(PROFESSAR A FÉ – 8º PASSO DA SOBRIEDADE)
Estamos aqui prontos a vivenciar mais um passo da nossa sobriedade. Vamos fazer uma recapitulação? Cada passo tem o seu processo e desde o primeiro deles, tivemos grandes desafios, que nos levaram a repensar sobre a nossa vida e sobre os nossos atos, o quanto necessitamos mudar, mas não uma mudança comum, como quem troca de roupa. Reconhecemos que precisamos mudar interiormente para estarmos prontos a receber a graça divina de encontrarmos paz na tribulação.
Então, no 1º passo nós admitimos nossa limitação, nosso erro, nosso pecado. Tomamos consciência que a primeira atitude de mudança sempre tem que partir de nós. No 2º passo confiamos em Deus, confiamos no amor dos nossos familiares para conosco e passamos a acreditar em nós mesmos, que podemos ser capazes de trabalhar essa mudança, por mais radical que ela seja. No 3º passo fomos capazes de viver a Paz de Cristo em nosso coração, pois depositamos Nele as nossas aflições e angústias, nos entregando por completo. Ao chegar no 4º passo, tivemos maturidade para reconhecer os nossos erros e nos arrependemos, como também estávamos prontos para perdoar, baseados no amor verdadeiro. De coração aberto, consciente dos erros cometidos, no 5º passo estávamos prontos para vivenciarmos o Sacramento da Confissão, da reconciliação com Deus e com os irmãos. Renascidos, no 6º passo tivemos condições de sermos pessoas novas, prontas para repararmos o mal que cometemos a Deus e aos nossos semelhantes, vividos no 7º passo. Todo esse processo nos dá hoje a oportunidade de professar a nossa fé sem receios, sem mentiras, sem medo de anunciar que a transformação de nossas vidas se deve à ação de Deus pelo nosso desejo de mudança, pela nossa sede de nos transformarmos em pessoas melhores.
E é isso que Deus quer de nós, que sejamos atuantes em nossa vida, que não deixemos o barco da nossa existência correr para onde o vento quiser nos levar, pois haverá pedras, abismos, redemoinhos e Ele será a nossa bússola, será o sol que nos iluminará. Professar a fé é acreditar. É fundamentarmos a esperança a partir daquilo que aceitamos como suporte para a salvação. É entrarmos em comunhão com Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. É estarmos abertos para receber a ação criadora e santificadora da Santíssima Trindade. É imprescindível que estejamos dispostos a assumir esta responsabilidade e a viver a liberdade dos filhos de Deus. Por isso devemos abandonar o pecado, para nos constituirmos como irmãos, livres, unidos num só amor, dispostos a seguir o exemplo de Jesus, renunciando a tudo o que nos desune e nos rouba o respeito e a dignidade. Crer em Deus Pai pressupõe sermos fortes o suficiente para afastar os vícios e pecados de nossa vida. Crer em Jesus Cristo nos faz entender que Ele é capaz de nos curar, de nos libertar. Ele nos acolhe com Sua força divina onde nós passamos a dar conta de resistir às tentações. Crer no Espírito Santo nos leva a atender ao chamado que santifica a nossa vida. É crer na ação transformadora que nos conduz à renovação do ser.
Professar a fé não quer dizer que devamos sair gritando por aí sobre as ações de Deus em nós, mas significa estarmos atentos ao que quer dizer a Sua Palavra, sermos obedientes aos Seus preceitos, manter um diálogo constante nas nossas orações, sermos exemplo vivo na comunidade, na família, no trabalho, na escola, dentro e fora da Igreja. Tem um ditado que diz que “as palavras chamam, mas o exemplo arrasta”. Sem essa transformação nossas palavras são improdutivas, não são assumidas.
