Hoje ao rezar o Angelus
Apresentamos as palavras que Bento XVI dirigiu hoje aos peregrinos reunidos no pátio do Palácio Apostólico de Castel Gandolfo para rezar o Angelus.
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Queridos irmãos e irmãs,
hoje, na Liturgia, a Leitura do Antigo Testamento nos apresenta a figura do rei Salomão, filho e sucessor de Davi. Ele nos é apresentado no início de seu reinado, quando ainda era muito jovem. Salomão herdou uma tarefa de muito comprometimento, e a responsabilidade que pesava sobre seus ombros era grande para um jovem soberano. Em primeiro lugar, ele ofereceu a Deus um solene sacrifício – “mil holocaustos”, diz a Bíblia.
Então o Senhor apareceu-lhe em visão noturna e prometeu conceder-lhe o que pedisse em oração. E aqui se vê a grandeza de alma de Salomão: ele não pediu uma longa vida, nem riquezas, nem a eliminação de seus inimigos: mas diz ao Senhor: “Dá, pois, a teu servo, um coração dócil, capaz de governar teu povo e de discernir entre o bem e o mal” (1Re 3, 9). E o Senhor lhe concedeu, de modo que Salomão chegou a ser célebre em todo o mundo por sua sabedoria e seus retos julgamentos.
Ele, portanto, pediu a Deus que lhe concedesse “um coração dócil”. Que significa essa expressão? Sabemos que o “coração” na Bíblia não indica só uma parte do corpo, mas o centro da pessoa, a sede de suas intenções e de seus julgamentos. Poderíamos dizer: a consciência. “Coração dócil” significa então uma consciência que sabe escutar, que é sensível à voz da verdade, e por isso é capaz de discernir o bem do mal. No caso de Salomão, o pedido está motivado pela responsabilidade de guiar uma nação, Israel, o povo que Deus elegeu para manifestar ao mundo seu desígnio de salvação. O rei de Israel, portanto, deve buscar estar sempre em sintonia com Deus, à escuta de sua Palavra, para guiar seu povo pelos caminhos do Senhor, o caminho da justiça e da paz. Mas o exemplo de Salomão vale para cada homem. Cada um de nós tem uma consciência para ser, em um certo sentido, “rei”, quer dizer, para exercitar a grande dignidade humana de atuar segundo a reta consciência, trabalhando pelo bem e evitando o mal. A consciência moral pressupõe a capacidade de escutar a voz da verdade, de ser dóceis a suas indicações. As pessoas chamadas a tarefas de governo têm, naturalmente, uma responsabilidade ulterior, e portanto – como ensina Salomão – têm ainda mais necessidade da ajuda de Deus. Mas cada um tem de fazer sua própria parte, na situação concreta em que se encontra. Uma mentalidade equivocada nos sugere pedir a Deus coisas ou condições favoráveis; na realidade, a verdadeira qualidade de nossa vida e da vida social depende da reta consciência de cada um, da capacidade de cada um e de todos de reconhecer o bem, separando-o do mal, e de buscar realizá-lo com paciência.
Peçamos por isso a ajuda da Virgem Maria, Sede da Sabedoria. Seu “coração” é perfeitamente “dócil” à vontade do Senhor. Ainda sendo uma pessoa humilde e simples, Maria é uma rainha aos olhos de Deus, e como tal nós a veneramos. Que a Virgem Santa nos ajude também a formar, com a graça de Deus, uma consciência sempre aberta à verdade e sensível à justiça, para servir ao reino de Deus.
ZENIT, 24/07/2011 [Tradução de Alexandre Ribeiro]