As cruzes de cada dia – Escrito de Dom Orani João Tempesta, Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro – (RV) – Neste final de semana celebramos a festa da Exaltação da Santa Cruz e no dia seguinte a memória de Nossa Senhora das Dores. São momentos de aprofundar o sentido de nossa presença junto à Cruz de Jesus e também o seu sentido para nossas vidas hoje.
A liturgia vai nos ajudar a ver na Cruz, onde Cristo deu sua vida por nós no alto do Calvário, um sinal que nos convida a crer, a aceita-lo como Senhor de nossas vidas e assim sermos curados dos venenos das víboras do mal que estão ao nosso redor. É o sinal de nossa salvação, transformando, assim, o antigo sinal de condenação e maldição.

Todos os Atos da vida de Cristo são redentores, mas a redenção do gênero humano culmina na Cruz, para a qual o Senhor orienta toda a sua vida: Tenho que receber um batismo, e como me sinto ansioso até que se cumpra, dirá aos seus discípulos a caminho de Jerusalém. Revela-lhes as ânsias irreprimíveis de dar a sua vida por nós, e dá-nos exemplo do seu amor à vontade do Pai morrendo na Cruz. E é na Cruz que a alma alcança a plenitude da identificação com Cristo. Este é o sentido mais profundo que têm os atos de mortificação e penitência.
Para sermos discípulos do Senhor, temos de seguir o seu conselho: “se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16,24). Não é possível seguir o Senhor sem a cruz. As palavras de Jesus Cristo têm plena vigência em todos os tempos, uma vez que foram dirigidas a todos os homens, pois quem não carrega a sua cruz e me segue – diz-nos Ele a cada um – não pode ser discípulo (Lc 14,27).

Carregar a cruz – aceitar a dor e as contrariedades que Deus permite em nossa vida, cumprir os deveres próprios, assumir voluntariamente a mortificação cristã – é condição indispensável para seguir o Mestre.

“Que seria de um Evangelho, de um cristianismo sem Cruz, sem dor, sem o sacrifício da dor? perguntava-se Paulo VI. Seria um Evangelho, um cristianismo sem Redenção, sem Salvação, da qual – devemos reconhecê-lo com plena sinceridade – temos necessidade absoluta. Seria um cristianismo desvirtuado, que não serviria para alcançar o Céu, pois o ‘mundo não pode salvar-se senão por meio da Cruz de Cristo’”. “O Senhor salvou-nos por meio da Cruz; com a sua morte, devolveu-nos a esperança, o direito à Vida” (Paulo VI, Alocução, 24-III-1967).
Unidos ao Senhor, a mortificação voluntária e as mortificações passivas adquirem o seu sentido mais profundo. Não são atos dirigidos primariamente à nossa perfeição, ou uma maneira de suportarmos com paciência as contrariedades dessa vida, mas participação no mistério divino da Redenção.

Aos olhos de alguns, a mortificação pode não passar de loucura ou insensatez, de um resíduo de outras épocas que não combinam com os avanços e o nível cultural do nosso tempo; como também pode ser pedra de escândalo para aqueles que vivem esquecidos de Deus. Mas nenhuma dessas atitudes deve surpreender-nos: São Paulo escrevia que a Cruz é escândalo para os judeus, loucura para os gentios. E mesmo os cristãos, na medida em que perdem o sentido sobrenatural de suas vidas, não conseguem entender que só podemos seguir o Senhor através de uma vida de sacrifício, junto da Cruz.

Os próprios Apóstolos, que seguem o Senhor quando é aclamado pelas multidões, ainda que O amassem profundamente e estivessem dispostos a dar a vida por Ele, não O seguem até o Calvário, pois ainda eram fracos por não terem recebido o Espírito Santo. Há uma diferença muito grande entre seguir o Senhor quando isso não exige muito, e identificar-se plenamente com Ele através das tribulações, pequenas e grandes, de uma vida sacrificada.

O Cristão que vive fugindo sistematicamente do sacrifício, que se revolta com a dor, afasta-se também da santidade e da felicidade que se encontra muito perto da Cruz, muito perto de Cristo Redentor.
O Senhor pede a cada cristão que O siga de perto e, para isso, é necessário acompanha-Lo até o Calvário. Jamais deveríamos esquecer estas palavras: Quem não toma a sua cruz e me segue não é digno de mim. Muito tempo antes de padecer na Cruz, Jesus já tinha dito aos seus seguidores que teriam de carregá-la.

Para nos decidirmos a viver com generosidade a mortificação, convém que compreendamos bem as razões que lhe dão sentido: se muito nos custam as mortificações, é porque ainda não descobrimos ou não entendemos a fundo o seu sentido.
Os motivos que impelem o cristão a ter uma vida mortificada são vários. O primeiro é esse que considerávamos anteriormente: o desejo de nos identificarmos com o Senhor e de segui-Lo nas suas ânsias de redimir por meio da Cruz, oferecendo-se a Si mesmo em sacrifício ao Pai. A nossa mortificação tem, assim, os mesmos fins da Paixão de Cristo e da Santa Missa, e traduz-se numa união cada vez mais plena com a vontade de Deus.

Celebremos a Festa da Santa Cruz com a alegria da salvação e a caminhada na busca da conversão de nossas vidas para sermos testemunhas daquele que morreu na Cruz e hoje está vivo e ressuscitado.
 

Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

(Texto proveniente da página http://pt.radiovaticana.va/news/2014/09/14/as_cruzes_de_cada_dia/bra-825183
do site da Rádio Vaticano)

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