
Os Atos dos Apóstolos relatam que a comunidade cristã se encontrava nas casas como o seu lugar característico de reunião, ajuda mútua e do fortalecimento da vivência missionária. Nelas os cristãos ouviam juntos a Palavra e, por esta iluminados, procuravam discernir a experiência da vida em Deus, conscientes de que a fé provém da escuta (Rm 10,17). Essa centralidade da Palavra na vida das comunidades cristãs é fundamental para a identificação e configuração com o “Verbo que se fez carne” (Jo 1,14). Por isso, a Sagrada Escritura precisa estar sempre presente nos encontros, celebrações e nas mais variadas reuniões. Suscitar esta sede de caminhar, deve ser missão das comunidades e lideranças. A Sagrada Escritura é patrimônio comum de todas as Igrejas cristãs. É importante que ela se torne sempre fonte inspiradora de oração comum, de fraternidade e de conversão.
Pequenas Comunidades ao redor da Palavra de Deus
As pequenas comunidades são ambientes propícios para a acolhida dos que buscam a Deus. A partir do encontro com a Palavra e da experiência de vida fraterna na comunidade, as pessoas são introduzidas no processo de Iniciação à Vida Cristã. A comunidade eclesial é chamada a ser iniciadora por excelência, pois seu estilo de vida deve testemunhar de forma eloquente o amor de Deus pelas pessoas, indo sempre ao seu encontro. Ela renova a vida comunitária e desperta seu caráter missionário. Isso requer novas atitudes evangelizadoras e pastorais. Os processos de Iniciação e também a formação dos agentes evangelizadores precisam levar em conta as etapas que lhe são próprias: o querigma, o catecumenato, a purificação-iluminação e a mistagogia. Assim, esse itinerário, fundamentado na Sagrada Escritura e na Liturgia, é capaz de educar para a escuta da Palavra, para a oração pessoal e para o compromisso comunitário e social.
Leitura Orante da Palavra
Para formar discípulos missionários é urgente aproximar mais as pessoas e as comunidades da leitura orante da Palavra de Deus. A lectio divina ou leitura orante da Sagrada Escritura é um meio privilegiado de contato com a Palavra, que não é letra morta, mensagem formal ou objeto de estudo, simplesmente. Sem aceitar o subjetivismo na interpretação da Bíblia, é necessário abrir o coração para fazer dela alimento que, entrando pela mente, toque o coração, nutra o espírito, transforme a vida e seja o critério da experiência comunitária e da ação missionária.
Não basta ler ou estudar a Sagrada Escritura, pois a “inteligência das Escrituras exige, ainda mais do que o estudo, a intimidade com Cristo e a oração”. O contato intensivo, vivencial e orante com a Palavra de Deus confere à reunião da comunidade um caráter de formação discipular. O importante é o encontro com a Palavra que muda a vida e dá sentido ao ser e agir de quem é cristão, corrigindo posturas e aderindo ao modo de ser, de pensar e de agir de Jesus Cristo. O Evangelho passa a ser o critério decisivo para o discernimento em vista da vivência cristã.
Animação bíblica da Vida e da Pastoral
Nesse contexto, é de extrema importância que se multipliquem iniciativas de qualidade para garantir a todos os fiéis uma formação bíblica intensa, profunda, sistemática e corajosa. Uma formação que não só estimule um contínuo e fascinante contato-comunhão com a palavra de Deus encarnada, Jesus Cristo, mas também dinamize as pessoas para forte e vibrante ação evangelizadora, pelo testemunho de vida, pelo anúncio da boa-nova e por uma ação profética de transformação das pessoas e da sociedade segundo os valores do reino de Deus.
Uma das ações da animação bíblica da pastoral consiste, portanto, em incentivar, motivar, assessorar e subsidiar as Igrejas particulares, para que suas pastorais, movimentos, organismos, associações, novas comunidades, círculos bíblicos, grupos de família e outras expressões comunitárias adotem a leitura orante em seus diversos métodos e expressões. Essa prática, indiscutivelmente, servirá de alicerce para que tudo na Igreja tenha como ponto de partida a palavra de Deus, dela se alimente e, à sua luz, realize a missão e avalie constantemente a caminhada que está sendo feita.
“Por isso, cada um dos nossos dias seja plasmado pelo encontro renovado com Cristo, Verbo do Pai feito carne: Ele está no início e no fim de tudo, e n’Ele todas as coisas subsistem (cf. Cl 1,17). Façamos silêncio para ouvir a Palavra do Senhor e meditá-la, a fim de que a mesma, através da ação eficaz do Espírito Santo, continue a habitar e a viver em nós e a falar-nos ao longo de todos os dias da nossa vida” (Verbum Domini, 124)