Dom Dadeus Grings, critica ordem da Direção do Hospital de Clínicas da capital gaúcha (HCPA) para o desmonte da capela católica presente no local há mais de 30 anos.
Segundo o arcebispo, a capela surgiu após um pedido formal do próprio hospital. Agora, no entanto, sem notificação alguma à Igreja, os funcionários da entidade receberam ordens para desmontá-la. O que inclui a retirada de todas as imagens e do Santíssimo Sacramento (a Eucaristia) que, como dogma católico, é o próprio Corpo de Jesus Cristo.
O chefe de gabinete da presidência do HCPA, Jair Ferreira, diz que a decisão se baseou no artigo 19 da Constituição, que proíbe órgãos públicos de patrocinar cultos religiosos ou igrejas. O artigo abre exceção para os casos em que haja "a colaboração de interesse público".
Ferreira informa que a capela foi criada como espaço ecumênico, mas era administrada pela Associação Literária Boaventura de Caxias do Sul (RS), um órgão católico, com o qual o HCPA finalizou contrato no dia 1º de junho. "O contrato foi feito, cumprido até o final, mas não foi renovado".
"O espaço será transformado num espaço de espiritualidade que contemple qualquer credo, qualquer religião. Enfim, um espaço espiritual neutro", explica Ferreira.
Para Dom Dadeus, a decisão da Direção do HCPA fere a Constituição e o Acordo firmado entre o Brasil e a Santa Sé no ano passado. "Nesse Acordo se prevê a cessão de espaços públicos para a Igreja Católica. Está previsto. Tirar depois que foi cedido fere o Acordo, onde explicitamente diz que o Estado não vai fechar nenhuma Igreja Católica".
"Se a atual direção do hospital julgasse inoportuna a permanência da capela, não lhe caberia mandar aos seus funcionários desativá-la. Deveria dirigir um ofício à Mitra Arquidiocesana expondo suas razões para um eventual diálogo. É o que não foi feito. A capela é de competência do arcebispo. Mandar descaracterizá-la, tirando-lhe sua característica própria, sem consultar a Mitra, constitui uma afronta", declarou Dom Dadeus em artigo publicado no Jornal do Comércio de Porto Alegre, no dia 1º deste mês.
"O que mais dói no caso do Hospital de Clínicas", de acordo com o arcebispo, "não é o desrespeito para com a Igreja Católica, nem a exclusão das imagens, mas a expulsão de Cristo, presente no sacrário, do seu recinto. Isto não pode deixar ninguém insensível!".
"Até agora, não recebi comunicação. Quando tiver uma notícia oficial, vamos tomar as medidas também. Acho que foi um ato de desrespeito à Igreja Católica", diz Dom Dadeus.
O escritor Percival Puggina, em artigo publicado no dia 4 deste mês no Jornal Zero Hora de Porto Alegre, também critica a decisão do HCPA. "Se 80% da população de um país é católica, desconhecê-lo não é apenas expressão de pouco senso: é agressão a um valor essencial da política e da democracia. É perder o sentido de proporcionalidade essencial à Justiça!"
Fonte: Da Redação CN e Site Diocese Joinville, 07/07/10