«Ainda não entendeis nem compreendeis?» – São João da Cruz (1542-1591) carmelita descalço, doutor da Igreja A Subida ao Monte Carmelo, II, 3

Tags

3ª-feira da 6ª Semana Do Tempo Comum  – 19 de Fevereiro de 2019 – Cor: Verde

 

Evangelho – Mc 8,14-21
Tomai cuidado com o fermento dos fariseus
e com o fermento de Herodes.’

+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Marcos 8,14-21:
Naquele tempo:
14 Os discípulos tinham se esquecido de levar pães.
Tinham consigo na barca apenas um pão.
15 Então Jesus os advertiu:
‘Prestai atenção e tomai cuidado
com o fermento dos fariseus
e com o fermento de Herodes.’
16 Os discípulos diziam entre si:
‘É porque não temos pão.’
17 Mas Jesus percebeu e perguntou-lhes:
‘Por que discutis sobre a falta de pão?
Ainda não entendeis e nem compreendeis?
Vós tendes o coração endurecido?
18 Tendo olhos, vós não vedes,
e tendo ouvidos, não ouvis?
Não vos lembrais
19 de quando reparti cinco pães para cinco mil pessoas?
Quantos cestos vós recolhestes cheios de pedaços?’
Eles responderam: ‘Doze.’
20 Jesus perguntou:
E quando reparti sete pães com quatro mil pessoas,
quantos cestos vós recolhestes cheios de pedaços?
Eles responderam: ‘Sete.’
21 Jesus disse:
‘E vós ainda não compreendeis?’
Palavra da Salvação.

 

Comentário do dia 

São João da Cruz (1542-1591)
carmelita descalço, doutor da Igreja

A Subida ao Monte Carmelo, II, 3

«Ainda não entendeis nem compreendeis?»

 

Dizem os teólogos que a fé é um hábito da alma ao mesmo tempo seguro e obscuro. É obscuro porque nos propõe verdades reveladas sobre o próprio Deus que ultrapassam qualquer luz natural e excedem toda a compreensão humana, seja ela qual for. Daí decorre que essa luz excessiva dada pela fé se transforma para a alma em profundas trevas. Como sabemos, qualquer força superior supera e enfraquece outra que lhe seja inferior; deste modo, o sol eclipsa todas as outras luzes, a ponto de, quando ele resplandece, todas as outras não parecerem propriamente luzes. Para além do mais, quando está no zênite, o seu brilho ultrapassa por completo a nossa capacidade visual, ofuscando-nos em vez de nos permitir ver, por se tornar excessivo e desproporcionado à nossa visão. O mesmo se passa com a luz da fé, que pelo seu prodigioso excesso abate e enfraquece a luz do intelecto.

Tomemos outro exemplo: suponhamos uma pessoa cega de nascença, que, por isso mesmo, não conhece as cores. Ao esforçarmo-nos por fazer-lhe compreender o branco ou o amarelo, bem podemos dar explicação atrás de explicação que ela não retirará delas qualquer conhecimento direto, porque nunca viu as cores; a única coisa que reterá no espírito será o seu nome, através do ouvido.

O mesmo se passa com a fé em relação à alma: a fé diz-nos coisas que nunca vimos e a respeito das quais não possuímos a mais pequena réstia de conhecimento natural; mas retemo-las através do ouvido, crendo no que nos é ensinado e deixando que se ofusque em nós a luz natural. Com efeito, como nos diz São Paulo, «a fé surge da pregação» (Rm 10,17). É como se nos dissesse: a fé não é uma ciência que reconhecemos pelos sentidos, mas um consentimento da alma que entra em nós pelo ouvido.

Torna-se então evidente que a fé é para a alma uma noite escuríssima, mas é precisamente com a sua escuridão que ilumina: quanto mais a mergulha nas trevas, mais faz brilhar para ela a sua luz. Assim sendo, é ofuscando que ela alumia, segundo as palavras de Isaías: «Se não acreditardes, não compreendereis» (7,9).

 

Intenção do Apostolado da Oração
Universal: Não à corrupção
Para que aqueles que têm poder material, político ou espiritual não se deixem dominar pela corrupção.

 

Leia também...