O EVANGELHO de João descreve os encontros que os apóstolos, Maria Madalena e outros discípulos tiveram com Jesus Ressuscitado. Ele se apresenta várias vezes, com as marcas da crucifixão, a fim de abrir de novo seus corações para a alegria e a esperança. Em uma dessas ocasiões, o apóstolo Tomé está ausente. Os outros, que tinham se encontrado com o Senhor, lhe contam essa maravilhosa experiência, querendo decerto transmitir-lhe a mesma alegria. Mas Tomé não consegue aceitar esse testemunho indireto; quer mesmo ver e tocar Jesus pessoalmente.
E é isso que acontece alguns dias depois: Jesus se presenta novamente a um grupo de discípulos, entre os quais finalmente também se encontra Tomé. Por fim este proclama a sua fé, declara pertencer totalmente ao Ressuscitado: “Meu Senhor e meu Deus!” E Jesus lhe responde:
“Bem-aventurados os que não viram e creram!”
Esse Evangelho foi escrito depois que as testemunhas oculares da vida, morte e ressurreição de Jesus já tinham falecido. Para que a mensagem evangélica fosse confiada às gerações seguintes, era inevitável que a sua transmissão se fundasse no testemunho daqueles que, por sua vez, tinham recebido o anúncio. Começa aqui o tempo da Igreja, povo de Deus que continua anunciando a mensagem de Jesus, transmitindo fielmente a Sua palavra e vivendo-a com coerência.
Também foi por causa da palavra e do testemunho de outros que todos nós encontramos Jesus, o Evangelho, a fé cristã, e acreditamos. Por isso “somos bem-aventurados”
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“Bem-aventurados os que não viram e creram!”
Para vivermos essa palavra, lembremo-nos deste convite de Chiara Lubich:
Ele quer imprimir em você e em todos os homens que não conviveram com Ele, a convicção de que possuem a mesma realidade dos Apóstolos. Jesus quer lhe dizer que você não se encontra em desvantagem com relação àqueles que o viram. De fato, você tem a fé, que é, por assim dizer, o novo modo de “ver” Jesus. Pela fé você pode encontrar-se com ele, compreendê-lo profundamente, encontrá-lo no mais íntimo do seu coração. Pela fé você pode descobri-lo entre dois ou mais unidos no Seu nome ou na Igreja que lhe dá continuidade. (…) Essas palavras de Jesus constituem ainda, para você, um apelo no sentido de reavivar a sua fé, de não esperar apoios ou determinados sinais para progredir na sua vida espiritual, de não duvidar da presenta de Cristo na sua vida e na história, mesmo quando Ele pode parecer distante. (…) Ele quer que você acredite no seu amor, ainda que você se encontre em situações difíceis, ou se sinta oprimido pelas circunstâncias absurdas.1
Anne é uma moça australiana que nasceu com uma grave deficiência. Ela nos conta:
Durante a minha adolescência eu me perguntava porque eu não tinha morrido logo, tanto era grande o peso dessa minha deficiência. Meus pais que vivem a Palavra de Vida, sempre me davam a mesma resposta: “Deus a ama imensamente e tem um plano especialmente para você”. Diante das minhas limitações físicas, ajudaram-me a não permitir que as dificuldades me paralisassem, mas ensinaram-me a tomar a iniciativa de amar” os outros como Deus fez conosco. Vi que muitas situações ao me redor mudaram e que muitas pessoas, por sua vez, se mostraram mais abertas com relação não só a mim, mas também aos outros. Recebi de me pai uma mensagem pessoal, a ser aberta só após a sua morte, na qual estava escrita apenas uma frase: “A minha noite não conhece escuridão”. E essa é minha experiência do dia a dia: toda vez que me decido a amar e a servir a quem está ao meu lado, não encontro mais trevas e consigo experimentar o amor que Deus tem para comigo.
Por Leticia Magri
Especialista em matrimônio e família na Pontifícia Universidade Lateranense de Roma. Desde março de 2017 escreve a Palavra de vida como representante de um grupo de membros do Movimento dos Focolares de diferentes idades, culturas e profissões, entre os quais especialistas em exegese bíblica, ecumenismo e comunicação.
1) LUBICH, Chiara, Acreditar sem ver. Palavra de vida, abril de 1980