Vivemos hoje uma cultura de raízes cristãs, mas impregnadas de seitas religiosas. Temos muitos católicos que acreditam em reencarnação, muitos católicos que se valem dos rituais de outras religiões, que utilizam de simpatias e são cheios de superstições. Temos católicos que acreditam em calendários de povos, que inclusive já não existem, que diz que o mundo acabará em 2012. E eu me pergunto: O que é a nossa fé no meio disso tudo? Se pra seguirmos o exemplo de um único homem, precisamos nos comprometer e assumir movimentos que vão mexer com a gente de forma a mudar maus hábitos e trabalhar as nossas atitudes já nos parece difícil. Se temos o propósito de fazer parte de Seu reino, como podemos no encher de artifícios banais? Pra que complicar as coisas se Deus nos apresenta tão simples?
A nossa religiosidade está abalada pela invasão de costumes que muitas vezes sequer sabemos de onde vem, chegando a comprometer as referências cristãs. Vamos resumindo nossa fé a condições populares como as festas de Santos, procissões, Semana Santa, focada em datas comemorativas. Temos muitos católicos classificados como simpatizantes. Qualquer um que for abordado e que não segue a nenhuma religião, se for lhe perguntar, ela se dirá católico. Por outro lado penso que isso é uma graça porque de alguma forma essa pessoa ao afirmar-se católico sente-se como fazendo parte da nossa religião, sendo ela uma instituição que acolhe a todos os excluídos. Uma grande mãe.
E não importa se dentro dela tem pessoas que precisam reparar seus erros, que precisam de conversão. O que importa é o papel que estamos desempenhando para o crescimento dessas pessoas, pois se fazemos a sua aproximação com o Pai, se podemos tornar possível esse encontro do nosso irmão com o Pai, através da nossa profissão de fé, do nosso testemunho, das nossas ações, é porque já fomos chamados a falar em Seu nome e aceitamos esse desafio, essa graça. No que se remete aos vícios, João Paulo II colocou que a dependência não está nas drogas, mas nos motivos que levam as pessoas a buscá-las e se temos um povo que não crê em Jesus, não segue em verdade Seus preceitos, estamos propícios a nos deixar contaminar pela doença. Uma vez adoecidos, só nos resta pedir a cura.
Não adianta fazermos um papel cristão de aparências. Se frequentamos missa somente em batizados ou festas populares, se nos confessamos somente na Páscoa ou se tratamos nosso corpo com vandalismo enchendo-o de drogas ou usando para todo e qualquer impulso ou desejo, se oramos apenas nas aflições e angústias e assim dizemos ter fé, então esta é uma fé de aparências. Ela só existe quando nos é conveniente. Razão pela qual se buscam tantos outros artifícios para enfeitar essa fé que acontece só no nome. Não é nada fácil aceitar a missão a que somos chamados, assim como não foi fácil a Jesus cumprir a Sua Missão naquele momento, rompendo até com algumas leis instituídas pelo seu povo. Foi preciso muita entrega para mudar a história da humanidade.
Somos convidados pelo próprio Jesus primeiro quando Ele diz: Vem e segue-me e depois quando Ele reafirma essa nossa fé dizendo: Ide e evangelizai! E se Ele nos diz é porque confia em nós. Ele sabe que temos condições de fazê-lo e que somos importantes nessa construção. Fomos chamados a anunciá-Lo e devemos contribuir com nossas atitudes, nossa maneira de falar, nossos pequenos gestos, nossa alegria por sermos de Deus, nossa entrega, nosso compromisso com a nossa Igreja, nossa coragem em enfrentar o desafio.
Se percebermos, cada passo da sobriedade que avançamos, vamos saindo de dentro da nossa casca e vamos caminhando e nos aproximando mais e mais em direção ao outro. Para vivermos o milagre da conversão e a prática da mudança é preciso que olhemos o que podemos ver de nós nos olhos do outro. É preciso buscar mais os olhares, para enxergar quem somos nós. E ai de nós se nada percebermos. Seria como se não existíssemos. Temos então um grande compromisso pela frente que é ofertarmo-nos de corpo e alma, de cabeça e coração de verdade e por inteiro e fazer de todas as práticas uma motivação para colocarmos o Nome de Jesus à frente, inclusive do nosso pensamento, pois é lá que começamos a elaborar as nossas ações.
Texto: Malena Andrade, Psicóloga assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau
Fotos: Pe. Raul Kestring