4º Passo da Sobriedade: ARREPENDER-SE

Tags

Leitura da Palavra: Lc 13,1-5:

“1. Neste mesmo tempo contavam alguns, o que tinha acontecido a certos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com os seus sacrifícios.
2. Jesus toma a palavra e lhes pergunta: Pensais vós que estes galileus foram maiores pecadores do que todos os outros galileus, por terem sido tratados desse modo?
3. Não. Digo-vos. Mas se não vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo.
4. Ou cuidais que aqueles dezoito homens, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, foram mais culpados do que todos os demais habitantes de Jerusalém?
5. Não. Digo-vos. Mas se não vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo.”


Nessa caminhada, estamos vivenciando mais um passo. Esta é a quarta semana e já iniciamos há um mês com o Passo Admitir. Reconhecemos nossas falhas e com a ajuda do Pai, pudemos, no Passo Confiar, criar uma intimidade maior nas nossas orações. Mas foi no Passo Entregar que começamos a mudar as nossas atitudes, partindo do coração, colocando-nos nas mãos Daquele que realmente tem o poder de nos modificar. No passo que vivenciamos esta semana devemos nos dar conta que o arrependimento não se dá pelo querer, mas pelo sentir. Significa lamentar de coração as atitudes que cometemos ou como nos comportamos ou ainda o que dissemos, magoando o próximo. Só quando nos arrependemos é que podemos transformar o nosso comportamento, e ao mesmo tempo, estamos nos dando a oportunidade de nos reconciliarmos com Deus.

O trecho de Lucas esclarece sobre duas tragédias que aconteceu aos galileus. Quando falava dos sinais dos tempos, algumas pessoas vieram informá-lo do que havia acontecido a alguns galileus, que Pilatos mandou matar quando eles ofereciam sacrifícios no templo de Jerusalém, porque aí haviam feito um tumulto (At 5,37), revoltados contra esse chefe do governo. Assim o sangue deles se misturou com o dos animais sacrificados. Os judeus aproveitavam das grandes solenidades religiosas para mover motins contra os romanos, no templo onde o povo se aglomerava. Por isso os romanos mantinham soldados na fortaleza Antônia, perto do templo, para reprimirem qualquer rebelião. Também, 18 homens tinham morrido quando da queda da torre de Siloé.

Então Jesus questiona: “Vocês acreditam que, por terem sofrido essas desventuras, estes galileus eram mais culpados de pecados do que todos os outros galileus”? Jesus deixa claro que não necessariamente há uma relação direta entre culpa e sofrimento. As desgraças que acontecem são como sinais, oportunidade para reflexão e reconhecimento dos pecados. Jesus adverte que todo homem caminha para a ruína se não se converter ao Messias. Necessitamos de conversão contínua porque nos deixamos cair em erro com muita facilidade. Em nossa vida também acontecem tragédias, também acontecem infortúnios, que muitas vezes julgamos não merecer.

Assim acontece com os familiares que sofrem pela dependência química dos seus, onde agonizam pelo flagelo, que mesmo sem ir atrás, a tragédia bate à porta e a dor se instaura na casa, e o familiar se vê numa condição, a ponto de se perguntar: o que eu fiz para merecer isto? Essas situações que passamos, não justifica que as pessoas que vivem tudo isso porque são mais pecadoras que as outras. Na verdade, tudo isso acontece por causa da própria condição humana, por causa da forma como se encontra o mundo de hoje, da forma como vivemos socialmente e como constituímos o nosso lar, a nossa família. Se temos parte da responsabilidade dentro dos acontecimentos da sociedade, temos inteira responsabilidade dentro do que acontece com a nossa família. Se tomarmos o exemplo de uma família que tem princípios e práticas religiosas, que vai ao encontro de Deus e repassa com alegria essa prática aos seus, sempre os acompanhando, sendo participativos, rezando juntos em casa, agradecendo pela família e pedindo constante harmonia, esse jovem vai se constituir disso, dessa prática.

Isso não quer dizer que outros grupos não interferem nas ideias e pensamentos dos jovens, mas haverá algo de valioso na pessoa, que é a educação cristã transmitida pelos pais com base e discernimento sobre normas, sobre obediência, sobre deveres e direitos, sobre o cuidado e amor a si e aos outros, sobre limites e consequências. Certamente, os pais não jogam com a vida dos filhos. Mesmo adolescentes esses pais sempre devem estar por perto, dando limites, horários, normas a serem obedecidas. Dessa forma o risco se torna menor. Jesus nos chama a atenção para reconhecermos o quanto somos falhos e se não buscamos o arrependimento, mais lamentável ainda será o nosso dia-a-dia, mais dolorosas serão as nossas feridas, mais angustiante será o sofrimento, mais profundas serão as chagas marcadas pela nossa dor. E não há como nos livrarmos delas senão pelo arrependimento.

É preciso assumir a nossa cota de responsabilidade e refletirmos onde falhamos, quando tivemos maus pensamentos, quando abrimos a boca para fazer acusações ou disser palavras apenas para ferir, quando agimos de forma a prejudicar outras pessoas, apenas visando o nosso próprio benefício, ou até quando deixamos de agir em favor de alguém porque não queremos nos envolver, por não ser problema nosso ou porque o empenho é grande e não estamos a fim de ter trabalho. Então por todos estes pensamentos, por estas palavras, por estas ações ou omissões, reconheçamos, como fala a oração: “Senhor, arrependido de tudo o que fiz, quero voltar para a Tua graça, para a casa do Pai”. Por todos os momentos em que não deixamos que o Amor nos conduza, devemos nos arrepender.

Jesus está nos convidando a compreender sobre a urgência do arrependimento, da conversão, da mudança de vida. Entendendo as dificuldades cotidianas, Jesus nos faz perceber que as tragédias estarão aí acontecendo e que não é nelas que devemos focar, mas na vida, no fato de estarmos vivos e podermos merecer o tempo presente em que vivemos.

Malena Andrade – Psicóloga assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau

Leia também...