Simpaticamente, Chiara
Nesta carta de 1989, com a doença em pleno avanço, Chiara Luce escreve às suas amigas contando as últimas novidades. A linguagem descontraída de uma menina de 18 anos que, com simplicidade, diz como a sua vida “mudou radicalmente”.
20/09/2010
«Querida Daniela,
Oi! Sim, sou eu mesma!! Finalmente lhe escrevo! Como já lhe expliquei o motivo pelo qual escrevo é muito, muito “equívoco”: na verdade devo “eliminar” os inumeráveis papéis de carta que ganhei de presente nos meus 18 anos. Mas, brincadeiras à parte, estou muito feliz de lhe escrever, assim posso falar um pouco de mim!
Desde quando as minhas pernas começaram a dar uma de “loucas”, como você pode imaginar, a minha vida mudou radicalmente, mas não me lamento porque sei que existe quem está pior do que eu e, além do mais, vivo numa família maravilhosa. E não só, todos os meus amigos vêm me ver muitas vezes, ou então telefonam (imagine que Juliano me liga toda noite). Isso me torna feliz e o tempo passa rápido.
L. e eu continuamos muito amigos… estou feliz que tenha terminado assim, principalmente porque agora sinto ainda mais a importância de uma amizade verdadeira!
Mas agora chega de “confissões” (que nunca foram o meu forte).
E você? O que está aprontando? Alguém me contou de histórias ardentes e apaixonadas que acabaram tristemente (ainda bem…), de amizades perdidas, mas sem arrependimentos e de “inculturações” com a criançada… ok, você se diverte!
Agora me despeço, e me responda, “please”! Ah! Estava esquecendo: mando para você uma poesia que li num livro e gostei muito:
“O mais belo dos nossos mares é aquele onde não navegamos. O mais belo dos nossos filhos ainda não cresceu. O mais belo dos nossos dias nós ainda não vivemos. E o que eu queria lhe dizer de mais belo ainda não lhe disse!” Nazim Hikmet (poeta turco).
Se você achar bom pode mostrar essa carta para D. e A. Estes recados são para elas:
– para D.: por favor, não estude demais e não pense demais nos seus numerosos e intensos amores.
– para A.: espero que você esteja voltando para o caminho certo, filhinha, e que não o perca mais, pensando em amores maduros, diria quase apodrecidos…
Simpaticamente,
Chiara
Sassello, 1989
Retirado de “A clara luz de Chiara Luce” – Michele Zanzucchi – Ed. Cidade Nova
Chiara Luce Badano – Life, Love, Light