Bento XVI: Quaresma, tempo de renovação espiritual

Comentário ao Evangelho do primeiro domingo deste tempo litúrgico

Apresentamos a intervenção de Bento XVI durante a oração mariana do Angelus no primeiro domingo da Quaresma.

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Caros irmãos e irmãs!

Quarta-feira passada, com o rito penitencial das Cinzas, demos início à Quaresma, tempo de renovação espiritual que nos prepara para a celebração anual da Páscoa. Mas o que significa entrar no itinerário quaresmal? Isso nos ilustra o Evangelho deste primeiro domingo, com o relato das tentações de Jesus no deserto.

Narra o Evangelista São Lucas que Jesus, após ter recebido o batismo de João, “pleno do Espírito Santo, distanciou-se do Jordão, e era guiado pelo Espírito Santo no deserto, por quarenta dias, tentado pelo demônio” (Lc 4,1-2).

É evidente a insistência sobre o fato de que as tentações não foram um acidente de percurso, mas a consequência da escolha de Jesus de seguir na missão confiada pelo Pai, de viver até o fim sua realidade de Filho amado, que confia totalmente Nele. Cristo veio ao mundo para liberatar-nos do pecado e do ambíguo fascínio de conceber nossa vida prescindindo a Deus. Ele o fez não com aclamações altissonantes, mas lutando em primeira pessoa contra o Tentador, até a cruz. Este exemplo vale para todos: melhora-se o mundo começando por si mesmo, mudando, com a graça de Deus, aquilo que não está bem na própria vida.

Das três tentações de Satanás a Jesus, a primeira tem origem na fome, isto é, na necessidade material: “Se és Filho de Deus, diga a esta pedra que se torne pão”. Mas Jesus responde com a Sagrada Escritura: “Nem só de pão vive o homem” (Lc 4,3-4; cf. Dt 8,3). Em seguida, o diabo mostra a Jesus todos os reinos da terra e diz: tudo será teu, se, prostrando-te diante de mim, me adorares. É a sedução pelo poder, e Jesus desmascara esta investida dizendo: “Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e apenas a Ele renderás culto” (cf. Lc 4,5-8; Dt 6,13). Não adoração ao poder, mas somente a Deus, à verdade e ao amor. Finalmente, o Tentador propõe a Jesus que faça um milagre espetacular: que se atire do alto das muralhas do Templo e se faça salvar pelos anjos, e assim todos acreditarão nele. Mas Jesus responde que a Deus não se coloca jamais à prova (cf. Dt 6,16). Não podemos “fazer um experimento” no qual Deus deve responder e mostrar-se Deus: devemos crer Nele! Não devemos fazer de Deus “material” de “nosso experimento”!

Referindo-se sempre à Sagrada Escritura, Jesus contrapõe aos critérios humanos o único critério autêntico: a obediência, a conformidade com a vontade de Deus, que é o fundamento de nosso ser. Também este é um ensinamento fundamental para nós: se portarmos na mente e no coração a Palavra de Deus, se esta adentra em nossa vida, se tivermos confiança em Deus, podemos refutar todo o tipo de trapaça do Tentador. Ademais, de toda a narrativa emerge claramente a imagem de Cristo como o novo Adão, Filho de Deus humilde e obediente ao Pai, à diferença de Adão e Eva que, no jardim do Éden, cederam às seduções do espírito do mal de serem imortais, sem Deus.

A Quaresma é como um longo “retiro”, durante o qual reentramos em nós mesmos e ouvimos a voz de Deus, para vencer as tentações do Maligno e encontrar a verdade de nosso ser. Um tempo, podemos dizer, de “vigor" espiritual a ser vivido junto a Jesus, não com orgulho ou presunção, mas usando as armas da fé, que são a oração, o ouvir a Palavra de Deus e a penitência. Desse modo poderemos celebrar a Páscoa na verdade, prontos para renovar as promessas de nosso Batismo. Que nos ajude a Virgem Maria para que, guiados pelo Espírito Santo, vivamos com alegria e com fruto este tempo de graça. Que interceda particularmente por mim e por meus colaboradores da Cúria Romana, que nesta tarde iniciarão comigo os Exercícios Espirituais.

 

 

 

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