Apresentamos, a seguir, as palavras que Bento XVI pronunciou ao meio dia de ontem diante de milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro para a oração do Ângelus.
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Queridos irmãos e irmãs:
O Evangelho deste segundo domingo do Advento (Mt 3,1-12) nos apresenta a figura de São João Batista, o qual, segundo uma célebre profecia de Isaías (cf. 40,3), retirou-se ao deserto da Judeia e, com sua pregação, instou o povo a converter-se para estar preparado para a iminente vinda do Messias. São Gregório Magno comenta que João Batista "prega a reta fé e as boas obras (…) para que a força da graça penetre, a luz da verdade resplandeça, os caminhos até Deus se endireitem e para que nasçam no coração pensamentos honestos após a escuta da Palavra que guia rumo ao bem" (Hom. in Evangelia, XX, 3, CCL 141, 155). O precursor de Jesus, situado entre a Antiga e a Nova Aliança, é como uma estrela que precede a saída do sol, de Cristo, isto é, d’Aquele – segundo outra profecia de Isaías – sobre o qual "há de pousar o espírito do Senhor, espírito de sabedoria e compreensão, espírito de prudência e valentia, espírito de conhecimento e temor do Senhor" (Is 11,2).
No tempo do Advento, também nós somos convidados a escutar a voz de Deus, que ressoa no deserto do mundo por meio das Sagradas Escrituras, especialmente quando são pregadas com a força do Espírito Santo. A fé, de fato, se fortalece quanto mais se deixa iluminar pela Palavra divina, por "tudo – como nos recorda o apóstolo Paulo – o que outrora foi escrito (…) para nossa instrução, para que, pela constância e consolação que nos dão as Escrituras, sejamos firmes na esperança" (Rm 15,4). O modelo da escuta é a Virgem Maria: "Contemplando na Mãe de Deus uma vida modelada totalmente pela Palavra, descobrimo-nos também nós chamados a entrar no mistério da fé, pela qual Cristo vem habitar na nossa vida. Como nos recorda Santo Ambrósio, cada cristão que crê, em certo sentido, concebe e gera em si mesmo o Verbo de Deus" (exortação apostólica Verbum Domini, 28).
Queridos amigos, "nossa salvação se baseia em uma vinda" escreveu Romano Guardini (La santa notte. Dall’Avvento all’Epifania, Brescia 1994, p. 13). "O Salvador veio da liberdade de Deus (…). Assim, a decisão da fé consiste (…) em acolher Aquele que se aproxima" (p. 14). "O Redentor – acrescenta – vem a cada homem: em suas alegrias e tristezas, em seu conhecimento claro e em suas dúvidas e tentações, em tudo o que constitui sua natureza e sua vida" (p. 15).
A Nossa Senhora, em cujo ventre morou o Filho do Altíssimo e que na próxima quarta-feira, 8 de dezembro, celebraremos na solenidade da Imaculada Conceição, pedimos que nos sustente neste caminho especial, para acolher com fé e com amor a vinda do Senhor.
[Depois do Ângelus, disse:]
Neste tempo do Advento, no qual somos convidados a alimentar nossa espera do Senhor e a acolhê-lo no meio de nós, convido-vos a rezar por todas as situações de violência, de intolerância, de sofrimento que existem no mundo, para que a vinda de Jesus traga consolo, reconciliação e paz. Penso nas muitas situações difíceis, como os contínuos atentados ocorridos no Iraque contra cristãos e muçulmanos, nos embates do Egito, em que houve mortos e feridos, nas vítimas de traficantes e criminosos, assim como no drama dos sequestrados da Eritreia e de outras nacionalidades, no deserto do Sinai. O respeito aos direitos de todos é o requisito para a convivência cívica. Que a nossa oração ao Senhor e nossa solidariedade possam levar esperança aos que se encontram em sofrimento.
[Tradução: Aline Banchieri.
© Copyright 2010 – Libreria Editrice Vaticana]