Mons. Carlo Gnocchi deu sua vida por feridos e deficientes
Por Carmen Elena Villa
A praça da Catedral em Milão será o cenário da beatificação do sacerdote Carlo Gnocchi (1902-1956), inspirador da fundação que leva seu nome e que presta seu serviço em 28 centros na Itália a homens e mulheres deficientes, anciãos, enfermos de câncer e pessoas em estado vegetativo.
A cerimônia acontecerá às 10h da manhã e estará presidida pelo arcebispo de Milão, cardeal Dionigi Tettamanzi, e contará com a presença do arcebispo Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos e enviado para esta cerimônia pelo Papa Bento XVI.
Mons. Carlo é recordado como um herói da solidariedade com as vítimas da Segunda Guerra Mundial. Chamavam-no "pai dos mutilados" e dos órfãos dos combatentes, devido a que o centro criado por ele atendia para reabilitação pessoas que haviam sofrido fisicamente as consequências da guerra.
Suas palavras têm uma imensa atualidade no século XX: "antes da crise política ou econômica há uma profunda crise moral, mais ainda, uma crise metafísica. Como tal afeta a todos os povos porque toca o homem e seu problema existencial", escrevia em 1946.
ZENIT falou com o postulador para a beatificação de mons. Carlo, Pe. Rodolfo Cosimo Meoli F.S.C., que explicou como sua vida continua fazendo eco no tempo atual.
– Como foi a infância de mons. Carlo?
– Pe. Rodolfo Cosimo: Esteve atravessada por grandes lutas. Seu pai morreu em 1907, quando Carlo tinha apenas 5 anos. Dois anos mais tarde morreu seu irmão Mario, de meningite. Seu irmão mais velho, Andrea, também faleceu, de tuberculose. Carlo ficou sozinho com sua mãe Clementina Pasta. Foi uma mulher valente, apesar de que teve que viver em condições muito difíceis, não só não perdeu a fé em Deus mas chegou a orar desta maneira: "Dois filhos meus eu perdi, Senhor; o terceiro ofereço a ti para que Tu o abençoes e o conserves a teu serviço".
– Em meio a estas circunstâncias, como se deu conta de seu chamado ao sacerdócio?
– Pe. Rodolfo Cosimo: Sua mãe desempenhou um papel fundamental. A graça de Deus e a participação nas atividades paroquiais fizeram o resto. Soube responder às inspirações da graça. Mons. Carlo deu sempre amplas provas disso durante toda sua vida.
– Quais foram suas principais virtudes?
– Pe. Rodolfo Cosimo: Mais que virtudes, eu falaria da "virtude": a caridade, sobre a qual recaem as demais. Também a nobreza. Caridade feita ação, ternura, compaixão, acolhida, disponibilidade…
– Sendo já sacerdote, criou a fundação "Pró-juventude", hoje conhecida legalmente na Itália como a Fundação mons. Carlo Gnocchi Onlus. Como foi esta inspiração?
– Pe. Rodolfo Cosimo: Na guerra foi capelão voluntário. "Um sacerdote não pode não estar onde se morre!", dizia.
Depois, a trágica experiência da retirada da Rússia, fez amadurecer nele o plano concreto de oferecer assistência aos órfãos e a outras muitas vítimas inocentes dos conflitos bélicos: "Desejo e peço ao Senhor uma só coisa: servir todos os dias de minha vida a seus pobres. É esta minha ‘carreira’", escrevia a seu primo. A primeira instituição criada por ele se denominava "Pró-infância mutilada" (1947), a qual se converteu logo na "Fundação Pró-juventude" em 1952.
– Na atualidade, qual é a missão desta fundação?
– Pe. Rodolfo Cosimo: A obra surge com o fim de socorrer os "mutilados da guerra". Logo, com o passar dos anos e sobretudo com o gradual desaparecimento dos mutilados, a obra mons. Carlo ampliou progressivamente as atividades assistenciais.
Hoje os centros da fundação acolhem pacientes com diferentes formas de deficiência, pacientes que têm necessidade de intervenções cirúrgicas e tratamentos de reabilitação. Anciãos que não são auto-suficientes e enfermos de câncer em fase terminal.
– Como acredita que o testemunho de mons. Carlo pode iluminar os sacerdotes neste ano dedicado especialmente a eles?
– Pe. Rodolfo Cosimo: Soube interpretar de maneira superlativa sua vocação: a de ser luz e apoio, força e esperança para todos os que encontrava. Sua vida se consumou pelo bem dos demais. Foi um alter Christus, algo que todo sacerdote, de ontem, de hoje e de sempre, é chamado a viver. Eu aconselharia a todos a leitura meditada de seus escritos e de suas cartas.
– Por que é importante seu testemunho para o século XXI e para a defesa da dignidade humana?
– Pe. Rodolfo Cosimo: Mons. Carlo é o rosto moderno da santidade. Pôs no centro de sua ação o homem, os homens, todos os homens, a força vital do amor, o sonho da fraternidade e da solidariedade universal, sem preconceitos nem exceções.
ZENIT, 23/10/2009